O universo John Wick abre as portas para receber uma nova protagonista que chega chutando com o pé direito. Bailarina é o novo filme de ação que mantém o nível de ótimas sequências de lutas, apresenta uma história simples e bem contada, personagens que se destacam sem roubar os holofotes da anfitriã que, por sinal, deixa sua marca registrada com satisfação nesta franquia.
Há mínimas observações a se fazer, mas, no geral, é aquele filme que sabe entreter e prender a atenção do começo ao fim em uma grande telona. E vou te dizer o porquê.
Com direção de Len Wiseman, Bailarina se passa durante os eventos de John Wick 3: Parabellum, mas antes, o filme leva o público a conhecer as origens da protagonista Eve Macarro que, ainda criança, vive sob a proteção de seu pai Javier (David Castañeda), que guarda um segredo que logo é revelado ao público. Pai e filha são perseguidos por uma seita que não aceita a rejeição daqueles que, um dia, fizeram parte. Além disso, tal comunidade recruta crianças para lutar e proteger o grupo, mantendo este ciclo perigoso.
Tais circunstâncias levam Eve ao encontro de Winston – gerente do Hotel Continental – que lhe promete segurança e um direcionamento melhor na vida, uma vez que a garota apresenta grande potencial. Assim, Eve é levada para Ruska Roma, uma organização que treina homens e mulheres para se tornarem assassinos. O local é comandado pela diretora (Anjelica Huston) ao lado de Nogi (Sharon Duncan-Brewster), responsável pelos treinamentos.

Os anos passam e Eve sente que está preparada para seguir em frente, mas tal decisão não é apenas uma simples escolha. Quando ela é chamada para a sua primeira missão – para o qual sempre fora treinada – Eve é desafiada a colocar o que aprendeu em prática, mas, é neste momento que ela se depara com pistas que levam ao responsável que destruiu sua família.
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Com isso, Eve descobre que segredos foram guardados todos estes anos e, agora, está decidida a ir atrás dos autores que arruinaram o seu passado. Para isso, ela confronta a diretora, pede ajuda a Winston e ao Continental, além de se inspirar na grande lenda Baba Yaga. Mas o que ela desconhece é o grau de periculosidade desta seita, especialmente da crueldade de seu líder, o Chanceler.
O primeiro ponto positivo de Bailarina é apresentar uma história simples, mas que segue uma narrativa congruente e crescente, que se enriquece com as ótimas sequências de ação.
Quem já assistiu aos filmes John Wick, irá notar que a trama se passa durante os eventos do 3º filme, tanto com a aparição de Baba Yaga, mas também a ambientação de Ruska Roma, cenário fundamental para a construção da protagonista e de sua jornada que acompanhamos aqui.
À medida que Eve tem a clareza sobre suas origens, o espectador caminha junto com ela nesta descoberta, enquanto toma conhecimento dos próximos passados que a personagem dará.

E é aí que a ação toma conta de Bailarina do começo ao fim, tornando-se o segundo ponto positivo e o crucial desta trama. O público acompanha os treinamentos de Eve no Ruska Roma, desde os movimentos dolorosos de bailarina; a movimentação correta para derrubar seu oponente em uma luta; a coordenação de cada passo para cair e levantar logo em seguida, sem desistir de imediato; e as diversas maneiras de utilizar objetos a seu favor.
O mais interessante é que vemos, de fato, um filme de ação protagonizado por uma mulher que ‘luta como uma garota’, que cai, é derrubada, levanta, luta novamente, usando das melhores artimanhas, do olhar atento, do movimento certeiro, da postura correta, enquanto a força é apenas aquela alavanca que dá o toque especial no golpe final.
A atriz Ana de Armas foi a escolha certa para este papel e é nítido ver na tela o seu preparo físico durante as lutas. Cada movimento é bem regido, coreografado e performado, em que o público sente cada golpe que Eve dá e leva, sem ter um minuto de paz.
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O mais interessante é que a personagem não aceita ficar somente na defensiva e usa qualquer utensílio a seu favor. Assim, Bailarina entrega sequências de lutas peculiares, arrojadas e originais, bem ao estilo John Wick. Se você se surpreendeu com Wick derrotando seus oponentes com uma caneta ou livro, aqui, Eve também crava a sua marca registrada na franquia.

