Não sou muito fã de filmes de guerra, mas essa trama dirigida por Mel Gibson me conquistou rapidamente. Essa é uma história verídica, mas não é qualquer história. É a história de um homem que serviu ao exército durante a Segunda Guerra Mundial sob uma condição: não tocar em nenhuma arma. Até o Último Homem (Hacksaw Ridge) é baseado na história de Desmond T. Doss (Andrew Garfield), o primeiro objetor (alguém que reivindica o direito de recusar o serviço militar) de consciência na história dos Estados Unidos a receber a Medalha de Honra do Congresso. Doss foi um médico do exército do país que serviu durante a Batalha de Okinawa e se recusou a matar. Com isso, ele recebeu das mãos do presidente a primeira medalha de honra por salvar tantas vidas.
Por que o filme chama tanta a atenção? Pra começar, o público vê o excelente trabalho de Mel Gibson na direção das filmagens e dos atores. O roteiro não vai nos contar detalhes sobre a guerra e, sim, colocará a batalha como cenário para destacar o grande feito realizado por Desmond Doss. Mas antes, o roteiro – muito bem executado – gasta um tempo para situar o público sobre as razões e a crença que levam Doss a não tocar em nenhuma arma durante a guerra. O espectador verá cenas de discussão do protagonista com a família, especialmente a relação conturbada que ele tem com o seu pai, Tom Doss (Hugo Weaving); o momento em que ele conhece e se apaixona por Dorothy (Teresa Palmer); o primeiro contato com o grupo do exército; a forma como ele é caçoado e provocado pelos colegas soldados e não recebe nenhuma credibilidade do Capitão Glover (Sam Worthington) e do Sargento Howell (Vince Vaughn); e a audiência para lutar pelos seus direitos para permanecer no exército e lutar a favor do seu país sem usar armas. Falando assim, até parece que é algo cansativo de se assistir, mas não é. Esses momentos são de extrema importância para convencer o público sobre a posição de Doss e aumentar a expectativa de como será sua vida em meio à batalha.
As cenas de guerra são tão bem feitas que o espectador se sente imerso no filme, como se estivesse vivendo aquela guerra e lutando ao lado dos personagens. Há o exagero de tiros, bombas, lutas e mortes que chegam a dar aflição, mas no bom sentido, pois esse exagero traz mais realidade aos olhos de quem assiste. Algumas cenas são bem fortes e violentas, com vísceras para todos os lados, corpos partidos ao meio, membros amputados drasticamente trazendo a verdade nua, crua e triste de uma guerra.
O que me incomodou um pouco no filme foi ver certo desequilíbrio na quantidade de soldados no filme. No momento em que os soldados sobem a colina para lutar, vemos um número menor em relação ao número de corpos que são levados dali. No exército japonês é possível ver que o número é bem maior comparado ao grupo em que Desmond está. Não sei se foi proposital, se foi desse jeito que realmente aconteceu, mas em algumas cenas dá para notar essa desproporção.
Personagens
Tenho que aplaudir Andrew Garfield pela excelente interpretação de Desmond Doss. Além de fazer um bom sotaque de um caipira do sul dos EUA, Garfield entregou um Doss bom, apaixonado, determinado e firme em suas crenças. No primeiro momento, você chega a acreditar que o personagem não conseguirá sobreviver nessa batalha, mas sua convicção é tão forte e a sua vontade de salvar vidas é tão grande que, logo, você esquece que, em algum momento, você duvidou dele. As cenas de Garfield com Hugo Weaving são ótimas, profundas, bonitas e tristes. Não vou falar o que acontece para não estragar a surpresa. Além dessas, há três cenas do personagem que, para mim, são as mais marcantes. Você precisa assistir.
Em meio à guerra, o filme consegue dar espaço para um romance puro e verdadeiro de Desmond e Dorothy, interpretada pela Teresa Palmer. Em nenhum momento esse romance quebra a continuidade da guerra, muito pelo contrário, o romance trouxe aquele alívio para tantas cenas fortes e tristes e faz o público respirar um pouco. A química entre Garfield e Palmer funciona bem e é bonito ver os dois em cena, principalmente quando ele começa a flertá-la. Chega a ser engraçado.
Hugo Weaving também está excelente no papel de Tom Doss, pai de Desmond. O público tem pena e raiva dele ao mesmo tempo, por ele ser alcoólatra e maltratar tanto a família. Mas também ele sabe agir na hora certa para defender o filho e reconhece os grandes feitos realizados por Desmond.
Outros dois personagens que chamam a atenção são o Sargento Howell e o Capitão Glover, interpretador por Vince Vaughn e Sam Worthington. Os dois são autoritários, exigentes e brutos com os soldados, especialmente com Desmond pelo fato dele defender sua crença e não tocar em nenhuma arma. Eles desdenham o rapaz, mas depois reconhecem as atitudes deles. Estou tão acostumada a ver o ator Vince Vaughn em filmes de comédia que achei estranho e, ao mesmo tempo, bom vê-lo em um papel totalmente diferente. Foi uma surpresa para mim, mas foi uma surpresa boa.
Considerações finais
A cena final do filme é de alívio, de paz, de redenção por ter feito tudo que estava ao alcance. O final é satisfatório e te deixa com lágrimas nos olhos. Até o Último Homem é um filme de guerra que prende a sua atenção do começo ao fim, com uma ótima direção, ótimas interpretações, especialmente a de Garfield, e cenas fortes que vão te levar para dentro filme. Vale a pena assistir!
Curiosidades
– A Batalha de Okinawa aconteceu entre Abril e Junho de 1945 e foi considerada a maior invasão anfíbia realizada na campanha do Pacífico durante a Segunda Guerra Mundial. Foi a última grande batalha antes do lançamento das bombas atômicas sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagazaki.
– A batalha foi referida como “tufão de aço” e “tetsu no ame”, “tetsu no bõfu” pelos habitantes de Okinawa, que significa “chuva de ferro” e “vento violento de aço”, referindo-se à intensidade de fogo da batalha.
– Desmond Thomas Doss foi socorrista do Exército dos Estados Unidos na 2ª Guerra Mundial e tornou-se a primeira e única objecção de consciência a receber a Medalha de Honra.
– Membro da Igreja Adventista do 7º Dia, Desmond tomou a difícil decisão de servir a guerra com um serviço pouco convencional: ao invés de matar pessoas, decidiu salvá-las. Em uma única batalha, mesmo desarmado, Desmond salvou 75 soldados.
– Os japoneses preferiam cometer suicídio a serem capturados.
– A Batalha de Okinawa teve o seguinte resultado: 12.513 soldados norte-americanos mortos; 38.916 feridos; 33.096 perdas fora do combate e 763 aviões abatidos/ 110.000 soldados japoneses mortos; 7.400 – 10.755 capturados; 42.000 – 150.000 (número estimado) de civis japoneses mortos.
E aí, o que acharam do filme e da resenha? Deixem nos comentários!
Ficha Técnica
Até o Último Homem
Direção: Mel Gibson
Elenco: Andrew Garfield, Teresa Palmer, Hugo Weaving, Vince Vaughn, Sam Worthington, Luke Bracey, Rachel Griffiths, Ryan Corr, Matt Nable, Richard Roxburgh, Nathaniel Buzolic e Ori Pfeffer.
Duração: 2h20min
Nota: 9,0