Após um ano da estreia da primeira parte, Wicked: Parte II (Wicked: For Good) encerra esta história mágica de amizade, amor, o bem e mal, consagrando Wicked como uma das melhores adaptações de um musical da atualidade. Com uma atmosfera mais sombria, a parte II traz aos fãs um desfecho agridoce e tocante, expandindo a história encenada nos palcos. Prepare-se para se emocionar novamente.
Com direção de Jon M. Chu, Wicked: Parte II acompanha Elphaba e Glinda separadas, vivendo as consequências de suas escolhas. Agora, Elphaba é demonizada por Oz como a Bruxa Má do Oeste, uma faceta criada por calúnias espalhadas por Madame Morrible e o Mágico de Oz. Vivendo às escondidas na floresta, Elphaba não desiste de lutar pela liberdade dos animais silenciados, por uma OZ justa e transparente, além de conseguir, de uma vez por todas, desmascarar quem o Mágico realmente é.
Do outro lado, temos Glinda nomeada como a Bruxa Boa, tornando-se o símbolo de bondade e esperança para Oz, uma posição que lhe proporciona fama e popularidade. Mesmo sendo a imagem do conforto aos habitantes, Glinda não passa de uma marionete nas mãos de Madame Morrible e o Mágico de Oz, que usa sua imagem para manipular e controlar nos bastidores.
Prestes a se casar com Fiyero, que vira líder da Guarda de Oz, as consequências das escolhas de cada um começam vir à tona, desde a fuga dos animais de Oz; a indecisão de Fiyero sobre o casamento e seus verdadeiros sentimentos, o governo autoritário de Nessarose, em especial para Boq; a ameaça da segurança de Elphaba; e a chegada de uma garota do Kansas, que chacoalha a cidade. Com isso, Elphaba e Glinda precisarão se unir mais uma vez para colocar um ponto final neste caos, desafiando a amizade novamente, o que definirá o destino de cada uma de uma vez por todas.

Apesar de Wicked: Parte II continuar em seu cenário colorido, fantasioso e tangível, a trama mergulha em uma atmosfera mais sombria, sobrecarregada e difícil, que ganha ótimos toques de leveza e humor, seja com os diálogos ou as performances de Ariana Grande e Cynthia Erivo, sem ser forçado, a fim de encontrar o equilíbrio ideal entre a magia e maldade, exposta aos envolvidos e camuflada aos inocentes enganados.
E mesmo a parte 1 sendo a favorita de muitos, a segunda parte traz tal obscuridade justamente para expor o mal construído, colocando uma pessoa inocente como a única culpada, por ser diferente e justa.
A sequência inicial da Bruxa Má do Oeste libertando os animais dos maus tratos durante a construção da estrada de tijolos amarelo de Oz representa a bravura da protagonista em fazer o certo, seguido pela distorção de sua imagem e a derrota de mais uma batalha.
Neste embate, o espectador relembra o questionamento feito por Glinda: uma pessoa nasce má ou se torna má? E esta sequência mostra que o mal é construído por aqueles que se beneficiam do poder, da difamação, do controle e sofrimento da minoria, especialmente dos que são considerados diferentes e especiais, vistos como uma ameaça ao poder que o outro tanto deseja. Pelo menos, esta é uma das visões que vemos no embate de Elphaba com Oz.

Entre estes conflitos, vemos o lado autoritário de Nessarose (Marissa Bode) e seu governo dominador, nascido pelo ressentimento de um amor não correspondido por Boq (Ethan Slater), gerando consequências irreversíveis ao personagem, além de mais um fardo para Elphaba carregar nas costas.
O filme também faz questão de estender a subtrama dos animais que, agora, se encontram em fuga para um lugar deserto e esquecido a fim de não serem silenciados e extintos. E tudo isso é emoldurado pelo ódio alimentado e a caça à Bruxa Má do Oeste.
Mais do que um embate sobre o bem e o mal, devo dizer que Wicked: Parte II é especialmente sobre a amizade de Elphaba e Glinda, uma união que tocou o coração do público e que, agora, precisa lidar com abalos, desafios e traições para se fazer a escolha ideal ao momento, fincando o destino para cada uma.
E mais uma vez, a dupla de protagonistas entrega não só sentimentos avassaladores, mas também um amor abalado, misturados ao humor feito sob medida, o que deixa Wicked: Parte II ainda melhor, com canções que emolduram os conflitos, desejos, além da comoção de cada um.

