Sou suspeita para falar desse filme, pois eu adoro o Paulo Gustavo. Já assisti ao programa 220 Voltz (que também virou espetáculo) e ao Hiperativo. Quem acompanha o trabalho do ator, sabe que ele tem um jeito escrachado e espontâneo de dizer o que muitas pessoas pensam, mas têm medo de falar. E, por favor, não confunda essas características com arrogância ou, até mesmo, nariz empinado. Estou falando isso, pois nos filmes (Minha Mãe É Uma Peça, Os Homens São de Marte), também vemos essa essência do Paulo em seus personagens. Desta vez, ele incorpora Valdomiro Lacerda, um rapaz de boa pinta do Leblon, que vê sua vida de ponta cabeça após sofrer um grande golpe de seu ex-sócio Andrade (Márcio Kieling). Ao se mudar para a pensão de Dona Jô (Catarina Abdalla), no Méier, bairro localizado no subúrbio do Rio de Janeiro, ele passa a entregar quentinhas pela vizinhança e a conviver com figuras hilárias e extravagantes da pensão: o zelador Ferdinando (Marcus Majella), a filha de dona Jô, Jéssica (Samantha Schmutz), Terezinha (Cacau Protásio), Máicol (Emiliano D’Ávila), Velna (Fiorella Mattheis) e o eletricista Wilson (Fernando Caruso). A situação de Valdomiro muda ao recuperar sua cobertura. Porém, quando a pensão é interditada pela Defesa Civil, toda a galera passa a morar no Leblon.
Além dos diálogos exagerados e recheados de piadas, o que chama mais atenção no filme é a narração de Paulo Gustavo. Entre uma cena e outra, o próprio personagem descreve o que vai acontecer e ainda aponta os “erros” do filme. Por exemplo, quando a trama entre Valdomiro e Andrade começa, o ator vira para a câmera e avisa: “Olha lá, já vai começar a traminha do filme. Detesto isso”. Em outra cena, ao sair do carro e se deparar com um monte de gente na calçada, ele fala: “Sai da frente, gente. Pra que tanto figurante em cena, sendo que eu sou o protagonista e todos vão olhar só pra mim”. Ele também brinca com o fato de ter que sempre se vestir de mulher, nunca ter a oportunidade de fazer um filme com o Fernando Meirelles e os erros de continuação entre a cena anterior e a atual. Essa fórmula é formidável, pois o filme, além de brincar com cenas clichês hollywoodianas (como sequestrar um cara e roubar a sua roupa para espionar alguém), faz uma autocrítica, tirando essa responsabilidade do espectador.
A história é simples e não há nenhuma dificuldade em sua compreensão. Quem não acompanha a série Vai Que Cola, no Multishow, não se preocupe, pois isso não irá interferir no entendimento na trama.
Personagens
Quem é fã do Paulo Gustavo, vai adorar vê-lo na pele de Valdomiro. Porém, algumas vezes, o público se esquece do personagem e enxerga apenas o ator em cena. Para mim, isso não prejudica em nada no filme, mas pode ser que outras queiram ver um personagem totalmente diferente dos demais interpretados por ele.
Quem não fica para trás é Marcus Majella. Seu personagem Ferdinando é bem extravagante tanto na personalidade quanto nos trajes carnavalescos. Ao lado de Paulo Gustavo, a química rola solta. Em cena, os dois se completam e passam a imagem de amigos que adoram zoar um ao outro. Tudo fica ainda mais engraçado quando Valdomiro tenta se esconder do síndico Brito (Oscar Magrini) e Ferdinando começa a flertar com ele. Não tem como não rir.
A simpatia de Dona Jô e um possível romance com Quaresma (Werner Schunemann) trazem leveza ao filme. No entanto, as cenas de ciúmes de Wilson colocam uma pitada de humor nesse trio amoroso. Aliás, o personagem de Fernando Caruso fica responsável pelos clichês da história. Mas aí, só assistindo para saber melhor (sem spoilers, né?).
Outros personagens que dão o ar da graça são Jéssica, Máicol, Teresinha e Velna. Além de piriguete, Jéssica sonha em conhecer alguém famoso e rico que lhe dê uma vida boa. Já seu namorado Máicol é o oposto do que ela sonha: não trabalha e é desprovido de inteligência. Já Terezinha e Velna são festeiras e muito barulhentas. Às vezes, você vai se irritar um pouco com a Terezinha por ela falar alto demais, mas vai rir também, pois ela dá um show uma cena atrás da outra.
Vai Que Cola é um filme cheio piadas, do começo ao fim, cujo roteiro critica os próprios erros e clichês. Os personagens são extravagantes e a personalidade de cada um é explícita aos olhos do público. O que há de errado com isso? Nada! Pelo contrário, deu muito certo. Quem curte esse tipo de comédia vai adorar ir ao cinema assistir o filme, dirigido por César Rodrigues. É uma ótima recomendação pra quem quer se divertir, relaxar e esquecer os problemas. E aí, você acha que cola?
Ficha Técnica
Vai Que Cola – O Filme
Direção: César Rodrigues
Elenco: Paulo Gustavo, Marcus Majella, Catarina Abdalla, Samantha Schmutz, Cacau Protásio, Fernando Caruso, Fiorella Mattheis, Oscar Magrini, Werner Schunemman, Márcio Kieling, Rogério Fróes, Jonathan Haagensen, Klebber Toledo, Luana Piovani e Daniele Suzuki.
Duração: 1h40min
Nota: 8,7