Desde o primeiro filme, O Código da Vinci, acompanho as adaptações das obras de Dan Brown. Surpreendi-me com o primeiro e me fascinei pelo segundo (Anjos e Demônios) sem ter lido os livros. Desta vez, consegui ler Inferno e, finalmente, pude ver no cinema tudo o que imaginei enquanto folheava as páginas do livro. Quer dizer, quase tudo. Ah sempre aquela “guerrinha” de que o livro é melhor que o filme, mas, neste caso, posso dizer que o filme é bom mesmo apresentando fatos totalmente invertidos do livro. Quem leu a obra e já assistiu a trama dirigida por Ron Howard, sabe muito bem do que estou falando.
Mais uma vez, acompanhamos Robert Langdon (Tom Hanks) em mais uma aventura recheada de mistérios ambientados na Itália. Desta vez, o professor acorda em um hospital em Florença, machucado e sem memória, impossibilitando-o de recordar os acontecimentos das últimas 48 horas. Sob uma forte dor de cabeça, Langdon apresenta visões horrendas de um apocalipse mundial, onde as pessoas morrem de forma grotesca e macabra, sob uma forte enxurrada de sangue, ataques de cobras e muito fogo, retratando muito bem o Inferno de Dante Alighieri. A partir daí, o professor recebe a ajuda da médica Sienna Brooks (Felicity Jones), que irá guiá-lo pela cidade para descobrir as razões dele estar ali, o que foi fazer e o porquê das autoridades da OMS e do governo estão atrás dele. Aos poucos, ambos desvendam um dos enigmas encontrados nas roupas do protagonista: o Mapa do Inferno. Tal objeto foi deixado por Bertrand Zoobrist (Ben Foster), um bilionário que defende a ideia de que a raça humana está sob a ameaça da superpopulação e de todo o mal que causou à natureza e ao planeta. Com isso, o rapaz decide criar um vírus letal que dizimará metade da população mundial para, assim, limpar o planeta e recomeçar a vida do zero. Aqui, acompanhamos Robert Langdon desvendando as pistas que estão por trás da obra de Dante e que o levam até o local onde se encontra o vírus, além de escapar das autoridades com ações suspeitas. Não se preocupe, pois não há nenhum spoiler aqui, até porque tudo isso foi contado no trailer.
Como disse no primeiro parágrafo, eu gostei do livro e do filme, pois ambos seguem a mesma linha narrativa, mas com finais bem diferentes, ou seja, quem leu o livro e assistiu (ou vai assistir) ao filme, viu (verá) dois pontos de vista da mesma história. Assim como os dois primeiros filmes, Inferno apresenta o mesmo esqueleto dos filmes anteriores: um personagem encarregado de desvendar os mistérios ambientados em um local histórico para impedir que um mal maior aconteça. No meio do caminho, ele recebe a ajuda de alguém e foge daqueles que querem interromper o seu objetivo, chegando finalmente, ao destino final. A premissa é a mesma, o que muda é o ambiente, o objetivo e o vilão. Talvez você fique decepcionado por ver a mesma coisa dos filmes anteriores, mas, se for para culpar alguém, não culpe o diretor, e sim, o autor, pois o filme é apenas a adaptação de um livro. Certo? Mas, se você gosta muito das obras de Dan Brown, já sabe que as histórias são similares.
Voltando ao filme, a primeira metade da trama segue fielmente a obra e isso não tem como negar. O público irá ver exatamente aquilo que imaginou. As visões do Inferno de Dante são bem retratadas e traz aquela sensação de angústia em meio ao caos apocalíptico. Todo o quebra-cabeça que nos leva ao vírus é apresentado, porém o público pouco acompanha a linha que conecta uma pista à outra, já que foi coberta por várias cenas de ação e corre-corre. Se nos filmes anteriores vemos Robert Langdon expondo toda a sua inteligência e perspicácia para desvendar pista por pista escondidas em lugares históricos, que fazem a gente querer conhecer ainda mais, em Inferno, Langdon pouco usa de suas habilidades acadêmicas e abusa da sua condição física, já que ele passa mais tempo correndo pelas ruas italianas e adentrando em passagens secretas.
Da metade para o final, o filme segue uma linha narrativa completamente diferente do livro. Quem leu a obra, vai notar isso no primeiro instante. Não vou dizer o que muda e o que acontece, pois estragaria toda a surpresa da trama. Também não posso dizer que não gostei de ver uma versão alternativa, pois achei interessante ver essa mudança drástica na história.
Personagens
Novamente, Tom Hanks encarna o professor Robert Langdon e sua interpretação não fica a desejar. Uma de suas melhores cenas é quando o personagem acorda no hospital com dores de cabeça insuportáveis e visões agoniantes que, no primeiro instante, não levam a lugar algum. Isso desperta certa angústia, desespero e aflição ao público, o que mostra que a interpretação está boa a ponto de ser sentida por quem assiste. Porém, queria ter visto um Robert Langdon menos “maratonista” neste filme e mais professor de simbologia, desvendando as pistas minuciosamente e explicando mais sobre o Inferno de Dante. Aliás, torci muito para que tivesse a cena de Langdon palestrando sobre Dante Alighieri.
Felicity Jones encarna Sienna Brooks, uma médica seca, fria e desconfiada, que resolve ajudar Langdon nessa jornada. A química entre os dois funciona muito bem e é dessa forma como imaginei enquanto lia o livro. Porém, há uma mudança drástica na personagem a partir do plot twist que fará alguns ficarem de boca aberta.
Os demais atores como Sid Babett Knudsen (Dra. Elizabeth Sinskey), Omar Sy (detetive Christopher Bruder), Irrfan Khan (Harry Sims) e Ana Ularu (Vayentha), executaram bem os seus papeis, trazendo um entendimento maior à história e servindo de ajuda ou obstáculo aos personagens principais. Algumas vezes, certas cenas ficam fora do contexto, como por exemplo, a de Harry Sims, que surge em lugares em que você não espera, fazendo você se perguntar: “como ele sabia desse local e o que estava acontecendo?”. Apenas uma observação.
Considerações finais
Inferno é a terceira adaptação da obra de Dan Brown e a mais fraca comparada aos dois primeiros. Isso não quer dizer que ela seja ruim. Há muitas cenas de ação para quem gosta e poucas cenas em que o professor realmente decifra os enigmas do Inferno de Dante. O final é COMPLETAMENTE diferente do livro que, por sinal, é bastante chocante. Gostaria de ter visto esse final no cinema, mas também agrada ver a versão alternativa da história e novos rumos que foram dados para os demais personagens. A trama também ficaria mais rica se o diretor tivesse dado mais espaço para explicar sobre Dante Alighieri. Teria sido interessante.
Vale a pena assistir? Sim. Também vale a pena ler o livro para fazer as comparações e entender melhor a história. Inferno estreia hoje nos cinemas. E já quero ver a adaptação de O Símbolo Perdido. Espero que façam.
Ficha Técnica
Inferno
Direção: Ron Howard
Elenco: Tom Hanks, Felicity Jones, Bem Foster, Omar Sy, Irrfan Kahn, Sidse Babett Knudsen, Ana Ularu e Jon Donahue
Duração: 2h02min
Nota: 7,5