O Nome da Morte pode até parecer um filme de ação sobre um pistoleiro brasileiro, mas não se deixe levar por isso, pois a trama é mais introspectiva, um estudo de personagem em que desconstruímos as camadas densas do protagonista e observamos o seu interior, sua consciência que oscila entre culpa e dever; crime e trabalho; amor e frieza.
Baseado em uma história real e livremente inspirado no livro homônimo do jornalista Klester Cavalcanti, o filme acompanha Júlio Santana (Marco Pigossi), um matador de aluguel que confessou ter assassinado 492 pessoas. Os crimes foram cometidos ao longo de mais de 20 anos de pistolagem, passando apenas uma única noite na prisão. A maior parte do tempo, Santana escondeu essa vida da mulher e do filho.
Ainda jovem, Júlio morava com a família no interior do Brasil. Por lealdade ao tio Cícero (André Mattos), Júlio matou pela primeira vez na adolescência. Descobre então uma perturbadora vocação que vai transformar em ofício. Homem carinhoso, Júlio se casa com Maria (Fabiula Nascimento). Religioso e atormentado a cada disparo, ele segue adiante enquanto mergulha em um país sem lei, onde cada vida tem o seu preço, mas nenhum valor.
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Falar de O Nome da Morte é explorar todos os detalhes e características de Júlio nesta trama. O filme nos apresenta um protagonista preguiçoso, que não toma iniciativa, muito menos quer trabalhar. Assim que o seu talento em atirar é descoberto, o público percebe que as intenções de Tio Cícero é introduzi-lo ao mundo da pistolagem, um trabalho que você é pago para matar.
O roteiro faz questão de apresentar as regras dos pistoleiros: primeiro, é preciso receber o pagamento antes de realizar o trabalho; segundo, o pistoleiro executa uma morte simples, fácil, prática e sem violência: um tiro certeiro na cabeça; terceiro, um pistoleiro não questiona o porquê da execução, apenas realizar o trabalho que foi pago; quarto, um pistoleiro não mata outro pistoleiro.
Ao mesmo tempo em que vemos uma construção do protagonista, vemos a desconstrução de suas camadas à medida que o número de mortos em sua lista aumenta. O filme faz questão de mostrar na tela, de tempos em tempos, quantas pessoas Júlio matou até agora, justamente para dar abertura ao espectador para avaliar não só a vida, mas também o estado psicológico e a consciência de Júlio. Na primeira morte, vemos o rapaz desnorteado por ter tirado a vida de uma pessoa, independentemente dela merecer ou não. À medida que o número de mortos aumenta, vemos várias oscilações do estado mental e espiritual de Júlio. Mesmo certo de que precisa matar para ganhar dinheiro, a culpa sempre martela em sua consciência e há sempre uma hesitação ao puxar o gatilho. Aqui nascem inúmeros questionamentos: essa pessoa merece? O que ela fez? Quem vai sofrer com sua perda? Será que ela vai perder muita coisa? Tudo isso é incorporado em uma ótima interpretação de Marco Pigossi, em seu primeiro trabalho no cinema.
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Pigossi encarna um homem que causa certo sarcasmo e deboche no público por ser religioso, mesmo sabendo quem ele é, o que faz e os pecados que comete. O filme faz questão de mostrar que o exercício da religião é aliviar o mínimo de culpa de Júlio e seus constantes pesadelos. Além disso, o ajuda a encarar sua família todos os dias, uma vez que eles não estão cientes de sua verdadeira profissão.
Outro ponto interessante é que O Nome da Morte utiliza uma narrativa não-linear, iniciando o filme com uma cena que acontece lá na frente para, assim, voltar e contar sobre a raízes do personagem principal.
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Com relação às mortes, o longa utiliza uma violência fria, cruel e angustiante, mas sem abusar de gráficos pesados e cenas explícitas. Há momentos em que a câmera evita e desvia do ato, a fim de deixar que o público apenas imagine. Algumas vítimas têm os seus motivos apresentados para dar abertura ao julgamento do próprio público.
Fabiula Nascimento também traz uma personagem que apresenta três camadas: a Maria inocente quando conhece Júlio; a Maria perplexa e perturbada ao saber o que Júlio faz; e uma Maria que aceita a profissão do parceiro a fim de dar o melhor à sua família, o que realça ainda mais a culpa e a ironia de levar uma vida exemplar e plena na base da morte. Aliás, o estilo de vida do casal é um ótimo exemplo que ressalta a oscilação da consciência de Júlio. A matança e a culpa o tornam nobres e pobres em vários estágios da vida.
O filme apresenta um final aberto, o que traz bons questionamentos sobre fé, coincidências, castigo e a lei do retorno. Falando assim parece estranho, mas quem assistir vai entender melhor o que eu quero dizer.
Ficha Técnica
O Nome da Morte
Direção: Henrique Goldman
Elenco: Marco Pigossi, Fabiula Nascimento, André Mattos, Matheus Nachtergaele, Martha Nowill, Tony Tornado e Augusto Madeira.
Nota: 7,5