O que você faria se coincidências acontecessem na sua vida? E se certas ações se repetissem todos os dias? E se algum evento acontecesse sempre no mesmo horário? Seria uma obra do destino? Você ficaria inerte ao que se passa em sua volta? São essas perguntas que engatam 2:22 – Encontro Marcado, longa dirigido por Paul Currie. A trama conta a história de Dylan Branson (Michiel Huisman), um controlador de tráfego aéreo em Nova York, que leva uma vida boa e tem uma carreira bastante promissora. Um dia, exatamente às 2h22 da tarde, um evento inesperado acontece: um flash ofuscante o paralisa por alguns segundos, no exato momento em que dois aviões quase colidem no momento de pouso e decolagem. Por conta do deslize que quase matou várias pessoas, Dylan é suspenso do trabalho, mas é neste tempo de recessão que o rapaz começa a notar, cada vez mais, uma repetição de sons e eventos em sua vida, que acontecem exatamente na mesma hora todos os dias. Enquanto ele tenta desvendar tais eventualidades, Dylan inicia um relacionamento com Sarah (Teresa Palmer), uma moça que trabalha em uma galeria de arte. A partir daí, Dylan descobre que terá o poder de quebrar o poder do passado e assumir o controle do próprio tempo se, um dia, quiser ter um futuro e, é claro, ao lado de sua amada.
Tanto a sinopse quanto o trailer são atrativos, pois o filme aborda um tema que, particularmente, eu adoro, seja qual formato for: livro, série, filme, novela, etc. Não quero falar exatamente o que é, pois seria um grande spoiler. O que posso dizer é que o começo do filme traz uma pista do que está prestes a ser desenvolvido na história, pois a primeira cena é um flashback de 30 anos atrás envolvendo um assassinato. A partir daí, a dúvida ganha proporção, instigando o público a acompanhar um mistério que recebe explicações científicas dadas pelo protagonista.
Mesmo com uma trama muito interessante e que pode gerar discussões, o filme apresenta alguns probleminhas no roteiro. O primeiro é que o tema é tratado com certa superficialidade. Não que isso seja ruim, pois é possível entender o que está acontecendo, mas por se tratar de uma temática boa, achei que o roteiro não explora ou explica por meio de respostas científicas, o que talvez confunda um pouco ou não traga tanta clareza assim.
No desenvolvimento do segundo ato, o protagonista passa por várias eventualidades que se repetem na sua rotina, mas o que era para ser algo mais explicativo torna-se repetitivo demais. Por exemplo, Dylan sabe que exatamente às 9h10 uma gota de água irá cair. Além dessa e de outras ações acontecerem uma atrás da outra, os diálogos reforçam o que a própria imagem está dizendo, tornando a cena redundante. Entendem o que eu quero dizer? É possível dispensar as palavras, uma vez que a ação e até mesmo as expressões dos personagens já nos diz tudo.
Por falar em personagens, eu gostei de todos e as interpretações estão boas. Michiel Huisman apresenta um Dylan romântico, muito inteligente e determinado em desvendar tal mistério que o circunda. No entanto, achei que o personagem compra rápido demais a ideia de que “algo de errado está acontecendo em minha volta”. O roteiro poderia ter dado mais espaço para alimentar o sentimento de dúvida no personagem.
Teresa Palmer está bem no papel e encarna uma mulher sexy, ativa, trabalhadora e que se sente bem com sua rotina. Mais do que isso, Sarah gosta do romantismo de Dylan, mas mantém o pé atrás com relação às suas atitudes. Ou seja, com ela vemos a dúvida brotar em sua cabeça, quando isso também poderia ter acontecido com o protagonista. Além disso, a química dos dois é razoável, pois o público compra o relacionamento dos dois, mas sabe que o envolvimento poderia ter sido mais trabalhado.
Infelizmente não gostei da forma como o personagem Jonas é introduzido na história. Interpretado por Sam Reid, Jonas é um grande artista e ex-namorado de Sarah. Pra começar, não há tanta clareza de que eles tiveram um relacionamento até o momento em que a informação é dita. No primeiro instante é possível pensar que ele e Sarah são apenas bons amigos que trabalham juntos. Além disso, o ciúme que cresce dentro dele o torna vilão da história, mas essa inversão de papel é tão corriqueira que, talvez, o público não compre essa ideia, mas tenha que aceitar porque é o que está ali.
Considerações finais
Mesmo com problemas no roteiro e na construção do antagonista, além de um final previsível, porém satisfatório, não vou negar: eu gostei do filme. 2:22 – Encontro Marcado tem um desenvolvimento superficial, mas a temática abordada faz o público mergulhar na história. Pela primeira vez, faço uma crítica contraditória em que aponto os erros e, ao mesmo tempo, aprecio o filme. Espero que me compreendam.
Ficha Técnica
2:22 – Encontro Marcado
Direção: Paul Currie
Elenco: Michiel Huisman, Teresa Palmer, Sam Reid, Maeve Dermody, Remy Hii, John Waters, Simone Kessell, Richard Davies, Kerry Armstrong, Jessica Clarke, Marisa Lamonica e Mitchell Butel.
Duração: 1h38min
Nota: 6,0