Com o sucesso de Extraordinário em 2017, uma nova adaptação do livro de RJ Palacio ganha vida nas telonas, expandindo este universo de amor e alma. Pássaro Branco – Uma História de Extraordinário (White Bird: A Wonder History) apresenta uma trama linda e envolvente que adentra novamente em uma temática abstrata movida por atos humanos, provando mais uma vez que a gentileza pode mudar o dia de uma pessoa e, até mesmo, salvar uma vida. Um filme inspirador, apaixonante e emocionante para assistir. E vou te dizer o porquê.
Com direção de Marc Forster, Pássaro Branco – Uma História de Extraordinário parte dos eventos finais de Extraordinário, quando o personagem Julian (Bryce Gheisar) é expulso da escola, após fazer bullying com Auggie Pullman, como fora retratado no filme. Agora, Julian tenta levar a sua rotina em uma nova escola, mas encontra dificuldade ao tentar se encaixar entre os novos colegas.
É notável que Julian se sente consumido pela raiva e vergonha, enquanto acompanha pelas redes sociais seus antigos amigos ao lado do garoto que ele maltratou, mas que agora, se tornara o destaque da escola por conta de sua bondade, altruísmo e naturalidade por ser quem é.
Entre raiva, solidão e possível certo remorso, Julian se fecha, não permitindo se envolver com novos colegas. Além disso, o garoto se sente sozinho com a ausência dos pais, que dão mais atenção ao trabalho. No entanto, é a visita de sua avó Sara (Helen Mirren), quem vai ajudar Julian a virar uma chave necessária dentro dele.
Julian é confrontado gentilmente pela avó quando ela afirma que seu atual estado é consequência de seus atos ruins. Mas ela tem a consciência de que o neto não é uma pessoa má e, assim, ela sente a necessidade de dividir a sua história de infância, fortemente marcada por um grande ato de gentileza em tempos tão sombrios.
A partir daqui o público passa a acompanhar o passado de Sara em Pássaro Branco, que é a trama principal a ser destrinchada aqui. Somos levados para 1942, época em que Sara vivia sua pré-adolescência vividamente ao lado dos pais, mas tal felicidade é brutalmente interrompida quando a França é tomada pelos nazistas. Sara e seus pais são judeus, tornando-se o alvo principal de uma época trágica.
Sua rotina de pequenos momentos felizes é desconstruída aos poucos, desde lojas e mercadinhos que não permitiam a entrada de judeus; o comportamento hostil de colegas de escola; a demissão de profissionais por conta de sua cultura e religião; e o início da perseguição e caçada a este povo, que resultou em tudo que já sabemos.
Mas aqui, Pássaro Branco faz um recorte específico ao retratar um ponto de luz, esperança e a força por meio de um ato de gentileza que mudou a vida de Sara. Ao ser caçada na escola para ser levada presa – com as demais crianças judias – ela consegue fugir com a ajuda do diretor, da professora e de um ajudante, se escondendo na floresta, sem saber se verá os pais novamente.
É neste momento que Sara recebe a ajuda de quem ela menos imaginava. Julien lhe estende a mão, levando a garota para se esconder no celeiro da casa dos seus pais. O menino é colega de sala da Sara, mas sempre sofrera maus tratos, por conta do problema que tem na perna, consequência da poliomielite que disseminou na época.
Em um momento tão assustador, Julien consegue criar um pequeno porto seguro à Sara, alimentando a sua imaginação e criatividade, sem deixar a esperança morrer, mesmo que os riscos aumentem.
Pássaro Branco consegue desenvolver uma temática abstrata dentro de um tema histórico bastante conhecido e retratado em diversos filmes sobre Segunda Guerra Mundial. No entanto, o filme acerta ao fazer um recorte específico de uma situação que seja possível enxergar um mundo mais colorido, pequenos momentos de felicidade, alegrias, diversão, carinho e amor, enquanto o redor obscurece.
O ato de gentileza de Julien mostra ao espectador que a empatia e compaixão não deixam a esperança morrer, mesmo em tempos horríveis e com zero perspectivas para um fim. Mesmo ciente de que tal ato pode colocar sua família em grande risco, Julien segue em frente.
