Mais uma temporada de The Resident chega ao fim e a série médica já está garantida para mais um ano de muita correria e novos casos pelos corredores do Hospital Chastain. No geral, a temporada foi boa, mas deu leves derrapadas por, muitas vezes, entregar desfechos rápidos e previsíveis, trabalhando bem no desenvolvimento e finalizando de forma abrupta e sem surpresas. Este é um ponto que os roteiristas devem trabalhar melhor para que o programa não corra risco de entrar na bolha de cancelamento, uma vez que os canais não estão mais perdoando os altos e baixos de suas séries. Mas afinal, quais foram os momentos marcantes da 2ª temporada?

Após o encerramento do arco Dra. Lane Hunter com sua morte trágica, The Resident ganha um antagonista diferente, uma empresa fornecedora de equipamentos médicos e soluções em alta tecnologia que vira a grande vilã do hospital. Novamente, temos um arco em que a negligência médica cresce e se expande (um dos assuntos principais da série) à medida que coloca a saúde de suas vítimas em último plano a fim de obter apenas lucro em cima de qualquer vida. A empresa Quovadis deu o que falar e, muitas vezes, encurralou os personagens e tornou as situações ainda mais angustiantes, principalmente por saber que o CEO era capaz de até matar para garantir a reputação da marca. Foi muito bom acompanhar essa briga, pois ela revelou personalidades positivas, caráter duvidoso e transformações inesperadas de certos personagens. Porém, o desfecho deste caos foi rápido e previsível: a armadilha preparada pelos médicos de Chastain faz a empresa inimiga falir rapidamente e, consequentemente, o CEO acaba morrendo em uma perseguição de carro com a polícia.

Após isso, o arco se encerra e o assunto é reduzido a pequenos comentários, diminuindo toda a repercussão causada até a metade da 2ª temporada. Outro ponto que fica a desejar é o reaparecimento da personagem Julian Booth, que sofreu um acidente provocado pela Quovadis ao final da 1ª temporada. Julian retorna ao hospital como se nada tivesse acontecido, dando a justificativa que estava escondida na casa de seus pais todo esse tempo. Por acaso, ninguém pensou em contatar seus familiares? O personagem Dr. Devon Pravesh passa boa parte do tempo em sua busca, mas com essa ‘solução’, todo o seu esforço é em vão. Aliás, o plot romântico dos dois também fica em stand by, uma vez que Julian inicia uma parceria com o pai de Conrad para abrir uma ONG para ajudar as pessoas vítimas da Quovadis. Toda a trama é bem desenvolvida e, por isso, merecia um desfecho mais digno.
Males positivos

Há males que vem para o bem e os problemas causados pela Quovadis trouxeram transformações inesperadas, como é o caso de Conrad e seu pai. Além da saúde debilidade do patriarca, o conflito com a empresa vilã fez Conrad entender melhor o pai, compreender algumas pontas soltas do seu passado e quebrar a barreira que os separavam. A reaproximação dos dois dá a chance de o pai do protagonista retornar mais vezes para novos casos, seja no hospital ou na vida do filho. Além disso, Conrad consegue minimizar um dos seus problemas que o faz seguir em frente mais amadurecido.
Quem também sofre uma transformação radical é Dr. Bell que, visto como vilão na primeira temporada, ganha uma roupagem mais humanizada a partir do momento em que luta para retirar a sombra do Quovadis do hospital e se aproxima da ortopedista Dra. Kit Voss, recentemente introduzida na série e tornando-se um ponto positivo à história. Tal aproximação faz o médico retornar às salas cirúrgicas e a ser um ouvinte mais solidário diante das situações que aparecem no hospital. No entanto, a trama esquece completamente do problema que ele tem nas mãos que, muitas vezes, o impediu de pegar no bisturi. Falha no roteiro ou um esquecimento proposital?
Relação estremecida

Nic e Conrad é aquele casal que você já torce desde o primeiro episódio, no entanto, a 2ª temporada força uma separação nada convincente e discussões sem argumentos mais aprofundados, fazendo o telespectador não compreender a razão do casal estar em uma situação vulnerável. Enquanto Conrad está convicto de que quer dar mais um passo, a enfermeira quer continuar a relação, mas teme em amadurecê-la, seja morando juntos ou casando. Nic tem o total direito de refletir melhor antes de fazer qualquer escolha, assim como Conrad, no entanto, a trama não entrega uma contextualização mais sólida para as discussões, fazendo o espectador acompanhar brigas repentinas sem saber claramente se eles estavam se separando ou não a cada episódio. No final das contas, Nic acaba abrindo o jogo sobre seus medos e concretiza a relação com Conrad, fazendo os dois caminharem juntos e aos poucos no relacionamento. Ainda Vale a pena torcer pelo casal, mas a trama precisa trabalhar melhor em futuras discussões sobre essa relação.

