Mortal Kombat é uma das franquias de videogame de grande sucesso entre jovens e adultos, que se estende desde versões clássicas e simples até as mais sangrentas e reais dos dias de hoje, hipnotizando o público com o grande e famoso torneio de luta.
Após 24 anos da última adaptação, Mortal Kombat ganha uma nova versão cinematográfica trazendo novamente personagens clássicos do game que se preparam para um novo torneio. Posso dizer que os cenários, figurinos, as sequências e finalizações de lutas, rivalidades e frases clássicas não só são fiéis aos atuais jogos, como também desperta o lado nostálgico do espectador relembrando os momentos icônicos do game. No entanto, em termos de desenvolvimento da narrativa quanto dos personagens ficam a desejar. Ainda assim, o novo longa consegue prender a atenção como bom e velho entretenimento. É o famoso “é ruim, mas diverte”.
Dirigido por Simon McQuod, Mortal Kombat traz de volta o tradicional torneio de mesmo nome, em que os campeões da Terra precisam derrotar os oponentes da Exoterra, liderados pelo Imperador Shang Tsung. O Deus Ancião e protetor do reino da Terra, Lord Raiden, precisa reunir os campeões que ostentam a marca do dragão e treiná-los o quanto antes, a fim de impedir o domínio do mal e a escravização da raça humana.
Na trama, o lutador de MMA Cole Young (Lewis Tan), acostumado a lutar por dinheiro, não faz ideia da herança que carrega – ou por que Shang Tsung enviou seu melhor guerreiro, Sub-Zero, um criomancer de outro mundo, para exterminá-lo. Temendo pela segurança de sua esposa e filha, Cole sai em busca de Sonya Blade por recomendação de Jax, um major das Forças Especiais que tem a mesma marca de nascença na forma de dragão que Cole. Logo, ele se encontra no templo do Lorde Raiden.

Lá, Cole treina com os experientes guerreiros Liu Kang, Kung Lao e o mercenário vigarista Kano, à medida que se prepara para enfrentar inimigos oriundos da Exoterra em uma arriscada batalha pelo universo. Contudo, será que ele treinará o bastante para desbloquear sua arcana — o imenso poder que existe dentro de sua alma – a tempo não só de salvar sua família, mas também de vencer a Exoterra de uma vez por todas?
O primeiro ponto questionável da narrativa é que o filme faz questão de ser autoexplicativo quase o tempo todo, ou seja, o público irá se deparar com todos os personagens sempre prontos a despejar uma série de conceitos sobre o Mortal Kombat. Por um lado, o roteiro explica como o jogo funciona, desde o significado da marca do dragão – quem nasce com ela ou adquire a marca, ou seja, o escolhido também precisa ser digno à marca para se tornar um campeão da Terra – até como impedir seu oponente que usará vários meios para quebrar as regras.
Por outro lado, o filme exagera nas explicações, deixando de optar que as cenas e as ações falem por si só a fim de que o público compreenda o que realmente está acontecendo.

Outro ponto que fica a desejar são os diálogos robóticos, dando a sensação de um texto decorado pronto para ser dito com o único objetivo de despejar os significados deste universo. O filme poderia ter trabalhado melhor na fluidez dos diálogos e na naturalidade tanto da fala quanto das ações dos personagens.
Em termos de contextualização da trama, Mortal Kombat acerta ao mostrar os séculos de rivalidade entre a Terra e Exoterra, como o primeiro grande embate entre Hanzo Hasashi (Hiroyuki Sanada), considerado um dos maiores campeões, e Bi-Han, o famoso Sub-Zero que luta a favor de seu Imperador. O passado não morre e retorna quando Shang Tsung deseja eliminar os campeões antes mesmo do torneio acontecer. A sequência inicial é um bom exemplo de como a cena consegue falar por si só, em que o público já nota quem é quem e compreende como este momento vai ajudar a desenvolver a história e afetará as decisões seguintes.
Personagens

Em termos de personagens, Mortal Kombat apresenta um leque menor se comparado ao filme Mortal Kombat 2: A Aniquilação (1997), que traz mais nomes clássicos do jogo. Mas ainda assim, a nova versão trabalha com um número satisfatório de personagens, se levarmos em consideração de que este longa serve de introdução ao universo em que todos compreendem o passado e presente e a razão para o torneio existir a fim de defender a Terra e a raça humana contra o mal.
A partir daí é possível entender a introdução de Cole e a razão para trazer de volta a linhagem tradicional e mais forte dos campeões da Terra. Cole é uma adição até que satisfatória ao time e o filme faz questão de mostrar o seu despreparo. Mesmo em meio ao mundo que não conhece, Cole aceita o desafio para proteger a sua família, um ponto que move o personagem para se tornar digno à marca do dragão. Cole é o tipo de personagem que vai dividir opiniões, em que uns vão gostar e outros não.
Junto a ele, o filme apresenta personagens clássicos do jogo, como e por que eles são escolhidos para se juntar ao grupo dos campeões, além de mostrar a transformação de cada um ao adquirir os poderes de acordo com o seu arcano. Sonya Blade (Jessica McName) e Jax (Mehcad Brooks) são ótimos personagens e ganham bons destaques na trama, assim como os experientes Liu Kang (Ludi Lin) e Kung Lao (Max Huang), que não só ajudam a treinar Cole, como também destacam a conexão fraternal que ambos têm.
Já o personagem Kano (Josh Lawson) tem o menor favoritismo pelo alto grau de chatice. Kano é o melhor retrato do interesseiro que joga no lado que lhe oferecer mais vantagens. Além disso, os diálogos desse personagem é um dos mais insuportáveis, já que ele só usa do tom alto e de frases pejorativas para atacar e se enaltecer, uma vez que não consegue construir bons argumentos ou ter boas motivações que façam jus a um campeão.

