Instigante, bruto e violento, Operação Red Sparrow é um filme de espionagem que não segue exatamente as linhas de ação dessa temática, mas isso não significa que seja ruim, pois mesmo se arrastando em determinados momentos, o longa de Francis Lawrence prende sua atenção com cenas fortes e uma jogada mágica que até vai te surpreender.
A trama vai contar a história de Dominika Egorova (Jennifer Lawrence), uma promissora bailarina que é selecionada contra a sua vontade para se tornar uma ‘pardal’ – mulher sedutora treinada no serviço de segurança russo. Dominika aprende a usar o seu corpo como arma, mas luta para manter o senso de si mesma durante o processo de treinamento desumano. Descobrindo suas habilidades em um sistema injusto, ela surge como um dos elementos mais fortes do programa. Seu primeiro alvo é Nate Nash (Joel Edgerton), um oficial da CIA que administra a infiltração mais delicada da agência de inteligência russa. Os dois jovens entram em uma espiral de atração e decepção que ameaça suas carreiras, lealdades e a segurança de ambos os países.
O roteiro de Operação Red Sparrow apresenta uma roupagem de espionagem, porém não traz uma história que se desenvolve em cima de cenas de ação que a maioria dos filmes de espionagem tem. O primeiro ato deixa claro que Dominika aceita entrar para a Instituição de Sparrows devido a uma interrupção brusca em sua carreira que, consequentemente, afeta sua vida financeira e prejudica as condições de moradia e saúde de sua debilitada mãe. A protagonista não é uma espiã profissional e seu amadorismo é brutalmente treinado e explorado em uma escola um tanto quanto agressiva, em que o corpo é usado a fim de encontrar a fraqueza do alvo, para assim, manipulá-lo e até eliminá-lo.
O treinamento e a primeira missão da personagem rendem as cenas mais sensuais, sexuais e fortes – com direito a cenas de estupro – repletas de nudez e agressões para um bem maior do governo russo. Falando dessa forma parece que as cenas são bem fortes e, de fato, são a ponto de o espectador fechar os olhos de vez em quando, se remexer na cadeira inúmeras vezes e ficar espantado com o grau de força em que essas ações são executadas. Mas não se preocupe, pois a violência não é gratuita e cada golpe e tortura tem o seu momento certo, a reação certa e a justificativa certa. E por saber exatamente como e quando utilizar dessas agressões, o filme não mede esforços em entregar cenas viscerais, com direito a muita sexualidade, um ponto fortíssimo que faz a trama progredir e impactar.
Enquanto Operação Red Sparrow ganha pontos em mostrar o treinamento e como a protagonista mergulha no submundo sombrio russo, o filme derrapa em não entregar tantas cenas de ação de espionagem como outros longas (Atômica é um exemplo), com direito a mais investigações, pistas e mistérios que aguçam a curiosidade de quem está assistindo. Como disse anteriormente, Dominika não é uma profissional, mas aprende as técnicas de uma sparrow, mergulha no ramo e dá o melhor de si a fim de proteger a sua mãe e a própria pele. Por ser a mais ousada, fria e impetuosa, ela torna-se o grande destaque do grupo, ganhando a sua primeira missão: atingir o alvo Nate Nash.
O filme só não perde completamente a essência da espionagem, pois ele apresenta a seguinte fórmula mágica: enquanto acompanhamos o desenrolar da proposta, os bastidores elaboram resoluções instigantes que vão surpreender o espectador ao final dessa jornada. Aliás, Operação Red Sparrow entrega um desfecho satisfatório que, caso contrário fosse mal contextualizado e explicado, deixaria a protagonista em uma posição bem crítica, dando a entender de que ela não passa de uma simples espiã amadora jogada na boca dos leões que, infelizmente, fez as escolhas mais estúpidas possíveis. Devido algumas atitudes não serem tão bem explicadas, essa possibilidade quase ocorre, mas o filme consegue dar a volta por cima. No entanto, até que essa explicação chegue ao espectador, uma vez que as pistas são poucas e rasas, o desenrolar da história é denso e se estica mais do que o necessário, podendo jogar fora algumas cenas que não fariam tanta falta.
Personagens
Jennifer Lawrence entrega uma personagem consistente e muito forte. Mesmo sendo difícil fazer as cenas brutais, a atriz dá o melhor de si e isso é bastante notável. Além disso, ela faz um ótimo trabalho de voz, entregando um sotaque russo natural e aceitável. A frieza da personagem é sua segunda pele e isso pode incomodar alguns, no entanto, essa é uma das características principais de Dominika, o que contribui bastante para enganar seus oponentes.
Joel Edgerton está bem e entrega um bom personagem que protagoniza uma ótima cena visceral e bem desconfortável de assistir. De resto, o ator tem boa performance, mas que não chama tanto a atenção. Após digerir bem o filme, cheguei a conclusão que a química de Joel e Jennifer é boa, mas não é 100% aproveitada. Há mais decepção do que atração entre os personagens.
Outra performance que chama a atenção é o de Matthias Schoenaerts. O ator interpreta Ivon Egorov, responsável por apresentar Dominika ao mundo perigoso das sparrows. Ao mesmo tempo em que quer protegê-la, ele não mede esforços em executá-la, caso ela venha atrapalhar os seus negócios ou prejudique o bem-estar do governo russo.
Considerações finais
Operação Red Sparrow é um filme de espionagem que entrega ótimas e fortes cenas sensuais, sexuais e violentas nada gratuitas. No quesito ação, o roteiro derrapa em não entregar um desenvolvimento melhor, mas ganha pontos positivos por dar um desfecho que surpreende e satisfaz. Claro que o filme torna-se ainda melhor graças a performance de Jennifer Lawrence, que dá o melhor de si do começo ao fim. Não é um filme perfeito e nem o melhor filme de espião, mas é um bom filme e uma boa dica de entretenimento.
Ficha Técnica
Operação Red Sparrow
Direção: Francis Lawrence
Elenco: Jennifer Lawrence, Joel Edgerton, Matthias Schoenaerts, Charlotte Rampling, Jeremy Irons, Mary-Louise Parker, Joely Richardson, Ciarán Hinds, Sakina Jaffrey, Douglas Hodge, Sergei Polunin, Thekla Reuten, Sebastian Hulk, Ingeborga Dapkunaite e Joel de la Fuente.
Duração: 2h21min
Nota: 7,9