A primeira e maior animação clássica da Disney ganhou a sua versão live-action que vai dividir opiniões. Branca de Neve e os Sete Anões (Snow White) chega aos cinemas e entrega uma produção que tem os seus pontos positivos, mas também tem os seus problemas. Não sou do time que odiou o filme, mas admito que há ressalvas para se fazer aqui. Vou te dizer quais são e as justificativas.
Com direção de Marc Webb, Branca de Neve e os Sete Anões traz a clássica trama da primeira princesa da Disney, mas o diferencial está na extensão de sua história, que é mais enxuta na versão original.
******CONTÊM SPOILERS******
E o primeiro ponto positivo é exatamente a liberdade de uma adaptação em destrinchar melhor a sua narrativa, desenvolver pontos não vistos ou apenas citados e imaginados; apresentar alternativas de determinadas situações e atualizar uma história para os dias de hoje, sem perder a essência do original. No entanto, o live-action não consegue alcançar o toque encantado que as animações da Disney costumam ter.
Com relação à narrativa, Branca de Neve e os Sete Anões adiciona sequências não vistas (apenas citadas ou informadas tanto na animação quanto no conto original dos Irmãos Grimm), como a introdução dos pais biológicos da princesa, que reinam o povoado com gentileza, cordialidade, coragem e afeto; a interação da protagonista com a Rainha Má, algo que na animação só acontece na reta final, depois da transformação da vilã na Velha Bruxa.

Outro ponto interessante que o live-action não só acrescenta, mas também modifica é o desenvolvimento romântico entre Branca de Neve e Jonathan, interpretado por Andrew Burnap. A surpresa está no fato do personagem não ser o príncipe encantado e, sim, um cidadão que faz parte de um grupo da resistência contra o governo autoritário da Rainha Má. Digamos que Jonathan é uma espécie de Robin Hood do reino, cuja apresentação é até cômica pela forma como é descrito ao espectador. Além disso, Jonathan consegue exalar um charme divertido tanto na postura quanto nas falas.
Curiosidades sobre a animação da Disney1937
Tal desenrolar amoroso entre os dois personagens é importante para a construção da cena do ‘beijo do amor verdadeiro’, a fim de que não fique uma sequência superficial e coloque Branca de Neve apenas na posição de uma princesa à espera do seu príncipe, como na animação. De fato, o público testemunha que tal beijo foi, pelo menos, genuíno, para assim, quebrar o feitiço de maçã envenenada.
Outro ponto que, talvez, seja o maior medo de muitos nesta live-action, são os sete anões. Sim, admito que gostaria de ter visto os personagens em sua versão real, mas devido às polêmicas durante a concepção do filme, tal alternativa foi deixada de lado, fazendo a Disney trazer os personagens em CGI. O resultado? Não é desastroso como imaginado anteriormente, mas é uma situação que divide opiniões: muitos vão gostar, outros nem tanto.
Como sou do time que gostou e até se surpreendeu por ser satisfatório, Branca de Neve e os Sete Anões faz você gostar da interação da princesa com os anões pela conexão emocional que o filme constrói entre os personagens. Os sete anões são apresentados como criaturas mágicas da floresta e segue com as mesmas características de suas versões animadas, tanto nos nomes quanto nas personalidades.

A chegada de Branca de Neve na casa dos anões é divertida e segue o mesmo ritmo da animação, com pequenas mudanças nas interações, como o fato da princesa ensinar os anões a se comunicarem melhor e ouvir uns aos outros; o respeito que ela tem em entender e respeitar o jeito de Zangado; a aproximação carinhosa com Dunga, dando a oportunidade dele aprender a expressar os seus sentimentos e pensamentos aos demais; além do fato dela ensinar os sete anões a limpar a casa. Se reparar, na animação é Branca de Neve quem limpa e cozinha; no live-action, ela é quem orquestra os anões a organizarem a casa, sem tocar na vassoura.
Há quem goste do tom cômico que os sete anões dão ao filme; há quem ache bobo e fora do tom. Sinceramente, o espírito bobo dos personagens é gracioso, tornando o entrosamento com a princesa melhor, além de firmar a parceria que será fundamental lá na frente.
Claro que não posso deixar de falar da personagem que dá título ao filme e rege toda a história. Rachel Zegler entrega uma versão que mistura a princesa da animação com toques atuais para se encaixar nos dias de hoje. Temos uma princesa que luta para saber o que aconteceu com o seu pai; não aceita o governo autoritário que está dizimando um povoado que fora feliz e afortunado anteriormente; ela não teme em lutar ao lado do divertido grupo da resistência; ela não esconde os sentimentos que estão crescendo por Jonathan; ela encara e enfrenta a Rainha Má com ou sem medo; ela luta para trazer a paz e prosperidade ao reinado com a mesma gentileza que seus pais governaram no passado.
Não dá para negar que o live-action acerta ao trazer camadas extras da princesa, ampliando seu propósito, que ficara ausente na animação. Rachel Zegler não fica nada a desejar na hora de soltar a voz nas sequências musicais, mas, ao mesmo tempo, ela entrega uma versão da princesa muito teatral, com expressões forçadas até demais no rosto, perdendo a naturalidade e se afastando do encanto especialmente quando ela força para que isso aconteça. Entendem o que quero dizer?

