A Netflix se despede de uma das séries mais fofas, contemplativas e bonitas que seu catálogo já teve. Atypical chegou em 2017 trazendo a história de Sam, um garoto dentro do espectro autista com os seus novos desafios e a forma de enxergar o mundo a sua volta que não é diferente, apenas é atípico. A série da adeus em sua 4ª temporada de forma simples, bonita e emotiva, revelando uma evolução positiva de seus personagens carismáticos e seus próximos passos. É o final, mas não é o fim desta jornada incrível.
Com oito episódios de 30 minutos, Atypical retorna para entregar o desfecho sobre a família Gardner, mergulhando mais uma vez nas dificuldades de cada um e a forma como eles superam seus obstáculos com um olhar leve e inspirador. Se na temporada passada, Sam conseguiu dar um passo importante que foi o ingresso para a universidade, agora, o garoto dará mais um passo fundamental em sua vida: morar sozinho.
******CONTÊM SPOILERS******
Nova jornada, novos caminhos

Claro que a série não deixa de lado as dificuldades que o Sam enfrenta por conta da sua condição, e a trama trabalha este ponto de forma evolutiva à medida que o protagonista supera seus medos, conquistando não só sua independência, mas também se adaptando ainda melhor entre as pessoas. Da 1ª até a última temporada, vemos Sam evoluir socialmente e os episódios finais provam o quanto o garoto progrediu, seja com suas amizades na universidade, sair de casa, o namoro com Paige, o foco nos estudos, a aproximação com Casey, o fortalecimento da amizade com Zahid e a confiança de seus pais para dar um passo ainda mais importante.
Atypical: amizade, faculdade e cuidado marcam a 3ª temporada
Atypical prova que, mesmo sob o espectro autista, a pessoa pode sonhar e querer mais para si, e é exatamente isso que Sam faz ao decidir realizar o seu grande objetivo de viajar para Antártida e conhecer o local que sempre esteve presente no seu cotidiano. Pode parecer um ideal inalcançável, mas a série consegue firmar esta ideia de forma realista, trabalhando as dificuldades do personagem ao se adaptar às novas comidas, ao clima, ao convívio social, entre outros, revelando um Sam mais apto às mudanças e manias, quebrando mais algumas de suas barreiras, o que é algo satisfatório de acompanhar.
Junto a sua nova aventura, Atypical também amarra as pontas com relação a outros fatores importantes na vida de Sam, como o namoro com Paige que, mais uma vez, surpreende. Mesmo sintonizados, cada um tem seus objetivos que os levam para caminhos opostos, o que deixa Paige receosa não só por Sam e a relação, mas também por si mesma, afinal, na 3ª temporada a vemos largar a faculdade por se sentir solitária e fora da zona de conforto e voltar à estaca zero. O que parece ser um retrocesso, os novos passos da Paige acabam se tornando um jeito de fazer uma curva para seu novo destino, o que faz a personagem encontrar sua verdadeira vocação. Aliás, preciso ressaltar que a última temporada de Atypical entrega uma cena hilária de Paige fazendo a dança do acasalamento dos pinguins para o Sam. Este momento é simplesmente sensacional.
Amizade para sempre

Uma das ótimas interações entre personagens de Atypical, sem dúvida, é de Sam e Zahid e, obviamente, a série não poderia deixar de dar um final bonito para esta dupla. No entanto, o público se assusta quando a trama anuncia a doença de Zahid – câncer – o que dá a entender que o pior pode acontecer. Felizmente, a série não vai para este caminho, optando em fortalecer ainda mais essa amizade diante deste problema, uma vez que Sam demonstra fidelidade à Zahid e comprometimento em não deixá-lo sozinho em um momento difícil, assim como o protagonista sempre teve o amigo ao seu lado em todas as ocasiões.
Claro que a adaptação de morarem juntos é uma pequena montanha russa em que cada um precisa aceitar as manias de ambos e impor pequenas regras de convivência, um ponto que a série desenvolve com bom humor e os personagens superam com leveza. E não se preocupem, pois Zahid fica bem no final da série.
Destino de Casey

