Já pensou na possibilidade de ser reduzida a alguns centímetros de altura e passar a ter uma vida miniaturizada e engrandecida? Essa é a proposta de Pequena Grande Vida (Downsizing), dirigido por Alexander Payne, uma resolução pequena que traz consequências enormes para o mundo. Mesmo com uma premissa muito boa e inusitada, ao longo do desenvolvimento, o filme nos dá a sensação de que estamos assistindo duas histórias devido à mudança repentina em seu tom, no desvio de uma trama que começa divertida e termina bem dramática. Eu vou explicar melhor.
Pequena Grande Vida traz como solução para a superpopulação o encolhimento de humanos para 13 centímetros de altura, propondo uma transição global ao longo de 200 anos do grande para o pequeno. Após essa descoberta revolucionária feita por cientistas noruegueses, as pessoas logo percebem o quanto o dinheiro triplica e dura mais em um mundo miniaturizado. Com a promessa de uma vida melhor, Paul Safranek (Matt Damon) e sua esposa Audrey (Kristen Wiig) decidem abandonar suas vidas estressadas em Omaha, Estados Unidos, para se tornarem pequenos e se mudarem para uma nova comunidade em miniatura – uma escolha que dá início a aventuras que mudam suas vidas completamente.
Tenho que admitir que tinha expectativas para esse filme, uma vez que a premissa é muito boa e o trailer te atrai com uma história aparentemente cômica. Assim que acompanhamos a grande descoberta e os primeiros seres humanos encolhidos, o tempo passa revelando o quanto o experimento evolui a ponto de se tornar um negócio mundial, em que você avalia o orçamento e decide se vale a pena o investimento definitivo ou não. Levando uma vida sempre mediana e sem conseguir realizar grandes sonhos (como comprar um casa maior e melhor), Paul e Audrey decidem se mudar para a Lazerlândia, onde a classe média pode adquirir uma vida da classe alta, com uma conta bancária recheada, mansões lindas e baratas e um custo de vida a preço de banana, em que a compra de dois meses no supermercado tem um custo inferior a 100 dólares – algo que se gastaria em uma semana no tamanho real.
Muito mais do que um padrão de vida eficaz, o filme mostra as consequências positivas e negativas para o mundo, o meio ambiente e a economia. Por um lado, a comunidade produz apenas um saco de lixo, algo que apenas uma única pessoa em tamanho real produziria em horas. Por outro, devido à grande procura e oferta de uma proposta irreversível, a economia se desestabiliza, já que as pessoas passam a gastar bem menos. Junto com essas boas ideias, o público acompanha a nova jornada de Paul que, logo de cara, sofre um grande baque. Por ser a primeira reviravolta do filme, fiquei um pouco decepcionada com a divulgação ter entregado algo que poderia ser uma boa surpresa, mas que se torna algo já esperado.
Assim, Paul segue levando a mesma vida mediana, já que não consegue encontrar um propósito forte para si. A partir daqui, Pequena Grande Vida vende a ideia de que vamos acompanhar a autodescoberta do protagonista em sua nova jornada e o funcionamento da comunidade que enche nossos olhos de expectativas e curiosidades. Com esses primeiros passos, o longa apresenta dois personagens que fazem a diferença: Dusan Mirkovic (Christoph Waltz) e a vietnamita Ngoc Lan Tran (Hong Chau).
Dusan é o típico homem de negócios que sabe muito bem como lucrar e aproveitar a vida da melhor maneira possível, repleta de festas, amigos e mulheres bonitas. Além do belo sotaque, suas caras e bocas são ótimas, além do bom senso de humor que acrescenta na trama. Mesmo com um bom personagem nas mãos, o filme não consegue tirar o melhor dele, mas também se sua participação fosse menor, a trama perderia muito mais.
Já Hong Chau é o grande destaque, apresentando uma personagem com cargas de diversão e drama. Após aparecer na TV devido a um protesto feito em sua antiga vila, Ngoc Lan torna-se famosa na Lazerlândia, porém com o tempo, descobrimos que ela trabalha como faxineira para se sustentar. Chau trabalha muito bem o lado cômico da personagem, com um sotaque carregado e diálogos divertidos em que a moça fala um inglês errôneo, com verbos sem concordância, mas que não incomoda nenhum pouco, isso sem falar no seu jeito espontâneo, direto e mandão que transborda quando ela conhece Paul, que tem a intenção de ajudá-la, devido a certa condição que ela enfrenta. Junto com a personagem, o espectador passa a conhecer o lado pobre e abandonado da Lazerlândia, dando aquele tapa na cara naqueles que acharam que tudo era só flores na comunidade.
A partir do segundo ato, o filme toma um rumo completamente diferente, transitando da comédia e autodescoberta para um drama que, mesmo tratando de assuntos sérios como a destruição do meio ambiente e o desaparecimento da existência humana, torna-se chato e nenhum pouco atrativo, justamente por ser injetado de forma tão brusca no filme. Aqui, o protagonista entra em um conflito interno e no dilema de que ele está destinado a mudar o mundo, o que faz a história perder toda a energia construída lá no começo. A reta final traz uma mudança ao protagonista que é necessária, mas que não surpreende tanto assim.
O filme também traz pequenas participações como de Jason Sudeikis, Neil Patrick Harris, Laura Dern e James Van Der Beek a fim de apresentar apenas a Lazerlândia. Nada mais.
Considerações finais
Pequena Grande Vida traz uma premissa boa e interessante, mas que se perde por não saber focar. A história começa no gênero comédia, com a autodescoberta do protagonista em uma nova jornada inusitada, mas que na metade do caminho ganha um tom alto de dramaticidade com um assunto até relevante, mas que é jogado na trama repentinamente, o que faz o público perder o entusiasmo de continuar acompanhando a história. O longa não é ruim, mas também não é tudo aquilo que a gente esperava.
Ficha Técnica
Pequena Grande Vida
Direção: Alexander Payne
Elenco: Matt Damon, Christoph Waltz, Hong Chau, Kristen Wiig, Udo Kier, Jason Sudeikis, Neil Patrick Harris, Laura Dern, James Van Der Beek, Paul Mabon, Joaquim de Almeida, Rolf Lassgard, Ingjerd Egeberg, Soren Pilmark, Maribeth Monroe e Brigette Lundy-Paine.
Duração: 2h15min
Nota: 6,0