As Panteras (Charlies Angels) ganha uma nova versão que não fica a desejar, seja pelo trio de angels cuja química funciona bem; uma ótima direção e cenários reluzentes e charmosos; cenas exageradas, mas que não comprometem em nada; uma dose de alívios cômicos bem pontuados e sem forçar a graça; e, é claro, um grupo de mulheres que lutam (literal e figurativamente) é sempre bom de assistir, além de ser hipnotizante. As Panteras é divertido, agradável, empoderador e badass. Um filme que dá para assistir várias vezes sem enjoar.
Dirigido e roteirizado por Elizabeth Banks, a serviço do misterioso Charles Townsend, As Panteras sempre proveram segurança e suas habilidades de investigação para clientes particulares, e agora a agência Townsend tem atuação internacional: as mais espertas, destemidas e altamente treinadas agentes em todo o globo formam múltiplos times de Panteras guiados por múltiplos Bosleys e estão prontas para atuar nos trabalhos mais difíceis ao redor do mundo. Quando uma jovem engenheira de sistemas soa o alarme a respeito de uma perigosa tecnologia; as Panteras são chamadas à ação, e colocam suas vidas em risco para nos proteger a todos.
Antes de mais nada, As Panteras faz uma nostálgica homenagem aos filmes anteriores e a série, relembrando as panteras de Cameron Diaz, Drew Barrymore e Lucy Liu, além das veteranas Farrah Fawcett, Jaclyn Smith, Kate Jackson, Cheryl Ladd e outros da série de televisão. Relembrar tais momentos não só reforça o grupo forte liderado por mulheres ao longo dos anos, como também enfatiza a essência das panteras nutrida por décadas.
Crítica: Um Dia de Chuva em Nova York
Sem perder tempo, o filme logo apresenta Sabina e Jane, em missão no Rio de Janeiro para capturar um corrupto australiano. A cena tem como função já indicar as habilidades e a personalidade de cada uma a fim de dar uma introdução ao público do que esperar ao longo da história. Junto a elas conhecemos um dos Bosleys, interpretado por Patrick Stewart, em sua última missão, pois está de partida da Agência Towsend para curtir a tão esperada aposentadoria. Este primeiro ato revela que as panteras nem sempre trabalham juntas, uma vez que Sabina e Jane se conhecem pela primeira vez e não apresentam tanta afinidade.
Mesmo opostas, o trabalho de ambas é formidável e, assim, elas são recrutadas para uma nova missão: ir atrás da empresa responsável pela construção da tecnologia Calisto, que controla a eletricidade e energia dos locais sem utilizar necessariamente e energia elétrica usual. No entanto, a engenheira de sistemas Elena descobre falcatruas e um esquema que pode colocar a cidade e, até mesmo, o planeta em grande risco. Agora, cabe a dupla ir atrás para impedir, mas, para isso, elas irão contar com a ajuda imprevisível de Elena, que conhece um mundo investigativo completamente novo e surreal aos seus olhos.
Para falar de As Panteras é imprescindível se referir às protagonistas que, na minha opinião, entregam uma boa performance. Kristen Stewart surpreende por entregar uma interpretação que a faz sair da sua zona de conforto. Sabina Wilson é sarcástica, habilidosa nas palavras, envolvente com o corpo e o olhar para atrair o seu alvo, raivosa na hora de lutar e extremamente corajosa por ir atrás sem filtrar as consequências, mesmo sabendo o risco que terá. É esfomeada e irritante por falar demais, mas ainda assim conquista o espectador com características formidáveis que não enjoam, entediam, muito menos, irritam.
A grata surpresa é conhecer, pela primeira vez, o trabalho da atriz Ella Balinska, que acerta de primeira em sua performance como Jane Kano. A nova pantera é uma ex-agente do MI6, contratada pela agência Townsend por ter um talento inato. De todas, ela é a mais badass, que não foge de uma boa luta. Jane é sociável por conta do seu trabalho, mas é mais introspectiva, revela pouco sobre sua vida e tem uma aproximação mais limitada com as pessoas. No entanto, é Sabina e Elena que quebram tal estrutura gélida da personagem, fazendo o público conhecer uma Jane com sentimentos e que se importa com quem está ao seu lado. Um exemplo disso, é sua aproximação com um dos Bosleys, interpretado por Djimon Hounson.
