Rua do Medo Parte 3 – 1666 (Fear Street) chega na Netflix para encerrar a trilogia e o ciclo da maldição que assombra Shadyside. O filme entrega as respostas que o público espera e surpreende com reviravoltas que, talvez, você tenha questionado no primeiro filme, mas ainda assim, o impacto é grande ao perceber que nem tudo é o que realmente parece ser. No geral, posso dizer que o streaming acerta no formato trilogia e na divisão dos lançamentos, justamente por causar curiosidade e expectativas que, felizmente, foram bem degustadas no intervalo de uma estreia para a outra e a satisfação não fica a desejar.
******CONTÊM SPOILERS******
Com direção de Leigh Janiak, Rua do Medo Parte 3 – 1666 parte dos eventos finais do segundo filme em que vemos Deena reunir mão e corpo da bruxa Sarah Fier e, consequentemente, ter a visão de tudo o que aconteceu no passado. Enquanto nos filmes anteriores vemos os personagens terem apenas flashes em suas mentes, o terceiro capítulo amplia a visão dada pela bruxa e faz Deena viajar no tempo e se ver na pele de Sarah Fier para entender o que realmente aconteceu em 1666 e como a maldição se sucede até os tempos atuais da protagonista.
A narrativa de Rua do Medo Parte 3 – 1666 se divide em duas partes, em que na primeira vamos acompanhar o desenrolar do passado, para assim, entender e se impactar com o desfecho desta trama ao retornar para 1994, onde tudo começou fechando a trilogia inspirada nos livros de R.L Stine de forma digna e satisfatória.
Crítica: Rua do Medo Parte 1 – 1994
Diferente dos dois filmes anteriores, o terceiro capítulo ainda tem cenas sangrentas, no entanto a violência e o toque brutal são reduzidos, o que afasta o longa do gênero slasher, mas não totalmente. Além disso, por se passar em uma época antiga, o fanatismo pela religião cega as pessoas e torna os pensamentos conservadores e radicais, em que qualquer falha humana, desejo, ideia ou ação que vai contra aos padrões é considerado um grande pecado, cuja condenação e redenção da alma pode ser desde a humilhação até à morte. Por conta disso, os personagens não são agradáveis como nos filmes anteriores, mas tal sentimento é minimizado uma vez que o público acompanha a visão pelo olhar da protagonista que enxerga os moradores da cidade com rostos conhecidos, como de Kate, Simon e Sam, além dos personagens do segundo filme como Ziggy, Cindy e Thomas.
Sarah Fier é culpada?

No instante em que o filme começa, a primeira resposta que surge por conta da curiosidade instalada desde o início é saber a razão para Sarah Fier condenar toda a cidade com a maldição. É logo no início que a trama surpreende ao revelar que a personagem nunca foi uma bruxa, apenas rotulada por ser diferente e culpada por amar uma pessoa na qual vai contra todos os princípios e costumes da época.
Da mesma forma que Deena e Sam são apaixonadas, Sarah Fier e Hannah Miller também despertam paixão e desejo uma pela outra, o que torna Sarah uma má influência para a filha do pastor da cidade, atraindo olhares julgadores e se tornando uma opção vingativa para acabar com o mal que atormenta a cidade. Um ponto interessante é que o terceiro filme abre a possibilidade de acreditar que há uma possível reencarnação deste amor não vivido na época, já que vemos a história se repetir com Deena e Sam, que lutam para que o amor seja mais forte que a maldição.
Por conta disso, o filme não só deixa claro que Sarah Fier é inocente como comprova ao apresentar o início desta maldição com o misterioso livro sob a posse da Viúva Mary, que carrega frases e magias sobre como compactuar com o diabo em nome do poder e de um bem maior. Se Sarah Fier não fez pacto com o outro lado, quem deu início a esta maldição e por quê? Qual o propósito de condenar uma cidade por séculos? É no desenvolvimento da trama que o filme surpreende com a grande resposta aguardada desde o início.
A origem de tudo

