Ilha dos Cachorros (Isle of Dogs) é mais um projeto de Wes Anderson que chega aos cinemas na versão stop-motion. Tenho que admitir que esse tipo de filme não é um dos meus favoritos, mas para que caia no meu gosto, não é somente a técnica que tem que prevalecer, mas também um roteiro consistente e, principalmente, uma história que toque em nossas emoções. Na primeira parte, o diretor entrega uma obra primorosa, no entanto, o segundo item citado fica a desejar.
Ilha dos Cachorros se passa em um Japão futuro, onde os cachorros não são mais bem-vindos para conviver em sociedade, uma vez que foram diagnosticados como nocivos à população. Assim, a trama acompanha Atari, um garoto de 12 anos que mora na cidade de Megasaki, sob tutela do corrupto prefeito Kobayashi. Com a nova lei que proíbe os cachorros de morarem no local, fazendo com que todos os animais sejam enviados a uma ilha vizinha repleta de lixo, Atari não aceita essa condição, muito menos ficar longe do seu cachorro Spots. Assim, ele rouba um jato e parte em busca do seu amigo fiel. Esse resgate aventuresco vai transformar completamente a vida na cidade.
O perfeccionismo técnico e artístico de Wes Anderson faz o diretor entregar um filme formidável nesses aspectos, e isso não tenho do que queixar. Os modelos reais e diversos materiais utilizados dá gosto da gente assistir ao filme. Tanto os personagens como Atari e o prefeito quanto os cachorros estão bonitos e funcionam milimetricamente bem em cada canto da tela. Anderson faz questão de deslizar por todos os cenários para que o público aprecie o que ele tem de melhor a oferecer. Aliás, um dos pontos fortes do diretor é a simetria, em que vemos uma exatidão no posicionamento dos personagens, objetos, edifícios, panos de fundo, entre outros itens. O alinhamento e os espaços centrados são tão perfeitos que enche os olhos do espectador diante de um trabalho impecável. A paleta de cores caminha por tons saturados e pastel (com foco nas cores amarelo, verde, azul, bege, branco, vermelho e preto), realçando a impressão de lugar sujo e triste da ilha do lixo – um ambiente bem construído, repleto de sujeiras, ratos, esgoto, – e a tristeza e o pingo de esperança no olhar dos cachorros.
Com relação ao roteiro, Anderson, Roman Coppola e Jason Schuwartzman também estregam uma estrutura bonita, dividindo a narrativa em prólogo e quatro partes (isso é mostrado no filme) e ainda tentam dar um tom cômico leve ao citar os momentos de flashback e presente. Digamos que essa técnica nos dá uma leve sensação divertida, jocosa, aliviando os possíveis momentos tristes durante o filme.
Mas, mesmo apresentando essa estrutura narrativa até bonita, Ilha dos Cachorros erra a mão ao entregar uma história nada emocionante. No geral, podemos dizer que o filme é como um prato de comida: não importa ser só bonito, sendo que o sabor é o que prevalece no final das contas. Aqui, o longa torna-se cansativo devido às barrigadas na trama, nos dando a sensação de durar umas três horas (sendo que dura apenas 1h42min). E não emociona em quase nada, isso porque estamos falando de cachorros em sofrimento. Como não se sentir impactado com isso? Infelizmente não esbocei quase nenhuma reação com este filme. Não consegui me conectar com nenhum deles, nem com Atari que tinha o objetivo de resgatar seu animal de estimação, nem com nenhum dos cachorros principais.
Acredito que o trabalho da dublagem tenha atrapalhado nesse quesito. Os personagens/pessoas ganham uma dublagem em japonês (e com legenda), enquanto os cachorros ganham vozes de um elenco de peso, como Bryan Cranston, Edward Norton, Bill Murray, Frances McDormand, Jeff Goldblum, Scarlett Johnasson, Liev Schreiber, Greta Gerwig e outros. Porém, falta expressividade e muita emoção na entonação das vozes, algo que para mim é fundamental em uma animação, especialmente como esta. Talvez seja um estilo próprio de Wes Anderson? Sim, mas infelizmente não rolou desta vez.
Há outros momentos estranhos que acontecem no desenvolvimento do filme, como a revolta dos estudantes diante da lei imposta pelo prefeito e a forma fácil de como eles lidam com isso, como se não tivesse nenhuma dificuldade em chegar perto de uma figura pública e autoritária. Além disso, o desfecho do filme se divide, entregando um final digno para os cachorros e um final forçado para o prefeito e Atari, que para mim não funciona.
Considerações finais
Ilha dos Cachorros é um trabalho impecável de Wes Anderson em termos de técnica e estética. Dá gosto de apreciar na tela do cinema. Porém, o roteiro fica muito a desejar, entregando uma história que não emociona e personagens que não causam empatia nenhuma.
Ficha Técnica
Ilha dos Cachorros
Direção: Wes Anderson
Elenco: Bryan Cranston, Edward Norton, Liev Schreiber, Frances McDormand, Bill Murray, Jeff Goldblum, Greta Gerwig, Scarlett Johansson, F. Murray Abraham, Yoko Ono, Tilda Swinton, Courtney B. Vance e Bob Balaban.
Duração: 1h42min
Nota: 6,0