Com esta grande fase de lançamentos de comédias românticas, a Netflix não está perdendo tempo ao rechear o seu catálogo e, agora, resolveu investir em filmes em que a dança é a grande temática. Não vou negar que eu adoro filmes neste estilo, inclusive o streaming acertou com o lançamento de Feel the Beat que é inspirador e um quentinho no coração, mas infelizmente não senti a mesma coisa ao assistir Dançarina Imperfeita (Work It).
O elenco é bom e admiro todos eles de outras produções, a protagonista se garante no filme, mas o roteiro é fraco, não inspira e se perde em alguns momentos, tornando-se contraditório na trama em que está sendo contada. Alguns plots são forçados para que determinada coisa aconteça e o final é muito previsível e um pouco sem graça, o que poderia ser completamente relevado se o desenvolvimento da trama tivesse mais força, como era o esperado. Dançarina Imperfeita é legal, até diverte em alguns pontos, há personagens que se destacam, mas é esquecível. Apenas isso.
Dirigido por Laura Terruso, Dançarina Imperfeita acompanha a personagem Quinn, uma garota extremamente estudiosa, inteligente, que se dedica a inúmeras tarefas, desde grupos de cálculos na escola até ser voluntária em um asilo, tudo isso para enriquecer o seu currículo escolar, a fim de chamar a atenção dos recrutadores da Universidade Duke, afinal é seu grande sonho poder estudar lá assim como o seu pai que, infelizmente, já faleceu.
Na escola, ela ajuda na iluminação para apoiar o grupo de dançarinos Thunderbirds, liderado por Julliard, um estudante bem arrogante, por sinal. Sua melhor amiga Jas faz parte do grupo e sonha também em seguir a carreira de dançarina.
Após um acidente durante os ensaios, a Quinn é expulsa do grupo de apoio e, para complicar a sua situação, ela não é bem-vista aos olhos da recrutadora de Duke, Sra. Ramirez (Michelle Buteau), uma vez que Quinn é muito quadrada e não pensa fora da caixinha, seguindo sempre as mesmas regras de ser a garota certinha em tudo. Na entrevista, a Quinn acaba mentindo ao dizer que faz parte do grupo de dança da escola e, agora, para entrar na universidade, ela realmente vai ter que aprender a dançar se quiser garantir a sua vaga.
Mas há um detalhe: a Quinn não sabe dançar nada e não tem molejo nenhum! Decidida a realizar o seu sonho, ela até tenta se juntar aos Thunderbirds, mas não consegue. Assim, ela decide criar o seu próprio grupo de dança para participar do grande campeonato ‘Work It’. Com isso, ela vai contar com a ajuda da amiga Jas, recrutar novos dançarinos e ainda conseguir a ajuda de Jake Taylor com a coreografia, já que ele é considerado um dos melhores dançarinos da área.
A história de Dançarina Imperfeita até começa bem, com uma boa introdução dos personagens, engatilhando cada um para sua missão que é dançar. Enquanto a Jas larga o grupo experiente para ajudar a amiga e também alcançar o seu próprio reconhecimento na dança – uma vez que o Julliard sempre ofusca todos -, a Quinn se esforça para montar o grupo, convence o Jake a ajudá-los e dedica o seu tempo para treinar, o que a faz largar um pouco os livros e a conhecer um novo mundo.
Mas qual é o problema do filme? Pode ser mais um clichê romântico que não tem problema, se o tal clichê fosse bem trabalhado e, infelizmente, isso não acontece aqui. Para começar, o filme foca bem na protagonista, no objetivo dela aprender a dançar e, o principal, a gente vê a Quinn sair da sua zona de conforto, o que a faz conhecer um novo mundo que estava perto dela e escondido; ela faz novas amizades e ainda tem um possível novo amor vindo em seu caminho, o que é bem legal. Mas são pequenos pontos que ficam superficiais, mas que não atrapalham.
O que realmente se torna fraco no roteiro é a dança, que a grande temática do filme, em que todos os personagens se dedicam, mas é algo que fica jogado no ar. O grande propósito é que o novo grupo treine bastante para participar do campeonato e isso não acontece. Há cenas bobas do treino, que não te convencem que eles vão ser bons dançarinos, especialmente a protagonista que, desde o começo, mostra que não sabe dançar. Além disso, eles só conseguem passar para a próxima fase do campeonato, por mero erro técnico do grupo adversário, o que até foi engraçado, mas, de novo, foi algo muito forçado.
A história perde muito tempo em um grupo que não treina, não explora os outros personagens e ainda tem um coreógrafo que demora para aceitar o desafio e, quando aceita, também não ajuda eles em quase nada. O ator Jordan Fisher dança muito bem no filme, tem uma boa química com a Sabrina Carpenter, ele se encaixa rapidinho com o grupo, mas é apenas isso. Há uma justificativa para o Jake ter parado de dançar, mas não há um desenvolvimento maior que te convença de que o grupo vai seguir em frente.
Além da Quinn que é uma protagonista interessante, outra personagem que chama a atenção e até salva o filme é a Jas, interpretada pela Liza Koshy. Além de dançar super bem e ser muito melhor que o Julliard, a Jas é autêntica, engraçada com suas caras e boca, bem expressiva e diverte a gente quando vai flertar com o garoto da loja de colchões. Mas, novamente, a personagem tem o potencial que o filme não aproveita no momento certo, como por exemplo, ela se reunir com o Jake Taylor e ensinar o grupo a dançar. Há apenas pequenas cenas para mostrar que eles dançam e só. Para complicar ainda mais, há um momento que a Quinn acaba prejudicando a melhor amiga por conta da dança, o que achei mancada.
Por falar em personagens, eu não gostei do Julliard (Keiynan Lonsdale). Adoro o ator, mas o personagem é chato e o típico adversário insuportável que usa da tática de acabar com a autoestima dos outros para se sentir o melhor. Ele não é o melhor dançarino, na minha opinião (a Jas é muito melhor), mas ele entende de técnica e treina bastante, entregando boas cenas coreografadas e com ritmo, comparado ao grupo da Quinn.
Final explicado
O desfecho do filme poderia ser clichê, mas o problema é que as situações foram forçadas e contraditórias para se chegar em um final previsível e sem graça. O grupo participa do campeonato e, magicamente, a Quinn aprende a dançar, sendo que ela passa o filme todo sem dançar direito, muito menos treinando. Outro erro é que o Jake participa do campeonato, sendo que ele é apenas o coreógrafo. Por regra, eles teriam cometido um erro técnico, já que o campeonato permite apenas estudantes e não pessoas já formadas, e o filme fala isso para o telespectador, mas não se importa. Ou seja, eles podem cometer um erro e passar despercebido, afinal, o filme precisa ter um final feliz para todos. Infelizmente isso não convenceu absolutamente em nada.
Dançarina Imperfeita tem um bom elenco, algumas cenas de dança legais e atrativas, mas um roteiro que começa bem e derrapa até o final com contradições e situações que são forçadas para que saia o resultado certo. Como o próprio nome diz, a dança é imperfeita, mas o filme também é e isso não é tão positivo.
Ficha Técnica
Dançarina Imperfeita
Direção: Laura Terruso
Elenco: Sabrina Carpenter, Jordan Fisher, Liza Koshy, Keiynan Lonsdale, Drew Ray Tanner, Michelle Buteau, Drew Ray Tanner, Naomi Snieckus, Teya Wild, Khiyla Aynne, Talia Russo, Seunghwan Min e Nathaniel Scarlette.
Duração: 1h33min
Nota: 5,5