A Disney mantém e engrandece o espírito da fantasia em O Retorno de Mary Poppins (Mary Poppins Returns), um filme que não vai trazer a famosa babá perfeita em uma roupagem mais moderna, com costumes do século XXI e, sim, vai homenagear o musical de 1964 mantendo a sua essência e magia sobre uma história cuja mensagem é nunca deixar de sonhar, imaginar e acreditar no lado bom das coisas.
Ambientado 25 anos após o primeiro – mas a verdade é que se passaram 54 anos entre as duas produções – O Retorno de Mary Poppins dá sequência à original premissa, trazendo de volta a família Banks, com Michael (Ben Wishaw) e Jane (Emily Mortimer) adultos passando por grandes dificuldades durante a Grande Depressão de Londres. Após a morte da esposa Kate, Michael precisa lidar com o luto enquanto cuida de seus três filhos John (Nathanael Saleh), Anabel (Pixie Davies) e Georgie (John Dawson), com a ajuda de sua irmã e da governanta Ellen (Julie Walters). Com a perda e a responsabilidade paternal, o rapaz acaba entrando em dívidas e colocando a casa nas mãos do banco, correndo o risco de perder o lar e todo o seu valor sentimental instalado nas paredes. É aqui que a antiga e nova Mary Poppins entra em ação, retornando para cuidar novamente dos irmãos Banks e, é claro, das crianças, como a própria personagem diz no filme. Entre uma tarefa de rotina e alguns dizeres, a babá é capaz de transformar uma ação simples em uma aventura fantástica e inesquecível. Para isso, ela conta com a ajuda de seu amigo Jack, um acendedor de lampiões otimista que ajuda trazer a luz e vida às ruas de Londres.
Estrelado por Julie Andrews e Dick Van Dyke, Mary Poppins foi um marco para o cinema nos anos 60 misturando magia, fantasia e animação em um musical que encanta corações, até hoje, com uma trama bem simples. Agora, a nova geração ganhará o mesmo presente com O Retorno de Mary Poppins que, com um novo e forte elenco, vai trazer o mesmo encanto de anos atrás.
Talvez alguns se frustrem por não ver uma história diferente, uma nova roupagem aos personagens clássicos, mas este nunca foi o projeto do filme. A verdade é que mesmo não acompanhando uma trama inédita, o longa quebra barreiras com uma trilha sonora inédita e um elenco que vai prender a sua atenção do começo ao fim, isso sem falar na proposta de reacender a mensagem de nunca deixar de enxergar a magia nos momentos bons e ruins, algo que, infelizmente, perde-se com o passar do tempo, mas que o filme tem a missão de relembrar os adultos e ensinar as crianças desta geração.
Enquanto o público acompanha a tristeza da família Banks, ele mergulha em um mundo encantado criado por Mary Poppins, que transforma um simples banho ou um passeio no parque em uma grande aventura que mistura realidade e animação. O mais interessante é que o filme se reinventa ao apresentar crianças mais ‘pé no chão’, que perdem um pouco da imaginação infantil, desconfiam e questionam as habilidades da babá. Mas a cada indagação, ela entrega as melhores respostas com uma simples frase e uma jornada lúdica. Aliás, o trio de crianças vai encantar o espectador, especialmente Georgie que nutre um espírito imaginativo mais rico.
Se por um lado, temos esse mundo que nos faz ver o lado bom, por outro, O Retorno de Mary Poppins faz questão de enfatizar que a maldade também pode penetrar tanto na fantasia (representado pelo lobo mau) quanto na vida real, retratado pelo banqueiro William Weatherall Wilkins (Colin Firth) que, sem escrúpulos, faz o banco lucrar às custas das dificuldades financeiras de seus clientes.
Mas para todo o problema há sempre uma solução. Uma delas é a cena de Meryl Streep que interpreta Topsy, a prima de Mary Poppins, que a cada duas quartas-feiras, vê toda a sua vida (e casa) de cabeça para baixo literalmente. A princípio, chega a ser uma cena fora de contexto, quase desnecessária, no entanto, este trecho acaba ganhando sua importância ao nos dar a lição que para encontrar uma resolução é preciso ter perspectiva, enxergar com outros olhos, seja para encontrar um jeito de ajudar a família Banks e, até mesmo, para o público apreciar mais esta cena que, por sinal, torna-se quase impossível não ter uma grande adoração com a atuação formidável de Streep.
Claro que, para a homenagem ser inesquecível, o filme repete alguns personagens do clássico, como é o caso do Almirante Boom e seu fiel ajudante Mr. Binnacle, responsáveis por sempre avisar as horas com o tradicional tiro de canhão. Além disso, há cenas musicais bem parecidas com o primeiro longa, como o passeio dentro da tigela de porcelana (que nos remete ao passeio animado no parque) e a sequência dos acendedores de lampião dançando e iluminando as ruas de Londres.
Toda essa magia em um mundo cinza criado pelo homem é moldada por uma Mary Poppins eloquente, inteligente, perspicaz, doce e direta que capta os olhares, as meias palavras e os pensamentos daqueles que estão à sua volta. Emily Blunt está espetacular neste papel e entrega uma protagonista nostálgica do clássico de 1964 e inovadora à nova geração.
Lin-Manuel Miranda presta uma linda homenagem ao personagem de Dick Van Dyke ao entregar um Jack otimista e admirador da magia que embala Mary Poppins. Mais do que ajudar, Jack também tem suas cenas fofas e até um plot romântico. Aliás, o próprio Van Dyke marca presença no filme, fazendo alguns passos danças no auge dos seus 93 anos.
Considerações finais
O Retorno de Mary Poppins não traz uma história nova, mas dá sequência a uma antiga premissa e homenageia o clássico de 1964 mantendo sua magia e essência nostálgicas. Além disso, o filme tem a missão de reacender a imaginação e fantasia que, um dia, pode se perder novamente. Mas Mary Poppins sempre vai voltar para relembrá-los, até a porta se abrir novamente.
Ficha Técnica
O Retorno de Mary Poppins
Direção: Rob Marshall
Elenco: Emily Blunt, Lin-Manuel Miranda, Ben Wishaw, Emily Mortimer, Julie Walters, Meryl Streep, Colin Firth, Pixie Davies, Nathanael Saleh, Joel Dawson, Dick Van Dyke, Angela Lansbury, David Warner, Jim Norton, Jeremy Swift e Bernardo Santos.
Duração: 2h11min
Nota: 9,0