Já a Exoterra apresenta um bom time de oponentes, com grande destaque para Sub-Zero (Joe Taslim), um dos personagens clássicos do jogo que rende ótimas cenas de luta, além de ser o maior inimigo no filme. No entanto, Mortal Kombat não traz mais detalhes sobre a Exoterra como se espera e, consequentemente, diminui o espaço dos demais personagens inimigos que apresentam grande potencial, aparecendo apenas para os momentos finais e cruciais da trama, como é o caso de Kabal (Daniel Nelson), Nitara (Mel Jarnson), Reiko (Nathan Jones), Goro (Angus Sampson) e Mileena (Sisi Stringer), nomes clássicos do jogo, cujo tempo na história é menor.
Dos líderes, o meu favorito é o temido Shang Tsung (Chin Han), porém, Mortal Kombat não usufrui do grande potencial deste personagem, que se reduz a apenas dá ordens. O filme perde a oportunidade de colocá-lo em ação, especialmente por ele ter o poder de sugar as almas e se transformar em outras pessoas, o que seria incrível de ver.
Já o Lord Raiden (Tadanobu Asano) fica um pouco a desejar, uma vez que o personagem não esbanja tanto carisma e desdenha dos campeões. Espera-se que o Deus Ancião demonstre sabedoria para guiar e ajudar o grupo, porém a ausência de um cuidado maior na caracterização de sua personalidade prejudica o personagem.
E o torneio?

Em Mortal Kombat, o objetivo é acompanhar o grande torneio, uma ideia que é alterada na proposta do roteiro, uma vez que o filme se torna em uma grande introdução que nos apresenta os personagens que se preparam para um torneio que está por vir, mas de fato, não chega. O público não verá o torneio com todos na arena prontos para lutar com os oponentes, uma vez que o próprio torneio está embutido nos embates entre campeões e inimigos que lutam para que a grande competição continue existindo de forma justa a fim de defender a Terra e manter os integrantes da Exoterra longe da raça humana.
Mesmo não tendo o grande torneio, uma intenção que não cairá no agrado de muitos, o filme honra o jogo ao trazer na adaptação cinematográfica sequências de lutas violentas em que as finalizações ganham os famosos ‘Fatality’, rendendo em uma derrota sangrenta, cruel e visceral do oponente, desde cabeças arrancadas até corpos dilacerados, um ponto no qual o filme não tem medo de exagerar e acerta em cheio.
Além disso, temos outras referências clássicas ao jogo como as frases de efeito do vencedor (exemplo: “Kung Lao wins”), que chega a ser brega, mas é engraçado; há também a formação clássica dos oponentes para lutar e chegar até o embate principal, como é o caso de Jax vs Reiko, Liu Kang vs Kabal, Sonya Blade vs Kano ou Sonya Blade vs Mileena, além da famosa luta entre Sub-Sero e Scorpion, o momento mais esperado do filme.
Considerações finais
Não espere por um roteiro afiado e bem elaborado, uma vez que o grande entretenimento de Mortal Kombat é prender a atenção com grandes sequências de luta e honrar o jogo, um ponto que o filme acerta em cheio. Apesar do texto robótico, algumas ações enrijecidas e a falta de equilíbrio no desenvolvimento dos personagens, Mortal Kombat entrega boa fidelidade seja na caracterização de cada um, nos figurinos, cenários, nas rivalidades, nos easter eggs do game e, é claro, nas cenas fortes e sangrentas das lutas.
O jogo começou e o torneio está por vir, o que faz Mortal Kombat deixar um final aberto para uma possível sequência. Um novo filme não está confirmado, mas a porta está aberta e novos campeões ainda vão surgir. Mortal Kombat é aquele bom e velho entretenimento para você apenas curtir e nada mais.
Ficha Técnica
Mortal Kombat
Direção: Simon McQuod
Elenco: Lewis Tan, Jessica McNamee, Josh Lawson, Joe Taslin, Mehcad Brooks, Ludi Lin, Tadanobu Asano, Matilda Kimber, Laura Bent, Hiroyuki Sanada, Chin Han, Max Huang, Sisi Stringer, Mel Jarnson, Nathan Jones, Daniel Nelson, Angus Sampson e Damon Herriman.
Duração: 1h50min
Nota: 5,9