Rua do Medo Parte 3 – 1666 estabelece bem as relações dos personagens, tanto de Sarah Fier com os amigos quanto dela com Hannah, como também de quem julga, desaprova e condena qualquer atitude, ou por apenas ser diferente. Assim, conhecemos Solomon Goode, um homem tomado pela dor da perda da esposa e do filho que, por conta disso, faz ele e Sarah se aproximarem e criarem um laço de apoio e compaixão.
Tal amizade faz tanto a personagem quanto o público acreditar que Solomon irá apoiá-la no pior momento, uma vez Sarah e Hannah se tornam o alvo da cidade após o grande massacre em que o pastor – possuído pela maldição – mata 12 crianças, incluindo o irmão de Sarah. Todos acreditam que o pecado cometido pelas duas foi compactuado com o diabo, despertando a maldição, o que fortalece ainda mais o pensamento conservador dos moradores que tomam atitudes radicais para condenar Sarah e Hannah, como forma de desfazer as sombras que dominam a cidade.
Crítica: Rua do Medo Parte 2 – 1978
Entre idas e vindas, fugas e perseguições, a verdade vem à tona para todos, revelando a origem de tudo o que já foi mostrado anteriormente, entregando as respostas que o público tanto esperava. A Sarah descobre que Solomon Goode é quem deu a origem a maldição ao roubar o livro da viúva Mary e fazer o pacto com o diabo: em nome do poder, da ambição e riqueza serem frutíferas para sua família e suas próximas gerações, é necessário alimentar o diabo com quem mora na cidade. Assim, Solomon escolhe uma vítima e coloca o nome na pedra, oferecendo o sangue como oferenda ao mal, o que faz o espectador finalmente entender como as pessoas são escolhidas e a sucessão de mortes que acontece.
A partir daqui, vemos pela perspectiva de Sarah Fier como o ritual é realizado, assim como o local foi construído, junto com a figura emblemática no chão e a formação da gosma (vista no 2º filme) que dá vida aos assassinos sobrenaturais.
A Sarah e o Solomon entregam uma sequência sombria e intensa de perseguição e luta, em que vemos como Sarah perde a mão (não foi um sacrifício) e, consequentemente, capturada e levada à forca. Uma vez que ninguém acreditaria que Solomon é o verdadeiro causador do mal, Sarah leva a culpa por tudo, faz uma falsa confissão sobre ser a bruxa para poder inocentar e salvar a Hannah da condenação. No entanto, antes de ser enforcada, ela jura vingança para o Solomon, condenando sua família a este mal até que a justiça seja feita, o que faz o público entender a razão para Shadyside ser amaldiçoada e quem é o verdadeiro culpado por este ciclo ainda estar vivo.
O fim da maldição

Ao final da maldição, a narrativa entra na segunda parte que retorna para 1994, em que Deena finalmente entende tudo o que aconteceu no passado e descobre que Nick Goode é o verdadeiro culpado pela cidade ser amaldiçoada. Para dar riqueza e status à sua família e alimentar o bem-estar de Sunnyvale, Nick condena a cidade, entregando vida e sangue ao pacto com o diabo desde 1978 até hoje, o que deixa não só Deena assustada prestes a dar o fim ao mal, como Ziggy também fica atordoada ao saber a razão para ter perdido a irmã durante o massacre.
Eu Nunca: 2ª temporada está ainda melhor!
A reta final se estende até demais, no entanto, a sequência consegue prender a atenção ao criar tensão e expectativa para dar o fim à maldição, em que Deena declara que Nick Goode precisa morrer para tudo voltar ao normal. As cenas são boas e recuperam o estilo terror slasher com as armadilhas tanto para pegar Nick quanto para atrair os assassinos sobrenaturais, causando agonia e medo em que acompanhamos paralelamente o que ocorre com cada personagem em suas respectivas situações de risco, levando a um final excelente para todos.
Considerações finais
Rua do Medo Parte 3 – 1666 traz as aguardadas respostas dos filmes anteriores, com uma dose menor de sangue e violência, ambientado em uma época conservadora cujos julgamentos culminaram em uma maldição que perdurou por séculos e foi dizimada de forma satisfatória encerrando a trilogia Rua do Medo do melhor jeito possível.
Ficha Técnica
Rua do Medo Parte 3: 1666
Direção: Leigh Janiak
Elenco: Kiana Madeira, Benjamin Flores Jr, Olivia Scott Welch, Ashley Zuckerman, Gillian Jacobs, Sadie Sink, Emily Rudd Chiara Aurella, Ryan Simpkins, McCabe Slye, Ted Sutherland, Jordana Spiro, Michael Provost, Brandon Spink, Drew Scheid, Jordyn DiNatale, Randy Havens, Matthew Zuk, Michael Chandler, Lacy Camp e Jeremy Ford.
Duração: 1h52min
Nota: 8,0