Bom Dia Verônica é a mais nova série brasileira da Netflix que começa com o pé direito. Além de um ótimo elenco, a série traz uma temática difícil sobre uma realidade que, infelizmente, o Brasil vive constantemente: violência doméstica, estupro e feminicídio. Neste texto vou trazer minhas primeiras impressões baseadas nos três primeiros episódios que assisti. Não entrarei em muitos detalhes para não dar spoilers, mas também porque ainda não vi o restante da temporada. Mas posso adiantar que a série te instiga para assistir um episódio atrás do outro com uma história boa e assustadora.
Se preferir, você pode conferir a crítica em texto ou vídeo.
A série é baseada no livro Bom Dia Verônica, da criminóloga Ilana Casoy e do escritor Raphael Montes que, anteriormente, se apresentaram com o pseudônimo de Andrea Killmore. Agora, com suas identidades reveladas, eles também contribuíram na produção e adaptação do livro para a TV em um roteiro escrito pelos dois ao lado de outros roteiristas.
A direção geral é de José Henrique Fonseca e aqui temos episódios de 40 a 50 minutos aproximadamente, que prende a sua atenção com um suspense que vai se destrinchando aos poucos. Ou seja, tanto a história da protagonista quanto os casos em que ela investiga são desenvolvidos parte a parte a fim de prender a atenção do espectador para causar angústia e desespero, mas no bom sentido, afinal é uma história que merece ser bem contada e, até aonde eu assisti, está sendo bem construída.
Ratched: vale a pena assistir a nova série da Netflix?
Na trama, o público conhece Verônica Torres (Tainá Muller), escrivã da Delegacia de Homicídios de São Paulo. Em um dia normal de trabalho, ela presencia dois acontecimentos na delegacia: a tentativa de um pai matar o homem que estuprou e matou a filha; e, logo em seguida, o suicídio de Marta Campos, uma mulher que foi denunciar sobre o golpe do ‘Boa Noite, Cinderela’ que ela sofreu. Do dia para a noite, a Verônica se vê em uma caçada arriscada e enigmática.
Com a trama de Marta Campos explodindo em meio a imprensa e no colo do delegado Carvana, Verônica vê a chance de colocar seus dons da investigação em prática, e pede uma oportunidade para investigar a situação e colocar o verdadeiro culpado na cadeia. Junto a isso, ela se dispõe a ajudar as mulheres que sofrem da mesma situação, ou até pior.
Paralelamente ao caso de Marta Campos, Verônica recebe uma repentina ligação de Janete (Camila Morgado), que faz uma denúncia brusca e arrebatadora: ela revela que seu marido, além de ser violento, gosta de matar mulheres, e acredita que ela será a próxima vítima em pouco tempo.
Assim, os três primeiros episódios discorrem estes dois casos, em que um ganha uma repercussão estrondosa na mídia, a fim de que seja solucionado o quanto antes, enquanto o outro caminha a pequenos passos, revelando ser algo ainda mais perigoso do que se imagina.
De um lado, vemos Verônica encabeçar o caso de Marta Campos, investigando cada passo da vítima, a rotina e as circunstâncias que a levaram a conhecer o culpado, desde a depressão até o seu envolvimento com o rapaz que conheceu em um site de relacionamento, aplicando golpes e deixando marcas profundas nas mulheres que cruzam seu caminho.
Do outro lado, vemos Verônica investigar por debaixo dos panos o caso de Janete que, pelo olhar da própria vítima, conhecemos seu marido Brandão (Eduardo Moscovis), policial da PM, condecorado e sem precedentes criminais que o tornam um bom civil. Mas por baixo do uniforme de autoridade e entre quatro paredes, ele mostra ser um grande monstro na qual será difícil revelar a sua verdadeira faceta.