Outra personagem que roubou nossos corações desde a 1ª temporada de Atypical é a Casey. Desde a 3ª temporada, vemos a personagem passar por grandes mudanças e adaptações, seja a nova escola, o amor pela corrida e a descoberta da sua sexualidade. Nesta 4ª temporada, vemos Casey mergulhar de cabeça em tudo, o que eleva a sua ansiedade, deixando a garota completamente pressionada em tudo o que faz, já que todos esperam que ela seja a melhor.
Por conta dessa pressão, Casey se sente paralisada, realizando todas as suas tarefas no automático, o que a faz reavaliar o que realmente vale a pena continuar. Às vezes, é necessário desistir para relembrar o que a motiva, um ponto que faz o público compreender a decisão de Casey em parar de correr e sair do colégio, um lugar onde ela não encontrou espaço para ser ela mesma. A verdade é que a paixão pela corrida ainda existe, era a pressão que tornava o agradável em mera obrigação. Por conta disso, vemos a personagem dar um passo para trás a fim de reencontrar a felicidade e adquirir o seu próprio espaço. Assim, Casey retorna para sua antiga escola e volta a correr por amor ao esporte.
Crítica da 2ª temporada de Atypical
Outro ponto positivo é que Casey se aproxima muito mais de Elsa, fortalecendo a relação de mãe e filha que sempre vivia balançada desde a 1ª temporada. As provocações engraçadas ainda continuam, mas o relacionamento de ambas finalmente se firma em que uma apoia a outra. Inclusive, Elsa incentiva Casey a sair de casa e ir para a universidade que sempre sonhou a fim de conquistar a sua independência e o seu espaço.
O relacionamento com a Izzie também se fortalece, mas ainda assim passa por altos e baixos, uma vez que a Casey conta a verdade sobre seu namoro ao pai que, por sinal, aceita bem a sexualidade da filha, mas mantém certa desconfiança com a Izzie, um ponto que estremece a relação de pai e filha em um dado momento da temporada. Claro que, por ser a temporada final, a série não deixaria esta ponta solta, muito menos uma relação conturbada, mas mesmo que o pai e Casey façam as pazes, ainda fica uma atmosfera de incerteza com relação ao Doug gostar de Izzie. Na minha opinião, acredito que ele ainda tem as suas dúvidas com relação à namorada de Casey.
De fato, em alguns momentos, Izzie demonstra diminuir a autoestima de Casey – como na cena da festa em que ela caçoa a namorada por fazer as coisas certas e ser bem vista na escola, o que deixa a ansiedade de Casey ainda mais alta. No entanto, quando a série revela o outro lado da vida de Izzie, em casa, o público passa a entendê-la melhor, já que ela não tem o apoio da mãe – que não acredita no potencial da filha – além de carregar uma responsabilidade maternal pela irmã desde cedo, uma vez que a mãe tem problemas com álcool.
Mas mesmo entre altos e baixos, Casey e Izzie se reconectam em que uma encontra o apoio na outra, fortalecendo ainda mais a relação.
Ninho vazio?

Com as mudanças na vida dos filhos, Elsa e Doug precisam se adaptar ao novo, dando início a síndrome do ninho vazio, especialmente para a mãe, uma vez que sempre foi protetora com os dois, principalmente com Sam. No entanto, a última temporada de Atypical também prova e evolução dos personagens adultos diante do novo, em que vemos Elsa aceitar a independência do filho e as novas decisões da filha, o que fortalece ainda mais esta relação familiar. Já o casamento de Doug e Elsa finalmente fica estável em que ambos perdoam pelos erros cometidos, desejando ter apenas uma rotina tranquila daqui para frente.
Mas claro que a série ainda traria uma pitada a mais de problema, desta vez para Doug que, infelizmente, perde o melhor amigo Chuck. O luto faz Doug repensar sobre a amizade e a família, especialmente no início quando ele abandona Elsa por não conseguir lidar com o problema do Sam, retornando para casa meses depois. Isso faz o personagem tomar decisões fundamentais não só para si, mas também para compensar os erros cometidos no passado.
Final contemplativo

O último episódio de Atypical é um dos mais contemplativos, entregando um desfecho simples, bonito, emocionante e feliz para todos os personagens. Para a alegria de todos, Zahid passa por uma cirurgia e fica bem de saúde, o que fortalece ainda mais a amizade com Sam que, por sinal, torna o melhor amigo o padrinho da tartaruga Edson. É claro que o lado galanteador de Zahid ainda existe, mas sofre algumas mudanças fazendo o personagem enxergar que está pronto para ter um relacionamento estável.
Crítica: Rua do Medo Parte 1: 1994
Após uma série de mudanças em sua vida, Casey finalmente se reencontra e volta a correr por amor e a estudar na antiga escola, mas sem desistir do sonho de ir para a universidade da Califórnia (UCLA), incentivada pela mãe. Além disso, o namoro com Izzie se mantém forte, assim como a relação com os pais e o irmão, o ponto alto da série em todas as temporadas.
O que era para ser algo triste, se torna uma cena bonita e singela. Paige e Sam terminam o namoro de forma pacífica, não porque o amor entre eles acabou, mas justamente por se gostarem é que cada um aceita e apoia a felicidade de ambos, mesmo que os caminhos sejam opostos. Enquanto Sam prepara as malas rumo à Antártida, Paige aceita o emprego em outro Estado, pronta para iniciar uma nova direção em sua vida.
Mesmo com o programa de viagem cancelado, Sam decide ir para Antártida por conta própria, mas não irá sozinho. Doug finalmente recebe as tão merecidas férias e decide viajar com o filho. Acredito que esta foi a forma que o pai encontrou para corrigir os erros do passado e recompensar o tempo que ficou longe de Sam quando era pequeno.
Atypical encerra a jornada da família Gardner e dos demais personagens de forma satisfatória e feliz, mostrando que este não é o final de tudo e, sim, o começo de uma nova etapa para todos.
Ficha Técnica
Atypical
Criação: Robia Rashid
Elenco: Jennifer Jason Leigh, Keir Gilchrist, Brigette Lundy-Paine, Michael Rappaport, Jenna Boyd, Graham Rogers, Nik Dodani, Fivel Stewart e Sarah Gilbert.
Duração: Oito episódios (30 min aprox.)
Nota: 8,9