Naomi Scott está em seu melhor ano na carreira, pelo sucesso na live-action Aladdin e, agora, em As Panteras. Engenheira de sistemas, inteligente e hacker, Elena Houglin entra em um mundo na qual nunca imaginou que estaria. O ponto positivo da sua interpretação é que a atriz entrega uma personagem deslumbrada com este novo cenário e sua mais nova profissão, sem exageros e, ao mesmo tempo, com os pés no chão. Entendem o que eu quero dizer? Elena tem o seu talento, mas se dispõe a aprender os truques e as regras das panteras, desde utilizar a roupa certa disponível no closet dos sonhos de qualquer garota/mulher, até o manuseio de armas, seja um atirador de dardos tranquilizantes, ou ‘balinhas de menta’ para adormecer o inimigo.
Além de diretora e roteirista, Elizabeth Banks também está em ação como um dos Bosleys que, por sinal, comanda a atual missão das panteras. Banks entrega uma bosley inteligente, afiada, mais neutra e misteriosa e tal mistério tem uma razão que faz o filme ganhar boas reviravoltas.
O quarteto tem boa química do começo ao fim e tanto as performances quanto a personalidade de cada uma são desafiadas durante os conflitos e as armadilhas que enfrentam ao lidar com a empresa de tecnologia perigosa; o chefe empresário Peter Fleming (Nat Faxon), um homem presunçoso e sonso, uma vez que não sabe onde está pisando e com quem está lidando; o dono da nova tecnologia Calisto, Alexander Brock que, por sinal, ganha uma performance hilária de Sam Claflin; o perigoso Hodak (Jonathan Tucker) e o irritante e duas caras Jonny Smith (Chris Pang).
Infelizmente o ator Noah Centíneo tem pouquíssima participação no filme como o engenheiro Langston, o que engana aqueles que acreditaram que ele teria um espaço maior no filme. De fato, até poderia ter tido cenas a mais, o que era possível, mas ainda assim ele diverte ao flertar com Jane, deixando uma situação constrangedora e fofa ao mesmo tempo. Mas é apenas isso.
Outro ponto que As Panteras sabe trabalhar são os plots twists e, acredite, o filme sabe enganar bem o olhar do espectador fazendo-o acreditar em uma coisa e mudando o percurso quando o público menos esperar. As reviravoltas iniciam com detalhes mínimos que engrandecem na medida certa e dão um bom tempero ao filme. As cenas de ação são propositalmente exageradas – nos momentos de luta, perseguição, explosões e muitos tiros – mas que não prejudicam em nada, pelo contrário, dão um gás ao filme e desafiam ainda mais as personagens. Inclusive, a indireta que o longa dá para Velozes e Furiosos é sensacional.
O desfecho reúne todos os personagens entregando boas revelações, participações especiais nas cenas pós-créditos que muitos vão curtir, especialmente os fãs de luta, Riverdale, Orange Is The New Black e A Escolha Perfeita e um novo começo para as novas panteras que, por sinal, ainda nos dá a possibilidade de termos um segundo filme, o que não é uma má ideia.
As Panteras entrega uma versão mais fresh, reforçando a essência e o empoderamento das panteras mais famosas do cinema e da televisão, um trio de protagonistas que cativa e entrega uma ótima química, uma direção eficiente, cenários bonitos das cidades por onde passam, boas reviravoltas, alívios cômicos na medida certa e diálogos simples e divertidos. As Panteras reforça o lado positivo de ver uma mulher frente a uma boa luta. E como é bom ver isso.
PS: Quem for assistir vai conhecer o Santo, o melhor personagem do filme.
Ficha Técnica
As Panteras
Direção e roteiro: Elizabeth Banks
Elenco: Kristen Stewart, Naomi Scott, Ella Balinska, Elizabeth Banks, Patrick Stewart, Djimon Hounson, Sam Claflin, Noah Centíneo, Nat Faxon, Jonathan Tucker, Chris Pang, Luis Gerardo Méndez e David Shutter.
Duração: 1h58min
Nota: 8,0