A série sueca Areia Movediça (Störst av allt) estreou dia 5 de abril. A produção Netflix, que retrata um drama policial baseada no best-seller de mesmo nome (2016) de Malin Persson Giolito, ganhou o público do streaming ao aproximar o telespectador de uma história que envolve suspense, crime e saúde mental e quebra os preconceitos construídos ao longo da trama.
A primeira temporada é composta por seis episódios estrelado por Hanna Ardéhn que vive Maja Norberg, uma adolescente que inicia um relacionamento com Sebastian (Felix Sandman) e se afunda em situações tensas de abusos e violência e, quanto mais ela tenta sair delas, mais se afunda, como em uma areia movediça.

A premissa é polêmica, assim como o enredo, os personagens e seu desfecho. Aos 18 anos, Maja é presa por cúmplice de assassinato e crime organizado. A produção começa após um massacre na escola do bairro mais rico de Estocolmo e os acusados são Maja e Sebastian, este que faleceu no local por tiros da namorada. A adolescente é presa e vai a julgamento.
A história é contada em flashbacks que nos situam tanto no começo e no desenrolar do relacionamento do casal até os detalhes de suas famílias e o momento do crime. Assim, a série é dividida em duas linhas cronológicas: uma com Maja durante o processo de julgamento; e outra que ilustra a sua relação com Sebastian.

Ao retratar o estado atual, percebemos a diferença entre a Maja de antes e depois de seu relacionamento. Ao ilustrar sua vida antes do crime, a narrativa nos faz perceber como, aos poucos, a adolescente foi sendo engolida por situações que a transformaram em muitos sentidos. Isso nos faz pensar se Maja é culpada ou não.
A protagonista não tem memória clara sobre o crime, não sabe dizer o que aconteceu, se vê em um momento pós-traumático enquanto é julgada. Não consegue deixar claro para nós a sua visão e seus sentimentos em relação a tudo.
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Como se estivesse anestesiada, Maja se porta indiferente com muitos comentários, perguntas e momentos durante o processo, menos no dia do julgamento e em raros momentos em sua solitária em que, por alguns minutos, se permite sentir e refletir sobre algo, o que nos deixa mais confusos. Afinal, até que ponto ela é ou não culpada? Ela é apenas mais uma vítima do crime? Esses pensamentos persuadem o público do começo ao fim, e o julgamento em si é mais sobre por que o assassinato foi cometido do que se foi cometido.
Aos poucos, vamos conhecendo Maja e Sebastian e, por mais que as histórias sejam contadas pela perspectiva da protagonista, sentimos que sabemos mais sobre o rapaz do que a própria. A adolescente é, muitas vezes, influenciada pelas pessoas ao seu redor e não tem muitas ações autênticas. Por outro lado, conhecemos Sebastian, que vai revelando sua personalidade e caráter progressivamente.

Com um pai violento, que o proíbe de ter contato com a mãe, e regado de dinheiro, o rapaz vive fazendo festas e usando drogas. Sebastian está perdido e, claramente, aparenta ter uma saúde mental debilitada e bipolaridade.
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Uma história que nos desperta a olhar diferente é a fase em que Maja é ludibriada por presentes, atenção e carinho e é persuadida pelo namorado diversas vezes para cometer “crimes”, como dirigir com 16 anos ou atirar, sem ter licença para isso; é abusada (psicologicamente e fisicamente); vive uma vida de poder, drogas e irresponsabilidades ao lado dele e, por fim, é acusada de assassinato. A partir do momento que julgamos a protagonista, em um primeiro momento, e depois, vamos conhecendo sua trajetória, relações e vida, percebemos que criamos preconceitos sustentados em uma primeira visão que temos sem conhecê-la.

A série desperta nosso olhar para alguns questionamentos pertinentes: até que ponto podemos julgar, sem saber, as atitudes de alguém? Até que ponto podemos afirmar, o que é certo e errado, durante uma história como essa? Até que ponto, temos certeza de algo, observando apenas um lado da história?
Por fim, o maior questionamento que perturba os pensamentos é: até que ponto conseguimos sair de certas situações enquanto as pessoas, a sociedade e até o acaso permanece nos puxando para elas? Eu ainda não descobri, leitor, mas se assistir e souber, me conte.
Ficha Técnica
Areia Movediça
Criação: Pontus Edgren e Martina Håkansson
Elenco: Hanna Ardéhn, Felix Sandman, William Spetz, Ella Rappich, David Dencik, Reuben Sallmander, Maria Sundbom, Rebecka Hemse, Arvid Sand, Helena af Sandeberg ,Anna Björk
Duração: 1ª temporada (seis episódios de 50min apróx.)
Nota: 8,5