Um ato de gentileza, às vezes, pode se tornar um grande pesadelo. É a partir de uma simples atitude que a trama de Obsessão (Greta) molda uma história que sabe prender a atenção, especialmente pela dupla de protagonistas, no entanto, a trama entrega decisões precipitadas que tornam o resultado um pouco absurdo. Mas se forem abraçadas pelo público, o filme acaba criando uma boa atmosfera de suspense aceitável, no final das contas.
Dirigido por Neil Jordan, o suspense psicológico acompanha Frances McCullen, uma garota que divide o loft com a melhor amiga em Nova York e trabalha em um restaurante de luxo. Um dia, ao voltar para casa, ela encontra uma bolsa esquecida em um dos vagões e até tenta devolver para os ‘achados e perdidos’ do metrô. Sem sucesso, ela encontra os documentos da dona, Greta Hideg, e decide ir até a casa da mulher entregar os seus pertences. Extremamente pela grata pela tamanha bondade, ela convida Frances para tomar café e, a partir daí ambas iniciam uma amizade improvável engatilhada pela solidão da mulher. Mas, à medida que a garota descobre as verdadeiras intenções de Greta e tenta se afastar, uma atmosfera de tensão se instala e, cada vez que Frances evita o contato, mais a mulher se torna obcecada pela amiga, neste caso, vítima.
Tanto o trailer quanto o elenco são elementos essenciais que instigam o público a querer ir assistir, afinal, um thriller psicológico sempre é bem-vindo e Obsessão, aparentemente, não fica a desejar. O roteiro é ágil, dinâmico e não perde tempo em apresentar e fazer a rápida conexão das protagonistas. O primeiro ato serve para ambientar e entregar as primeiras informações sobre as personagens, seja do passado triste e da rotina solitária de Greta, a inserção de Frances em Nova York, o seu dia a dia no trabalho e a amizade com Erica, além da razão para se mudado para a cidade grande: o falecimento da mãe.
Por mais que a amizade seja improvável, o público aceita a intimidade instantânea das duas para que, logo em seguida, a primeira reviravolta aconteça: Frances descobre que a tal bolsa perdida no metrô não foi coincidência, e isso não é spoiler. Ao ver que as intenções podem não ser tão inocentes, a garota se afasta de imediato, evitando responder mensagens ou chamadas de telefone. Porém, o filme cria um bom clima de suspense quando a trama dá início aos momentos de ‘stalk’ de Greta. Seja no restaurante, apartamento, ou na rua, a mulher está presente e, em nenhum momento, omite o quanto deseja falar com Frances, deixando-a mais assustada e desesperada.
O terror se instala nesta perseguição claustrofóbica, criando agonia e angústia tanto na personagem quanto no espectador, afinal, em qual canto Greta irá aparecer? Aliás, o que ela almeja fazer com a garota?
Quando o público mergulha na perseguição de gato e rato, o filme passa a entregar as motivações que fazem Greta agir dessa forma, enquanto Frances luta por sua proteção e de sua amiga, ao mesmo tempo que investiga tamanha obsessão que a mulher tem por ela.
O filme entrega bons elementos com o intuito de que a história flua do jeito mais natural possível, porém, ao final do segundo e começo do terceiro ato, Obsessão acaba tomando decisões premeditadas que, além de forçar situações, cria uma camada a mais em Frances que a torna inocente demais e muito boba diante de suas atitudes. Além disso, há duas cenas que enganam o olhar do público por um momento, o que é uma boa sacada, mas como o roteiro já adentra em uma trilha previsível, certos plots twists perdem o gosto da surpresa e caminham para o absurdo.
Mesmo com pontos receosos na trama, o filme se prende pela dupla de protagonistas que entrega uma boa atuação, apesar do texto não colaborar muito. Chloe Grace Moretz entrega uma Frances em fase de recomeço após uma grande perda na vida, inocente, bondosa, gentil, honesta e amiga de verdade, vide sua boa afinidade com Erica. É o seu bom caráter que a torna a isca ideal para Greta, entrando em uma rede de stalking que a aflige até o último minuto em que tudo vai por água abaixo. Mas, há momentos em que o espectador espera mais da protagonista, mas infelizmente, ela não toma atitudes mais radicais. Mas não é culpa da atuação e, sim, do texto.
Isabelle Huppert está fantástica como Greta que, de início, entrega uma mulher solitária e adorável, progredindo em degraus para uma psicopata que não esconde sua obsessão por sua vítima da vez. O sotaque francês e o jeito cordial são elementos formidáveis de atração e Huppert tem uma ótima performance nesse quesito, isso sem contar quando o lado psicótico dela entra em ação. Junto com Moretz, elas seguram as pontas mesmo quando trama toma um rumo estranho.
Maika Monroe interpreta Erica, que tenta abrir os olhos da amiga o quanto antes, mas não desiste de Frances, mesmo quando tudo parece estar perdido. Já o pai de Frances (Colm Feore) tem poucas cenas e dispensáveis, uma vez que ele só serve de complemento para o suspense, mas não ajuda em quase nada.
Considerações finais
Tais reviravoltas levam o filme a um desfecho exagerado que pode dividir opiniões. Obsessão é um thriller psicológico que entrega uma premissa muito instigante, mas derrapa quando toma decisões forçadas. Ainda assim, a atenção fica presa com o desespero de Moretz e, principalmente, a boa dose de psicopatia de Huppert.
Ficha Técnica
Obsessão
Direção: Neil Jordan
Elenco: Chloe Grace Moretz, Isabelle Huppert, Maika Monroe, Colm Feore e Thaddeus Daniels.
Duração: 1h38min
Nota: 6,6