“Às vezes, estar morto é melhor”, diz Cemitério Maldito (Pet Sematary), uma nova adaptação da obra de Stephen King que entrega uma história sobrenatural muito bem contada. O mais interessante desta nova produção é que ela ousa modificar alguns pontos da trama original, o que não só surpreende como faz a narrativa fluir melhor e ter mais sentido nas telas.
Com direção de Kevin Kolsch e Dennis Widmyer, a trama acompanha o Dr. Louis Creed, que se muda de Boston para o interior de Maine com sua família a fim de buscar uma qualidade de vida melhor, mais tranquila e com mais tempo para os filhos. A casa é enorme, abrangendo uma enorme propriedade de terra que, inclui, um cemitério de animais. Mas além das árvores, existe um local misterioso, atrativo por uma energia pesada e mórbida, mas quem realmente conhece o local sabe que não deve ir lá. Um dia, uma enorme tragédia acontece com a família Creed e, assim, Louis pede ajuda ao seu vizinho Jud Crandall, dando início a uma reação em cadeia perigosa que liberta um mal imprevisível com consequências irreparáveis.
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O que torna Cemitério Maldito uma ótima história sobrenatural é que o roteiro cria todo uma atmosfera de horror em cima da não aceitação da morte. A família Creed apresenta certos problemas com relação a este assunto, seja a rejeição, o ceticismo e, até mesmo, a falta de conhecimento. De um lado, temos Louis, um médico cético que, constantemente, lida com a morte, mas não acredita que há vida após a desencarnação. Do outro lado, temos Rachel, uma mãe carinhosa e protetora que carrega um grande trauma do passado com relação a sua irmã. Ela tem um conceito mais religioso, mas certifica a todos de que não aceita a morte, o que a impede de dissertar sobre o assunto, desabafar sobre o passado, muito menos, explicar tal fenômeno aos seus filhos, especialmente, Ellie, que tem o contato com a morte, pela primeira vez, assim que conhece o cemitério de animais.
Quando o gatinho Church é atropelado, Louis não sabe o que fazer para contar a sua filha, mas o amor pela garota é tão avassalador, que ele vai além do impossível e, com a ajuda do vizinho, descobre o que há além do muro de galhos. Lá ele descobre um cemitério estranho, com uma energia pesada e atrativa para o mal, cuja terra é podre e forte o suficiente para ressuscitar qualquer coisa, assim explica o próprio Jud. O filme faz questão de criar um cenário fúnebre, escuro e obscuro, como se os personagens tivessem migrado da realidade para um conto de horror. A trama passa a confundir tanto o protagonista quanto o público sobre o que é real e o que não é, entregando momentos horripilantes que podem ser verdade, como apenas um sonho, além de figuras sobrenaturais como forma de alerta, como é caso de Victor Pascow, um dos pacientes de Louis.
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Assim que o contato com a terra ruim é feito, uma energia negativa paira sobre a família, trazendo momentos angustiantes e revivendo traumas. O grande baque é quando Ellie morre (Não é spoiler, já está nos trailers e outras divulgações), deixando a rotina da família de ponta cabeça e a mente de Louis ainda mais alucinada, afinal, ele sabe o que precisa ser feito reverter essa situação.
Cemitério Maldito equilibra bem o conceito de morte trabalhado no horror, com uma ótima trilha sonora de suspense, jump scares bem dosados no timing certo, cenários fúnebres e personagens perturbados. O propósito não é assustar facilmente o espectador e, sim, fazer ele adentrar em um terror psicológico, misturado entre o real e o fantasioso. Quando tudo sai do controle, o medo é instalado, gerando uma sequência aterrorizante e plot twists surpreendentes.
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Todos os personagens funcionam bem e tem uma ótima interpretação, seja Jason Clarke evoluindo em uma paranoia sobrenatural; Amy Seimetz perturbada com o seu passado misturado ao que está vivendo atualmente; John Lightgow alerta, arrependido e preso pela sua atração ao cemitério amaldiçoado; Jeté Laurence apresenta uma incrível transformação, indo da garotinha doce e meiga para uma face agressiva e violenta. Hugo e Lucas Lavoie interpretam um pequeno Gage doce e apenas observador de tudo o que acontece em sua volta.
Mas nem tudo é perfeito e Cemitério Maldito poderia ter aprofundado um pouco mais na relação de Louis e Jud e explorado mais sobre o ritual que as crianças do local fazem quando um animal morre, além detalhar um pouco mais sobre a mitologia por trás do cemitério. Acredito que essas abordagens teriam aprimorado ainda mais a dissertação sobre a morte dentro do filme.
Livro vs Filme
O filme é uma adaptação da obra O Cemitério e quem leu o livro e, até mesmo, viu a primeira adaptação de 1989 para o cinema, sabe que este remake sofre grandes mudanças, mas que se tornam extremamente positivas e ainda entregam um desfecho melhor.
– No livro quem morre é Gage; no filme quem morre é Ellie e esta foi a melhor adaptação que eles fizeram;
– Jud Crandall é casado com Norma. No filme ela já está morta, mas no livro ela está viva e tem um enorme carinho por Ellie;
– Enquanto o livro trabalha bem a ambientação do cemitério, desenvolve com mais profundidade a família Creed e a amizade de Louis e Jud, carregado de vários capítulos bastante descritivos (estilo bem conhecido de Stephen King), o filme se desenvolve mais os efeitos colaterais que o cemitério traz para Maine, especialmente para a família.
– O livro entrega um final bom, satisfatório e um pouco aberto, para fazer o leitor pensar e brincar com sua imaginação.
Considerações finais
Se no livro o final é bom, o filme entrega um desfecho ainda melhor e mais condizente a tudo o que acontece com a família, bem ao estilo Stephen King.
Cemitério Maldito é uma história sobrenatural de horror sobre a aceitação ou não da morte, com um cenário fúnebre, uma boa trilha sonora de suspense, sustos dosados e satisfatórios e personagens perturbados. Pelo visto, estar morto é bem melhor.
Ficha Técnica
Cemitério Maldito
Direção: Kevin Kolsch e Dennis Widmyer
Elenco: Jason Clarke, Amy Seimetz, John Lithgow, Jeté Laurence, Hugo e Lucas Lavoie e Obssa Ahmed.
Duração: 1h41min
Nota: 8,0