Em tempos de ódio, preconceito e rancor que o mundo vive atualmente, o filme Ben-Hur chega aos cinemas para trazer uma mensagem forte sobre perdão e generosidade. Dirigido por Timur Bekmambetov, o filme é uma releitura do original de 1960, com uma linguagem contemporânea e fluída. A história se passa em Jerusalém, no início do século I, e foca na vida de Judah Ben-Hur (Jack Huston), um nobre judeu contemporâneo de Jesus Cristo (Rodrigo Santoro), que defende sua família e crenças. Quando Messala (Toby Kebbell) se junta ao exército romano, Ben-Hur entra em conflito com o irmão de coração devido a visões políticas divergentes. Por causa disso, Messala condena seu melhor amigo à escravidão, separando-o de sua esposa, mãe e irmã. Em meio a tanto sofrimento, Ben-Hur não entrega os pontos e reúne forças para iniciar uma vingança que ninguém poderia imaginar.
Um dos pontos altos do filme, sem dúvida, é o roteiro. Muito bem estruturado e com diálogos simples, o filme tem como base uma das passagens da história de Jesus Cristo com foco na história de Ben-Hur. Pode ser que alguns achem que a trama irá focar fortemente na religião e, por isso, torçam o nariz para o filme. No entanto, a linguagem contemporânea utilizada traz naturalidade e uma nova roupagem ao filme, conquistando a atenção total do público.
Em termos de cenário, fotografia, figurino e efeitos especiais, Ben-Hur acerta em cheio, pois o espectador mergulha na tela e absorve tudo o que se passa naquela época, como se estivesse vivendo aquilo ao lado dos personagens. Prova disso, são duas cenas fortes e muito bem construídas que, para mim, são os destaques do filme: a primeira é a cena onde Ben-Hur é escravo em um navio e passa anos em um porão remando para os romanos. Em planos fechados e com close no protagonista e nos demais escravos, o espectador sente na pele o sofrimento agudo e a agonia de estar algemado em um lugar apertado sem ver a luz do dia, apenas ciente de que está em alto mar e prestes a morrer a qualquer momento. A segunda cena é a corrida de biga que, quando mostrada em plano aberto, traz a sensação de grandeza e medo, afinal, tudo pode acontecer naquela arena. Com efeitos especiais, a disputa é acirrante, empolgante e um pouco aterrorizante, pois muito sangue é derramado e as contas são acertadas entre os amigos.
Personagens
Durante a coletiva de imprensa, que aconteceu no começo de agosto, em São Paulo, o ator Jack Huston declarou imensa gratidão pelo papel, além de ter sido um enorme prazer trabalhar com Rodrigo Santoro. Sem dúvida, a química entre os dois é leve, envolvente e muito emocionante. Jack Huston faz uma interpretação estonteante de Ben-Hur, refletindo toda a dor, o sofrimento e a busca por vingança. O melhor disso é que o público consegue enxergar todos esses sentimentos na tela e se colocar no lugar do protagonista. No decorrer dos três atos, você vê Ben-Hur evoluir com as cicatrizes do seu sofrimento e determinado acertar as contas.
Mesmo aparecendo em poucas cenas, Rodrigo Santoro dá um show de interpretação na pele de Jesus Cristo e, na coletiva, o ator declarou estar honrado por interpretar um papel forte nos cinemas. O mais legal é que no filme vemos Jesus Cristo de forma mais natural, ou seja, ele é retratado como um homem simples, em roupas simples e com um trabalho simples. Gente como a gente. O ponto alto, sem dúvida, é a traição de Judas e a crucificação de Jesus. Essa cena traz a mensagem chave do filme, que faz com que Ben-Hur reveja seus atos e tome a grande decisão que fecha a trama.
Na coletiva, Rodrigo Santoro contou que a cena da crucificação foi a mais difícil de fazer, não só pela forte carga emocional, mas também porque, no dia da gravação, feita na Itália, o clima era de frio intenso. Para que o sofrimento não se prolongasse, o ator sugeriu que a filmagem fosse feita em um take longo para que, assim, as gravações não se prolongassem tanto. O plano era arriscado, mas a execução obteve grande sucesso.
Quem também não fica para traz é Morgan Freeman na pele de Lldarin. Ele é quem salva Ben-Hur e, para não entregá-lo ao exército romano, ele dá a chance do protagonista mostrar o quão bom ele é com cavalos. O personagem de Freeman é um mentor para Ben-Hur, pois além de ver seu potencial, ele o guia para que sua vingança contra Messala seja limpa e justa, trazendo também benefícios ao povo de Jerusalém.
Por fim, Toby Kebbell traz um Messala que, no início, mostra ter bom coração. Mas, por se sentir inferior e por não ser irmão de sangue de Ben-Hur, ele se junta ao exército romano para mostrar que pode ser mais do que muitos imaginam. É aqui que o personagem muda completamente sua personalidade, dando às costas à família de criação e traindo o irmão de forma grotesca. O público sente raiva pelas ações de Messala e questiona se há redenção para o personagem.
Considerações finais
A cena final de Ben-Hur é questionadora e, talvez, incomode algumas pessoas, pois é neste momento que o protagonista aprende uma grande lição e toma a decisão final. Ao terminar de assistir ao filme, fiz a seguinte pergunta: será que eu faria o mesmo que Ben-Hur? Como disse no começo do texto, a trama traz uma mensagem forte sobre perdão e segunda chance e, hoje em dia, perdoar os erros dos outros é uma tarefa muito difícil, mas de extrema importância, pois só assim deixamos o rancor e o sentimento ruim de lado, o que pode nos impedir de seguir em frente e ter uma vida leve, alegre e com bons frutos.
Ben-Hur acerta no roteiro, nas interpretações, no cenário, nos efeitos e, especialmente na mensagem que tem como base, uma passagem religiosa significativa que é desenvolvida de forma natural, sem nenhuma pregação. O filme estreia hoje nos cinemas e vale a pena assistir.
Ficha Técnica
Ben-Hur
Direção: Timur Bekmambetov
Elenco: Jack Huston, Rodrigo Santoro, Toby Kebbell, Morgan Freeman, Nazanin Boniadi, Pilou Asbaek, Ayelet Zurer, Sofia Black D’Elia, Moises Arias e Marwan Kenzari.
Duração: 2h03min
Nota: 10
Camila, existe um filme de 1923, mudo ainda. Vale her.