Depois de uma semana de maratona, aqui estou para falar de Punho de Ferro, quarta série da parceria Marvel/Netflix e o último antes de Os Defensores. Após acompanhar Jessica Jones e Luke Cage, confesso que minhas expectativas estavam até altas para esta série, justamente por ter gostado da sinopse e da apresentação dos personagens, isso sem contar que o programa teria muita, mas muita luta. Mas afinal, Punho de Ferro é bom? Seria hipocrisia da minha parte dizer que é ruim, pois no geral até que é legal, no entanto, a série tem muitas ressalvas que faz com que o entusiasmo dos telespectadores/fãs caia em alguns momentos, chegando a decepcionar os mais aficionados em quadrinhos de super-herois, especialmente os da Marvel.
Punho de Ferro conta a história de Danny Rand (Finn Jones), um rapaz que retorna à cidade de Nova York 15 anos depois de ser dado como morto. Ele tenta se reaproximar dos familiares mais próximos e recuperar a Empresa Rand, fundada por seu pai Wendell Rand e seu tio Harold Meachum (David Wenham). Quando criança, Danny sofreu um acidente trágico de avião que tirou a vida de seus pais e impossibilitou de que o corpo do garoto fosse encontrado, sendo dado como morto no final. A verdade é que Danny sobreviveu ao frio do Himalaia e foi salvo por monges guerreiros que o levaram para viver em K’un-Lun, uma cidade que aparece na superfície da terra a cada 15 anos.
Assim, Danny não só passou a viver com esses guerreiros, como também teve treinamentos pesados de kung fu para se tornar um guerreiro, especificamente, a nova arma imortal conhecida como punho de ferro. Todo o treinamento consiste em equilibrar sua força e seu emocional juntos com o objetivo de invocar a força do punho de ferro, o que o torna extremamente forte e especial. No entanto, no decorrer da 1ª temporada, Danny descobre que para enfrentar seus amigos de infância Joy (Jessica Stroup) e Ward Meachum (Tom Pelphrey) e seus inimigos, é preciso ir muito mais além do que apenas concentrar a força no punho.
Danny Rand é mesmo a grande arma imortal?
É normal que o heroi questione, seja teimoso, ganhe e perca coragem no meio do caminho, alcance o ápice e enfrente o seu grande medo. No entanto, Danny Rand oscila muito nessas questões. A forma como perdeu os seus pais e a vida que ele poderia ter tido o faz ter medo, porém na série parece que ele sofre de a síndrome do Batman. O que quero dizer é que, em vários momentos, ele age por impulso não para equilibrar e derrotar o problema, mas para satisfazer a sua vontade e vingar a morte de sua família, sem se importar com quem estiver por perto. Mas, ao mesmo tempo, ele se arrepende e volta atrás. E essa cena se repete mais de uma vez, o que torna chato e faz o telespectador questionar sobre as atitudes do heroi. Outra coisa maçante é que o tempo todo Danny afirma com convicção que é a arma imortal de K’un-Lun que veio para derrotar o grande inimigo, o Tentáculo. Mas na primeira oportunidade, o personagem leva mais porrada ao invés de dar. Quando a gente mais quer ver o Punho de Ferro em ação, essa força simplesmente desaparece.
Outra coisa que incomoda é quando Danny luta, insiste e persiste para tomar o seu posto na empresa Rand, mas assim que consegue esse direito ele simplesmente deixa Joy e Ward a ver navios, facilitando ainda mais para os inimigos infiltrarem na empresa.
Um ponto que a série poderia ter explorado e deixou bastante a desejar é o passado de Danny em K’un-Lun. Eu não sei vocês, mas eu queria saber mais a respeito dessa cidade, quem era o mestre de Danny, como ele levava a vida nesse local desde pequeno, como funciona o treinamento dos monges guerreiros, enfim, toda essa história que serve como base para entendermos melhor a origem do punho de ferro. Pra mim, a série falhou nesse ponto que poderia ter sido desenvolvido ao longo de 13 episódios.
O que vale a pena?
Apesar de algumas ressalvas, tenho que reconhecer que Punho de Ferro faz uma boa apresentação dos seus personagens logo no primeiro episódio, o que prende a atenção do seu público. Mas isso ainda não garante se vamos gostar deles ou não. Além disso, as lutas coreografadas são boas, tensas e intensas, pois em alguns momentos você até chega a sentir a dor que o personagem sentiu ao levar o golpe. Talvez eu seja suspeita para falar sobre isso, pois eu adoro artes marciais e kung fu e acredito que a série conseguiu trazer a intensidade e a realidade de um soco, chute e um pulo.
Outro ponto positivo são os efeitos especiais, como quando Danny concentra toda a sua força no punho, despertando a ansiedade no telespectador que espera pelo grande golpe.
Personagens contraditórios
Infelizmente o roteiro oscila bastante nessa primeira temporada, trazendo personagens que se contradizem o tempo todo. Vou dizer que foi difícil acompanhar alguns, já que eles mudavam de ideia como se estivessem trocando de roupa. A começar por Joy Meachum, a personagem mais contraditória da série. No primeiro momento, o público até compreende as dúvidas, os receios e as atitudes meio rudes de Joy, afinal uma pessoa aparecer do nada em sua vida dizendo que é o amigo que havia morrido em um acidente de avião não é algo fácil de aceitar. Mas, assim que ela confirma suas suspeitas sobre Danny, ela entra em contradição até o último episódio. Primeiro ela fica feliz e nostálgica por relembrar o passado com Danny e confirmar que ele é o seu amigo que adorava separar os MM’s marrons do restante; logo depois, ela se torna fria e oferece um contrato valendo milhões de dólares para ele esquecer a empresa de uma vez por todas; em um momento, Joy está a favor do irmão Ward; em outro, ela questiona, duvida e fica contra o irmão; em outra cena, vemos Joy feliz com o pai e matando as saudades dos anos em que ficaram afastados (assista para saber do que estou falando); em outro, ela desconfia das atitudes de Harold. Ou seja, o telespectador fica bastante confuso, pois nunca sabe em que lado Joy está: Danny, Ward ou Harold? Para mim, ela só escolhe um lado quando lhe favorece. Nada mais.