Outro ponto esquecido é o arco sobre a abertura da nova clínica para atender pacientes sem convênio. A ideia é muito boa, no entanto, o local torna-se um cenário apagado, usado pouquíssimas vezes para atender os pacientes, não ganha nenhum plot interessante, perdendo completamente o seu propósito. Uma das razões para iniciarem essa subtrama foi a introdução do personagem Dr. Alec, um médico assíduo em atender pessoas de rua e desprovidas de recursos. No início, há um bom foco, porém, toda a trama se perde ao transformar o personagem em um possível interesse amoroso e pivô de separação de Nic e Conrad. Além disso, Alec tenta ajudá-la no caso de sua irmã mais nova, mas, no final das contas, ele atrapalha e ainda revela um lado “mais sujo” que ninguém esperava. Infelizmente, esta trama foi mal executada e ainda teve um desfecho bem apático. Talvez a clínica continue e ganha reforço ou, simplesmente, desapareça na próxima temporada.
Melhor episódio

Na segunda metade da temporada, The Resident entrega um dos seus melhores episódios, retratando o caso negligente de uma mulher negra que não resiste aos efeitos colaterais de um parto mal executado. Aqui, acompanhamos duas tramas, mas à medida que a série foca na personagem grávida, o espectador toma conhecimento de que algo grave vai acontecer, entrando em uma espiral de angústia com o Dr. Devon Pravesh, que corre pelos corredores em busca de ajuda, uma vez que ele ainda é residente. Imediatamente, Pravesh liga os pontos e percebe que a negligência se deve ao preconceito do obstetra e da enfermeira, que são relapsos tanto na sala de cirurgia quanto no pós-parto da paciente. O desfecho é um dos mais pesados, pois ao final a série relata que tal caso foi inspirado em uma história real ocorrida nos Estados Unidos.
Evolução

Quem evolui bastante com suas falhas e acertos é a Dra. Mina Okafor que, inicia na série como uma médica extremamente racional, direta, prática e sem rodeios, no entanto, a 2ª temporada explora mais o lado emocional da personagem ao confrontar seus sentimentos no relacionamento com Micah, o confronto com sua mãe, uma médica renomada da África, uma aproximação mais íntima com seu mentor (Raptor) e o fortalecimento de suas amizades, seja apoiando Nic e ajudando Devon após o desastre de seu casamento na temporada anterior. Espero que a personagem cresça ainda mais na próxima temporada.
Final trágico

O telespectador acompanha a regressão da saúde de Jessie, irmã de Nic, uma vez que ela tem problemas com drogas. Ao servir de cobaia para um tratamento experimental, ela não só debilita sua saúde como vê seu melhor amigo morrer. Devido a essa situação, Jessie sofre insuficiência renal que a faz entrar na fila de transplante em tempo indeterminado, já que ela não está adepta a receber a doação de rim devido ao seu histórico precário. À medida que a espera é crescente, a saúde da garota deteriora, levando Nic ao ponto de recorrer à clandestinidade e recuando quando Conrad a faz refletir sobre esta decisão extrema.
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Para piorar ainda mais, o arco abre espaço para mostrar a relação de Nic com o pai, principalmente quando ele descobre ser compatível com a filha, mas recusa ir para sala de cirurgia. No final das contas, tudo era uma questão de medo que precisava ser trabalhado e, assim, o pai salva Jessie aos 45 minutos do segundo tempo.
Mas nem tudo são flores e, após a cirurgia, alguém sofre uma parada cardíaca, deixando Conrad em uma situação arriscada e Nic em extremo desespero. A temporada acaba sem revelar quem morreu. Jessie ou o pai? Quem não resistiu à cirurgia? Quem será que Conrad estava tentando ressuscitar? É aquele cliffhanger que deixa os fãs da série de queixo caído.
A 2ª temporada de The Resident entrega tramas bem desenvolvidas, envolventes e impactantes, mas a série precisa trabalhar melhor nos desfechos de cada plot ou arco, entregando um final mais consistente, menos corrido e previsível para não perder todo o brilho construído por vários episódios.
PS: O caso da anestesista viciada também foi um arco mal executado, somente para justificar uma consequência. Achei desnecessário.
Nota: 7,8
Fotos: IMDB