Pouco a pouco, Pássaro Branco detalha o desenvolvimento desta generosidade que se destrincha por anos, com as aulas que o garoto repassa o que aprendeu na escola para que ela não fique atrasada; o material para que Sara não pare de desenhar; as brincadeiras que alimentam o imaginativo dos dois, a fim de esquecer a realidade que vivem atualmente; além de todos os cuidados para que ninguém perceba que há alguém no celeiro.
E tal gentileza se estende com o pais de Julien, com destaque para Vivienne, que ganha uma interpretação incrível de Gillian Anderson, tornando-se a segunda mãe de Sara, com a ausência dos pais.
Crítica: Toda Luz Que Não Podemos Ver
Mas, mesmo que esta história seja contada pela Sara adulta, os protagonistas deste filme são as versões jovens de Sara e Julien, que ganham uma interpretação genuína de Ariella Glaser e Orlando Schwerdt. A dupla entrega grande carisma em meio a uma química doce, inocente, forte, determinada, em que vemos uma amizade crescente se tornar em uma história de amor. Impossível não se apaixonar por eles.
Claro que, em algumas cenas, retornamos ao presente para presenciarmos a forma como Julian recebe e absorve a história de sua avó. Vemos a armadura do personagem se desmontar, enquanto sua consciência altera, avaliando suas atitudes repudiáveis e como ele pode se tornar em uma pessoa melhor com pequenos gestos.
E esta história ganha a forte e envolvente voz de Helen Mirren, que nos conta com uma entonação leve que nos molda nesta redoma de esperança em meio a esta atmosfera sombria. Aliás, compreendemos também a razão para o neto ter recebido o nome de Julian.
Claro que, mesmo abordando a gentileza e o amor, Pássaro Branco não esquece do cenário que esta história está sendo desenvolvida. Há momentos duros, revoltantes e difíceis de encarar, afinal, trata-se de um dos momentos mais tristes e trágicos da história mundial.
Crítica: Os Meninos Que Enganavam os Nazistas
De um lado, vemos a maldade e frieza tomarem conta de pessoas aparentemente comuns na rotina dos protagonistas, como é o caso de Vincent (Jem Matthews), colega de sala na qual Sara tinha um crush, enquanto Julien sofria bullying em suas mãos. E tal ruindade fora alimentada com a força nazista, transformando-o em uma marionete monstruosa, cujo desfecho é cármico. Assista e descubra.
Mesmo com a maldade se espalhando, a gentileza não deixa de ser compartilhada às margens, seja pelos vizinhos, por amizade, pela esperança de pais encontrarem seus filhos e vice-versa, por professores que acreditam nas crianças, por estranhos em ajudar o próximo em nome da resistência.
Outro ponto interessante é a referência ao pássaro que Sara sempre vê, retratando a esperança que persiste, o que faz o espectador também entender o título do filme.
Considerações finais
O desfecho de Pássaro Branco – Uma História de Extraordinário é um turbilhão de sentimentos, em que os momentos de medo e tristeza acontecem e são irremediáveis, mas a esperança finalmente encontra a sua luz para um recomeço, com o fim dos tempos sombrios.
E com esta história, Julian reconhece os erros que cometeu, com a chance de se tornar uma pessoa melhor nos pequenos detalhes, gestos e atitudes. Já Sara, recebe uma grande homenagem por sua arte e tudo o que viveu, sem esquecer daquele que, um dia, lhe estendeu a mão no pior momento de sua vida, não deixando-a esquecer o que é o amor.
Pássaro Branco – Uma História de Extraordinário aproveita de um cenário histórico mundialmente conhecido para abordar sobre a gentileza, o amor, a generosidade e como um ato simples pode ser transformador para alguém. Um filme inspirador para ser assistido por muitos. Vale cada minuto.
Ficha Técnica
Pássaro Branco – Uma História Extraordinário
Direção: Marc Forster
Elenco: Helen Mirren, Bryce Gheisar, Ariella Glaser, Orlando Schwerdt, Gilliam Anderson, Jo Stone-Fewings, Jem Matthews, Ishai Golan, Olivia Ross e Jordan Cramond.
Duração: 2h1min
Nota: 3,9/5,0