Outra personagem que também entra em contradição é Colleen Wing (Jessica Henwick). Eu a acho simplesmente foda lutando e defendendo suas ideias. Mas assim como Joy, Colleen também entra em contradição com os ideais que ela mesma defende. Ela acredita que lutar para ganhar dinheiro não é certo, mas assim que surge uma oportunidade, ela participa de lutas clandestinas nos becos de Nova York. Existe outro momento na série que faz o público ficar confuso a respeito do caráter de Colleen. Não vou dizer o que acontece, pois é SPOILER. Assista e descubra sobre o que estou falando. Mas, mesmo com esses probleminhas, Colleen é a minha personagem favorita de Punho de Ferro.
Vilões roubam a cena
Mais uma vez, os vilões se destacam e nos conquistam. Assim como Kilgrave (Jessica Jones) e Boca de Algodão (Luke Cage), Harold Meachum é aquele vilão que você odeia, mas respeita de tão foda que ele é. Desde o começo, o público sabe quais são suas intenções e percebe que Harold manipula quem estiver ao seu redor para ter seus desejos realizados. Harold é aquele personagem doce, mas assim que você o conhece passa a sentir o sabor amargo de tê-lo por perto. Ele traz o segundo grande plot twist à série, porém a justificativa usada para entender o que acontece com o vilão não é muito bem desenvolvida. Você aceita o que acontece, mas fica com dúvidas.
Para mim, Ward é mais vítima do que vilão. No começo é normal sentir raiva dele, mas assim que chegamos à metade da temporada, sentimos pena do personagem e até aceitamos algumas de suas atitudes, já que ele é totalmente manipulado pelo pai. Não é à toa que ele é viciado em relaxantes musculares e outros componentes. Só assim para encarar essa vida que ele leva.
Uma vilã que achei excepcional é Madame Gao (Wai Ching Ho), uma das líderes do Tentáculo. Ela é sincera e não se importa se a verdade vai te perturbar. Ela não esconde quais são os seus princípios e o que ela realmente quer da empresa Rand. Aliás, o Tentáculo é uma verdadeira caixa de surpresa da qual não se pode prever os planos e execuções. Não vou detalhar para não tirar a graça.
Pescando as referências
O que não falta em Punho de Ferro são referências feitas às outras séries da Marvel/Netflix. Logo de cara, temos a aparição de Jeri Hogarth (Carrie-Anne Moss), a advogada de Jessica Jones. Ela está aqui para ajudar Danny a recuperar tudo o que tem direito. Além disso, em um episódio, Joy relata que contratou uma detetive cujo trabalho é excelente quando ela está sóbria. De quem ela está falando? De Jessica Jones, é claro. Se você assistiu à série, com certeza captou a referência logo de cara.
Outra personagem que conecta as quatro séries da Marvel é Claire Temple (Rosario Dawson). Eu a acho simplesmente foda não só quando precisa bater ou cuidar de alguém, mas principalmente quando ela abre a boca para aconselhar ou puxar a orelha de alguém. Na série, ela diz que um amigo com poderes especiais já tentou combater o Tentáculo (grande organização ilegal), mas fracassou. Ela está se referindo ao Demolidor. Não posso dizer mais do que isso, pois ainda não assisti esta série (shame on me!). Além disso, Claire recebe uma carta que veio de um presídio. Quem está preso? Luke Cage! Além disso, ela empresta para Danny uma camiseta furada de Luke, afinal, ele sempre levava bala rs.
Considerações finais
O último episódio traz um desfecho decente para um dos problemas, mas deixa a série com três pontas soltas, aumentando a nossa curiosidade e ansiedade para uma possível 2ª temporada. Punho de Ferro surgiu criando expectativas, mas nem todas foram atendidas. O roteiro não detalha momentos importantes que poderiam melhorar a história, como o passado de Danny e sua vida em K’un-Lun; Danny se vende o tempo como arma imortal, mas pouco prova a sua afirmação. É aceitável não ver o desenvolvimento total do protagonista em uma primeira temporada, mas no momento em que ele afirma ser uma coisa, o público quer ver isso. Neste caso, eu gostaria de ter visto mais o punho de ferro em ação e não apenas Danny Rand. Outros personagens mostram força, mas se perdem ao entrar em contradição; já os vilões surpreendem e salvam a série em vários momentos.
Punho de Ferro não é a melhor série da parceria Marvel/Netflix, mas também não é tão ruim assim. Há momentos legais e bons cliffhangers, mas também apresenta muitos problemas no roteiro e desenvolvimento dos personagens. Se a série ganhar uma segunda temporada, espero que ela conserte os problemas, tape os buracos e traga respostas mais concretas às pontas soltas deixadas nessa season finale.
E aí, o que acharam da 1ª temporada de Punho de Ferro? Deixem nos comentários!
PS: Também não curti a abertura da série.
Ficha Técnica
Punho de Ferro
Criador: Scott Buck
Elenco: Finn Jones, Jessica Henwick, Jessica Stroup, Tom Pelphrey, Rosario Dawson, David Wenham, Sacha Dhawan, Carrie-Anne Moss, Ramon Rodríguez e Wai Chung Ho.
Nota (1ª temporada): 6,0