Já o pior e mais fraco elo de Branca de Neve e os Sete Anões é a Rainha Má. As animações clássicas da Disney apresentam antagonistas que dão o sabor e a motivação perfeita para o caos acontecer e a mocinha ou mocinho lutar para uma solução. Infelizmente isso se perde totalmente no filme.
Gal Gadot decepciona em um papel fundamental à história. Ela se esforça ao máximo como Rainha Má e, mesmo assim, ela não consegue chegar lá. A atriz entrega uma atuação caricata que não intimida nenhum pouco. Ela exagera em momentos em que apenas um olhar, uma expressão minimizada, emoldurada pelo silêncio ou por uma voz calma e baixa, tornaria a atmosfera mais assustadora. E nada disso acontece.
O filme perde a oportunidade de trazer mais tentativas da Rainha Má em matar Branca de Neve, indo além da famigerada maçã envenenada. O diferencial é que, em um dado momento, ela pede para os soldados caçarem a princesa na floresta, depois de descobrir que ela está viva.
As interações entre princesa e vilã são OK, mas falta aquela intimidação e a atmosfera de medo em volta. Não há aquele ‘molho aterrorizante e invejoso’ da Rainha Má.
As cenas que poderiam fazer a Rainha Má elevar o seu potencial maléfico são as duas sequências musicais em que a personagem canta, mas além de serem totalmente sem graça, a vilã não consegue exalar o lado maléfico de forma crucial. O espectador até sabe, mas não consegue absorver a inveja que sente por não ser a mais bela de todas.
O que falar da magia fajuta de fazer uma rosa apodrecer? É possível entender na primeira vez, mas depois fica algo repetitivo e sem objetivo.

E por falar em canções, Branca de Neve e os Sete Anões tem sequências musicais legais, como Branca de Neve cantando ‘Wating On a Wish’, além das clássicas dos sete anões. Outra que surpreende é ‘Princess Problems’, cantada pela princesa e Jonathan e ‘Whistle While You Work’, cantada pela protagonista com os anões. As demais são satisfatórias, mas não memoráveis, com algumas cenas que se estendem além do necessário, como a canção ‘A Hand Meets a Hand’. Este é o momento em que o sentimento entre Branca de Neve e Jonathan se firma, mas poderia ser mais enxuta.
O live-action também causa estranheza nas transições bruscas entre as cenas, especialmente quando o espectador é jogado repentinamente de uma cena divertida e emocionante para um momento mais sombrio ou de confronto. Tal passagem de uma cena para outra deveria ser mais suavizada para preparar o olhar do público para o que virá a seguir.
Outro detalhe técnico que vai dividir opiniões é o uso de efeitos especiais nos animais da floresta. O filme opta em se distanciar de algo mais real e se firma no conceito de floresta encantada e magia, assim, temos animais que agem humanamente, ou seja, fazem expressões de alegria e tristeza como uma pessoa, o que pode causar estranheza para alguns e encanto e fofura para outros, como o público infantil.
A caraterização da Velha Bruxa é feita com próteses e maquiagem. Não é tão aterrorizante como na animação, mas também não é desastroso. É outro ponto que vai dividir os espectadores.
Os figurinos são medianos e as escolhas poderiam ser melhores. O guarda-roupa da Rainha Má é bonito e segue a paleta na cor preto e roxo que são extravagantes na elegância, enquanto o vestido usado pela rainha mãe é horrível (parece um pijama); já o vestido tradicional de Branca de Neve segue o padrão da versão animada, mas poderia ser mais lapidado.
Final diferente?

A reta final de Branca de Neve e os Sete Anões traz a clássica cena da maçã envenenada e a morte da princesa, cujo corpo é velado sob uma pedra em um cenário lindo, seguido pela sequência do ‘beijo do amor verdadeiro’, dado por Jonathan.
Mas ao despertar do sono profundo, Branca de Neve conta a todos o que realmente aconteceu com o seu pai e está decidida a tomar de volta o castelo e herdar o trono dos pais. É interessante ver a princesa voltar para lutar pelo o que é seu, iniciando o confronto final dela com a Rainha Má, cujo desfecho é diferente tanto da animação quanto do conto original.
Ao mesmo tempo que a briga final é extensa, especialmente pelo fato de Branca de Neve usar da gentileza para despertar o povoado do mal tóxico injetado pela vilã, ainda assim, é um momento interessante de ver.

Com a ajuda dos sete anões, Jonathan e o grupo da resistência, Branca de Neve toma o reinado para si, enquanto a Rainha Má é consumida pela própria inveja, sendo sugada pelo espelho mágico, afirmando que a verdadeira beleza de Branca de Neve não é só a estética, mas também é a bondade nutrida em seu coração, tornando-a na mais bela de todas.
Assim, a paz, gentileza e fortuna voltam ao povoado, agora reinado por Branca de Neve. E sabe quem narra a história? O Dunga. No fim das contas, ele consegue se expressar e o live-action dá a chance de o personagem falar pela primeira vez.
Considerações finais
Branca de Neve e os Sete Anões não é o pior live-action da Disney (assista Peter Pan e Wendy e você verá o que é live-action ruim rs). O filme acerta no desenvolvimento extra de sua história, os personagens e respeita o legado original, adaptando-o para os dias atuais e sem lacração, como muitos imaginaram que teria. Mas é um live-action que decepciona imensamente com a antagonista, apresenta decisões técnicas que poderiam ser melhores, além de outros problemas que vão dividir opiniões.
Ficha Técnica
Branca de Neve e os Sete Anões
Direção: Marc Webb
Elenco: Rachel Zegler, Gal Gadot, Andrew Burnap, Emilia Faucher, Ansu Kabia, Patrick Page, Andrew Barth Feldman, Tituss Burgess, Martin Klebba, Jason Kravits, George Salazar, Jeremy Swift, Andy Grotelueschen, Colin Michael Carmichael, Samuel Baxter, Jimmy Johnston e Dujonna Gift.
Duração: 1h49min
Nota: 2,9/5,0