Cynthia Erivo entrega uma Elphaba calejada dos julgamentos, mas disposta a fazer o que é certo, enquanto toma consciência do que ou de quem é preciso deixar para trás para seguir em frente. Ela segue o coração, e mesmo que isso traga consequências negativas aos outros, ela escuta seus desejos e se vê com mais ternura, aceitando a mulher que é, a pele que tem e sua verdadeira essência.
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Ariana Grande traz os mesmos trejeitos de Glinda que, no momento, vive na berlinda entre a fama e popularidade, a amizade de Elphaba e o certo a se fazer. Aos poucos, vemos o castelo de vidro se quebrar e Glinda, de fato, enxergar o caminho que deve seguir.
E mesmo diante de tantos percalços, as duas exalam um amor incandescente que, mesmo com a amizade com o destino já traçado, tal sentimento perdurará para sempre. Claro que além da emoção aflorada, Ariana e Cynthia não deixam de performar momentos hilários em Wicked: Parte II, como por exemplo a famigerada briga entre as duas, uma das sequências mais divertidas do filme.

Jonathan Bailey entrega uma Fiyero desperto, com os pés no chão e ciente do que realmente sente e por quem sente. Enquanto o personagem exala charme e sedução na primeira parte, nesta sequência vemos o personagem finalmente ter um posicionamento que também vai lhe gerar consequências nada agradáveis inicialmente, tornando-se na mais correta a se fazer.
O antagonismo de Wicked: Parte II fica por conta de Michelle Yeoh e Jeff Goldblum. Madame Morrible não é só quem distorce a imagem de Elphaba para Oz, como também é a grande responsável pela sequência sombria do ciclone que leva uma casa ao desabamento, gerando efeitos colaterais irreversíveis. O Mágico de Oz continua debochado e fanfarrão, deixando a tarefa difícil para Morrible fazer. No entanto, seus atos maléficos se encontram nos bastidores, revelados por Elphaba que, finalmente, mostra ao público quem o Mágico, de fato, é.
Com relação às canções, Wicked: Parte II entrega uma trilha sonora com menos força sem comparada com a do primeiro filme. Apesar das músicas serem boas, apenas duas, de fato, são marcantes, não só pela letra, mas também pelo conjunto de cena e performance: ‘No Good Deed’, embala Elphaba em seu momento catártico ao ver o bem se distorcer, abraçando o seu lado ‘wicked’ de uma vez por todas. ‘For Good’ é a canção emblemática da história – tornando-se o subtítulo do filme – o ápice do último encontro de Glinda e Elphaba, antes do destino se concretizar para ambas. Uma despedida linda e agridoce.

As duas novas canções são boas e o destaque maior é de ‘No Place Like Home’, quando Elphaba canta enquanto tenta convencer os animais a permanecer em Oz. Já ‘The Girl in The Bubble’, reflete o momento conflituoso de quem Glinda se tornou e quem ela quer ser daqui para frente. Apesar de bonita, a música e a cena em si não são tão impactantes, podendo até cair no esquecimento.
A reta final de Wicked: Parte II expande a história do musical ao trazer respostas não vistas no palco. De fato, a linha narrativa do filme segue a mesma do musical original, como o famigerado momento em que Dorothy joga um balde de água em Elphaba, que derrete, dando o fim à Bruxa Má do Oeste, e revelando a sua verdadeira conexão com o Mágico de Oz.
Mas este final também compartilha ao público o desfecho aos animais ameaçados de silêncio e extinção; em qual mão o livro Grimmerie vai parar; e a liderança de Glinda, a Boa, em Oz. E como esta história, de fato, acaba? Bom, só assistindo ao filme ou ao musical para saber.
Considerações finais

Wicked: Parte II leva a história para uma atmosfera mais sombria, saindo da obscuridade em momentos de leveza e humor feitos sob medida. Os personagens ganham amadurecimento nítido e, mesmo diante de percalços e indecisões, eles não deixam de refletir seus posicionamentos entre as nuances da complexidade humana.
Mas Wicked: Parte II é mais do que um reflexo ou questionamentos sobre o bem e o mal, é uma carta de amor e amizade de Glinda e Elphaba, que sacrificam este sentimento genuíno, que não se desfaz, mesmo que o caminho não seja o mesmo.
Wicked é a excelência de uma adaptação musical, consagrando-se com um dos melhores filmes musicais atuais.
Ficha Técnica
Wicked: Parte II
Direção: Jon M. Chu
Elenco: Cynthia Erivo, Ariana Grande-Butera, Jonathan Bailey, Michelle Yeoh, Jeff Goldblum, Peter Dinklage, Marissa Bode, Ethan Slater, Colman Domingo, Adam James, Bowen Yang, Bronwyn James, Scarlett Spears e Mark Wilkinson.
Duração: 2h18min
Nota: 4,5/5,0



