Prepare-se para vê-la lutar em diversos ângulos e com objetos variados nas mãos, desde lança-chamas, granadas em direção ao alvo, patins de gelo, facas, espadas, armas, entre outros itens. Se tem uma coisa que a protagonista adora fazer é “tacar fogo nos machos’ e Bailarina define tal frase explicitamente em cenas prazerosas de assistir. Além disso, Eve não hesita ao usar a força e o jeito certo para quebrar um braço, uma mandíbula ou perna, mesmo que isso custe também alguns socos no rosto, estômago ou ser jogada de um lado a outro.
Enquanto a missão para encontrar tal seita é destrinchada, Bailarina apresenta os personagens coadjuvantes, em que alguns se destacam e outros ficam a desejar. A participação de Ian McShane como Winston e Lance Reddick como Charon é pequena, mas especial pelo peso e a nostalgia de fazerem parte desta história por anos.

Bailarina conta também com a ilustre participação de Keanu Reeves como o eterno John Wick, cuja aparição ocorre no começo e na reta final, não ofusca a protagonista, mas brilha no timing certo, com o medo que exala nos outros apenas com sua presença. Corajoso aquele que o enfrenta, dando o gosto ao espectador de ver Baba Yaga em ação novamente.
A conexão de John Wick e Eve Macarro é feita por passados similares, o que faz Wick compreender as atitudes de Eve, levando-o a abrir o caminho para que ela execute a missão dentro do prazo estipulado.
Bailarina conta com um vilão satisfatório e Gabriel Byrne entrega um líder cruel, cuja seita não aceita forasteiros e mantém os seus habitantes presos em uma comunidade perigosa. Aquele que tenta sair e ir em busca de uma vida independente e pacífica, sofre as piores consequências possíveis. O embate entre ele e Eve é apenas a cereja no topo do bolo, mas o prazer está em ver a protagonista lutar contra uma cidade toda, o que faz com que verdades sobre o passado pipoquem aos poucos.

Infelizmente, para mim, a maior decepção fica para o personagem Daniel Pine, interpretado por Norman Reedus, cuja expectativa é alimentada justamente por vermos um ator de substância ser pouco aproveitado aqui. As sequências de luta em que participa dentro do Hotel Continental são ótimas.
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Mas o que chama a atenção é a conexão entre Eve e Daniel justamente pela protagonista ver a sua história se repetir com o enigmático rapaz. No entanto, a participação de Norman Reedus se reduz a cena no Continental e o desfecho, sendo que existe um background interessante, que é apontado no filme, mas não é explorado. Sim, Eve é a protagonista e era possível dar mais espaço ao Daniel, sem que um personagem ofuscasse o outro.
Considerações finais

A reta final se torna um grande evento destruidor com a protagonista na mira de John Wick, enquanto o tic tac do relógio cronometra o desfecho de sua missão com sucesso, mas temporário. O vespeiro é cutucado e há um preço a se pagar, colocando Eve Macarro como o alvo da vez.
Assim, Bailarina se encerra bem, mas com portas abertas para uma possível sequência, pois ainda há mais histórias para contar, se quiserem.
Bailarina é um acerto como derivado do universo de John Wick ao trazer uma personagem à altura, que segura as rédeas do protagonismo com firmeza; a história de origem é simples e bem contada; as sequências de lutas são bem coreografadas, aproveitando dos bons elementos deste universo compartilhado, com personagens veteranos de peso, enquanto os novos se firmam ou ficam um pouco a desejar.
Bailarina é aquele filme de ação prazeroso de assistir do começo ao fim.
Ficha Técnica
Bailarina
Direção: Len Wiseman
Elenco: Ana de Armas, Keanu Reeves, Gabriel Byrne, Norman Reedus, Ian McShane, Anjelica Huston, Catalina Sandino Moreno, Sharon Duncan-Brewster, Lance Reddick, Ava Joyce McCarthy, Juliet Doherty, David Castañeda, Victoria Comte, Robert Maaser, e Marc Cram.
Duração: 2h5min
Nota: 3,3/5,0