Brandão e Janete conheceram há anos e foram morar em São Paulo prometendo uma vida bonita para sua esposa. Mas aos poucos, ele vai revelando quem ele é ao deixar Janete completamente submissa a ele. A esposa é afastada da família, não tem amigos, não pode sair na rua sozinha, não tem celular e nem acesso à internet; precisa ter cuidado com tudo o que fala ou faz, pois, qualquer palavra ou olhar atravessado é o suficiente para despertar o lado macabro de Brandão, que não mede esforços para humilhar Janete o tempo todo.
Mas a situação é ainda pior: Brandão é assassino e sente prazer em matar mulheres. Seu modus operandi funciona da seguinte forma: com a ajuda forçada de Janete, eles atraem mulheres do Norte e Nordeste que chegam em São Paulo à procura de emprego e uma vida melhor. Inocentes, elas caem na lábia da dupla, que prometem emprego e teto. Assim, Brandão sequestra a vítima e dá início a um ritual macabro.
Ao ver a divulgação do livro e da série você não entende direito o significado da caixa na cabeça da personagem, mas assim que você começa a assistir, a série não perde tempo e já entrega exatamente o significado disso. É pelo olhar de Janete que o público compreende o que Brandão faz com as vítimas, só que o ponto de vista de Janete é ainda embassado, já que ela não consegue ver exatamente o que o marido faz, apenas escuta e sente o cheiro das coisas para chegar a alguma dedução, o que torna a situação ainda mais sombria.
Não dá para dizer mais coisas, até porque eu ainda não vi o resto da série, mas já é o suficiente para dizer que Bom Dia Verônica tem tudo para dar certo e ganhar um desenvolvimento bom e um desfecho arrebatador. Se vai ser assim, eu não sei, mas espero não me decepcionar.
Enquanto o público acompanha o desenrolar destes dois casos, aos poucos, a série vai destrinchando as camadas da protagonista, em que descobrimos a razão para ela trabalhar na delegacia, a sua relação com o marido e os filhos e o que aconteceu no passado que deixou marcas e traumas em sua vida. Tudo isso vai afetar, de alguma forma, como a protagonista vai lidar com os casos e como ela vai enxergar as vítimas, além de mostrar quem realmente ajuda e atrapalha nessas ocasiões.
Em Bom Dia Verônica, os destaques são para Tainá Muller, Camila Morgado e Eduardo Moscovis que entregam o triângulo do thriller (acabei de inventar) que vai trazer mistério, investigação, medo, insegurança e tirar o fôlego.
Antônio Grassi interpreta o delegado Carvana que, a princípio, não fede e nem cheira, ou seja, ele dá espaço para que Verônica investigue, ao mesmo tempo, em que ele tenta freá-la, uma vez que seu histórico não é um dos bons.
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Na minha opinião, uma personagem que fica muito a desejar é a delegada Anita (Elisa Volpatto), que acaba trazendo mais desserviço do que ajuda. Ela é aquela delegada que não acredita na vítima, menospreza o sofrimento da pessoa ao estar ali tentando fazer a denúncia e tenta resolver as situações colocando a poeira debaixo do tapete. Ela é até boa para preparar armadilhas, mas não gosto da forma como ela lida com as vítimas. Ela e Verônica batem de frente o tempo todo e, acredito, que em algum momento, a Anita pode se tornar um grande obstáculo para a protagonista.
Considerações finais
Bom Dia Verônica é uma série brasileira que mergulha no gênero thriller para contar uma história em que crime real e ficção se misturam. É uma trama que mergulha em assuntos que repercutem constantemente na mídia como violência doméstica, estupro, golpe e feminicídio, que vai prender a sua atenção. Agora, é torcer para que esta temporada tenha um bom final. Vale a pena dar uma chance? Sim, vale! As produções brasileiras estão cada vez melhores e esta não fica para trás.
Ficha Técnica
Bom Dia Verônica
Criado por: Ilana Casoy e Raphael Montes
Direção geral: José Henrique Fonseca
Elenco: Tainá Muller, Camila Morgado, Eduardo Moscovis, Antônio Grassi, Elisa Volpatto, Silvio Guidane, César Melo e Adriano Garib.
Nota: 7,5 (três primeiros episódios)