A série The Get Down, criada por Baz Luhrmann e Stephen Adly Guirgis está de volta à Netflix. Os cinco episódios estão focados em sentimentos intensos como a amizade e o amor e a expressão da música no mundo, trazendo um enfoque no show business e na história do hip hop.
Cenário
O primeiro episódio, após um ano dos primeiros acontecimentos, traz um Ezekiel (Justice Smith) ainda mais reflexivo e concentrado em uma redação que conta sua vida dividida em dois mundos: o garoto negro e porto-riquenho que vive no submundo chamado Bronx e, ao mesmo tempo, um garoto disposto a viver em um mundo diferente do seu e este novo recomeço pode ser a renomada Universidade de Yale.
É esta dualidade que é apresentada durante a segunda parte de The Get Down. Zeke dividido entre o hip hop e seu futuro em Yale; Mylene (Herizen F. Guadiola) dividida em seguir o seu coração na música e ouvir os seus produtores ou continuar ouvindo seu pai, que prega por uma artista religiosa.
Entre os outros personagens, os componentes do The Get Down Brothers vivem suas vidas, também, em dois mundos. Ra-Ra (Skylan Brooks) se vê envolvido com uma garota de outro “reino”; Dizzee (Jaden Smith) tem uma participação de narrador por meio de seus desenhos que são enviados para a prisão; Boo-Boo (TJ Brown Jr) consegue um trabalho como “aviãozinho”; já o DJ Shaolin Fantastic (Shameik Moore) ganha ainda mais reputação como DJ e traficante, o que vai trazer certas consequências ao grupo de rappers.
Nesta segunda parte, os episódios estão mais leves, apesar de brigas, discussões, dúvidas, medo e o inevitável sucesso da música, tanto de Mylene quanto dos Brothers, que conseguem uma oportunidade, mas que coloca em dúvida e testa a confiança de todos, inclusive de seus familiares.
A diferença da primeira e da segunda parte é que os episódios não são tão pesados, porque as músicas e as referências estão mais à mostra, o que faz a segunda parte ser mais divertida e leve, mesmo com todos os problemas e escolhas que os personagens devem fazer.
Apropriação cultural
A série faz uma sátira aos famosos brancos que levaram crédito em cima do que começou com os negros. Um dos personagens diz que o “get down é o próximo gênero musical americano” e que por isto, muito provavelmente, os brancos vão querer tomar isso deles. Outro momento é quando citam Elvis Presley, os brancos dizem que foi ele o inventor do rock and roll. Ainda, citam o jeito de John Travolta dançar e comentam que “daqui a pouco” vão dizer que inventaram a discoteca.
Está aí mais um elemento que a série coloca pra jogo dentre outras situações que acabam por desfavorecer o negro na sociedade e que levantam discussões importantes e históricas de uma minoria.
Espetáculo
De todas as músicas que são cantadas durante esses cinco episódios, não tem uma que desaponte. Todas as músicas estão, incrivelmente, maravilhosas. Além de trazerem reflexões sobre as angústias dos personagens e sua ansiedade por vitórias, elas possuem uma apresentação deslumbrante. Cada cena foi feita com maestria e cuidado. É um show à parte.
The Get Down Brothers desbanca um reinado
As gangues musicais se juntam para derrubar um reinado. A Zulu-Zulu é uma organização que prega o amor, a paz e a união que, junto com o grupo de amigos, juntam vários outros rappers, b-boys e b-girls para evitar a ascensão de um reinado tirânico.
A gângster Fat Annie (Lillias White) e o seu filho, Cadillac (Yahya Abdul-Mateen II) continuam ainda mais ambiciosos, tanto para o cenário musical quanto para as drogas que passam a distribuir nas ruas. Inclusive, na série mostram os efeitos da Fenilciclidina ou, mais conhecida no fim dos anos 70, como pó de anjo, uma droga que causa alucinações, pois tem efeitos neurotóxicos.
Fim do ato
Os cinco últimos episódios da primeira temporada são totalmente envolventes, o ritmo é rápido, as coisas acontecem de forma simples e linear. Muitas vezes o espectador vai falar que “deu certo, os meninos conseguiram” e na próxima cena vai se desapontar e isso vai acontecer em vários minutos. O que permite aos fãs de The Get Down acreditar em uma possível segunda temporada, uma vez que muitas cenas ficaram com pontas soltas e não sabemos o que de fato acontece com os personagens. Os desfechos não são redondos e esse é o maior problema da série.
De resto, o elenco é harmonioso e todos fazem seus papéis com maestria. Não há ninguém no elenco que desaponte. Claro que há interpretações com seus altos e baixos, dilemas e mesmices dos personagens que podem ser cansativos, mas isso não estraga o enredo.
The Get Down continua sendo uma ótima pedida para os fãs de música, de modo geral, para fãs de hip hop e histórias. Vale ressaltar que enaltece o sonho dos adolescentes que buscam por igualdade, esperança e oportunidades.
Ficha Técnica
The Get Down – segunda parte
Criador: Baz Luhrmann
Elenco: Justice Smith; Herizen Guardiola; Jaden Smith; Shameik Moore; Jimmy Smits; Skylan Brooks; Yahya Abdul-Matten II
Nota: 8,5