O Estado das Coisas (Brad’s Status) é uma crise existencial cinematográfica, uma espécie de autoajuda melancólica que a princípio parece irritar, mas a verdade é que este longa é ‘um tapa de mão de luva’ que questiona o espectador sobre o que é ser um fracassado. Sabe quando achamos a grama do vizinho mais verde do que a nossa? Pois é.
Dirigido por Mike White, o filme conta a história de Brad Sloan (Ben Stiller) que, perto de completar 50 anos, entra em uma profunda crise existencial ao questionar quem ele é, o que ele fez durante esses anos todos e se sua condição é melhor ou pior do que a dos outros. Logo de cara, a trama apresenta o personagem com uma família feliz e um a estabilidade profissional lucrativa, mas assim que a melancolia se instala, passamos a ver a situação sob a perspectiva mais sombria do protagonista ao analisar a sua vida e a comparar com a vida dos amigos da faculdade: Billy Wearslter (Jemaine Clement) é um empresário aposentado, rico, que mora na praia com duas mulheres; Craig Fisher (Michael Sheen) é empresário político, autor e capa de revista; Jason Hatfield (Luke Wilson) é tão rico que até dispensa as mordomias em sua volta, uma vez que ele já tem as suas próprias, como um avião particular, por exemplo. Brad passa a definir distorcidamente o que é fracasso ou não sem valorizar as suas conquistas, apenas focando no status e na conta bancária recheada.
A gangorra do pensamento do personagem entre o sucesso e o fracasso balança mais quando ele descobre que as notas altas do filho Troy (Austin Abrams) poderão levá-lo diretamente para Harvard. Durante a viagem que ele faz com o filho para conhecer as universidades, Brad entra em um clima mental fúnebre em que ele se auto rebaixa a ponto de sentir inveja do filho e de seu futuro sucesso. Ao mesmo tempo, o excesso de pessimismo faz com que ele já prospecte o fracasso de Troy.
Com um roteiro bem estruturado, O Estado das Coisas não só faz um bom estudo e desenvolvimento do personagem, como analisa a mente em crise e o surgimento da figura do pessimista que só enxerga o melhor nos outros e nunca em si mesmo. Na minha opinião, a comédia dramática também é uma comédia de situação bem atual, pois retrata uma das visões que a sociedade tem diante do significado de sucesso e fracasso em meio a um mundo cheio de acessos e excessos. Já parou para pensar quantas vezes você não comparou a sua vida com uma foto do seu amigo publicada no Instagram ou Facebook? Uma viagem à praia no feriado significa que a vida dele é muito melhor do que a sua? Em determinado momento, você imaginou que o seu amigo não passou por perrengues e brigas durante essa viagem? Entendem o que eu quero dizer?
Assim como na vida real, o filme mostra as nuances da autoestima de Brad ao comparar sua vida e chegar à conclusão de que ela não é nada empolgante. Ele é infeliz porque não tem um avião? Uma casa na praia? Mulheres em sua volta? Não é capa de revista? Há um momento em que o filme pode irritar o espectador quando Brad tenta culpar a sua esposa Melanie (Jenna Fischer) sobre o seu fracasso e a vida pacata e sem emoção que eles levam, quando a verdade é que o problema só está dentro da cabeça de Brad. E isso é confirmado quando a história revela a atual situação e o caráter de cada amigo do personagem.
Não podemos negar que a atuação de Ben Stiller está muito boa. Junto com uma trilha sonora pontual e rítmica e uma paleta de cores que muda de acordo com o pensamento, são as boas e sutis expressões faciais que fazem o público notar a mudança de comportamento do personagem ao transitar entre o otimismo e o pessimismo puro.
Considerações finais
O Estado das Coisas é aquele filme que vai ser ‘um tapa na cara’ de muitas pessoas ao questionar o conceito de sucesso, fracasso, felicidade, status, otimismo e pessimismo. Afinal, será que um status ou uma foto bonita postada nas redes sociais é capaz de acabar com a satisfação de suas conquistas?
Ficha Técnica
O Estado das Coisas
Direção: Mike White
Elenco: Ben Stiller, Austin Abrams, Jenna Fischer, Michael Sheen, Luke Wilson, Jemaine Clement e Mike White.
Duração: 1h41
Nota: 8,0