Os Crimes de Grindewald é o segundo e instigante capítulo da franquia Animais Fantásticos, um filme mais sombrio que o primeiro que apresenta e foca em um vilão extremamente inescrupuloso, aponta para questões políticas com veemência, além de ser um prato cheio de reviravoltas que, consequentemente, vão gerar múltiplas teorias. Há pequenos problemas no roteiro, no entanto é possível chegar à conclusão que este segundo filme é uma peça de um vasto quebra-cabeça em que o espectador necessita de tempo e de respostas para encontrar o encaixe certo. Inúmeras dúvidas vão surgir, mas acredito que todas elas têm um propósito que, em breve, serão sanadas.
Dirigido por David Yates, Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindewald se passa meses após o desfecho do primeiro filme e começa com uma ótima sequência de fuga do antagonista, que deixa claro que não medirá esforços para alcançar seu objetivo. Esta cena, por sinal, está entre as melhores do filme, justamente por ser dinâmica e feroz, deixando claro que momentos obscuros estão por vir.
Assim temos a base do filme que se sustenta devido ao seu bom desenvolvimento. A trama se molda por completo na jornada do vilão, em que o público conhecerá suas verdadeiras intenções e mergulhará em uma atmosfera intensa e mortal para os ‘no-majs’ ou ‘trouxas’ ou para os bruxos não adeptos aos pensamentos do antagonista.
Grindewald é inescrupuloso e a ruindade emana de suas veias. Ele conquista seguidores com sua forte persuasão, capaz de espalhar o discurso do ódio com muita facilidade, surtindo em ataques letais desde aos mais inocentes (pessoas comuns) até aos bruxos que tentam proteger, mas acabam tomando decisões contraditórias, piorando ainda mais a situação. O ator Johnny Depp tem uma ótima atuação que se sustenta bem do começo ao fim, e ele entrega um vilão que o público vai amar odiá-lo. Mais do que um antagonista que faz o que for preciso pelo bem maior, as cenas de Grindewald apontam para questões políticas, com referências à ditadura e a Segunda Guerra Mundial (nazismo), puxando a história para uma grande espiral obscura.
Nostalgia e mundos fantásticos
Enquanto acompanhamos os crimes cometidos por Grindewald, juntamente com os personagens principais tentando impedir que o pior aconteça, o roteiro abre espaço para o fan service, revisitando a maleta fantástica de Newt Scamander e o famoso cenário dos filmes de Harry Potter. Animais Fantásticos 2 nos leva de volta à Hogwarts onde veremos o jovem Alvo Dumbledore dando aula de Defesa Contra as Artes das Trevas, além dos flashbacks que vão trazer uma compreensão maior e melhor sobre o relacionamento do professor com Newt, além da relação do magizoologista com Leta Lestrange.
O filme mergulha em bons efeitos especiais, traz antigos e novos animais fantásticos, expandindo esta mitologia. Há o fofo Pelúcio e seus filhotes que, por sinal, é de suma importância em determinados momentos; o cavalo da água, Pick (tronquilo de Newt), o demônio da água do Japão, os gatos protetores do Ministério de Paris, o famoso dragão chinês Zouwu, entre outros.
Enigmas e reviravoltas
Um ponto que pode ser positivo e negativo ao filme são os personagens que apresentam muitos segredos, o que rendem em reviravoltas interessantes à história, mas repletas de perguntas e poucas respostas, o que pode frustrar alguns. Pra começar, temos a famosa e misteriosa Nagini, interpretada por Claudia Kim. Muitos ficaram felizes com a participação da conhecida cobra de Voldemort e receosos por ser humana, afinal, como é a sua transformação? Quem é esta mulher? O que a levou a se tornar um animal permanente e ficar ao lado do vilão de Harry Potter? Nem todas as respostas estão no filme, mas o roteiro entrega uma introdução satisfatória da personagem, deixando mais informações para serem exploradas nas próximas sequências.
Quem se torna seu parceiro no filme é Credence, que não morreu no primeiro filme como muitos imaginaram. Ezra Miller retorna perdido e desesperado para saber mais sobre sua origem, quem são sua verdadeira família e como ele foi parar nos EUA. Claro que Grindewald irá persuadi-lo, afinal, Credence é a chave de uma das maiores reviravoltas do filme.
Outra personagem curiosa é Leta Lestrange, no entanto, a ela fica um pouco a desejar na história. Noiva de Teseu Scamander (irmão de Newt), o público descobre mais sobre o passado e a origem de Leta, além de atitudes que nos levam a mais um plot twist. No entanto, o que incomoda é a atuação apática de Zoe Kravitz, que se ausenta de ter uma personalidade mais forte e expressões que possam convencer melhor o público sobre sua dor e seus conflitos internos.
Quem se destaca
Eddie Redmayne retorna na pele do peculiar Newt Scamander. Se ele mostrou maestria em sua atuação no primeiro, neste ele não só confirma sua ótima performance, como também revela o bom caráter que tem por não ter essa sede de poder como muitos. A sua relação com Teseu (Callum Turner) é estranha, mas muito interessante, pois mesmo com pensamentos e opiniões opostas, o sentimento fraternal fala mais alto, fortalecendo a química dos dois. Mas ainda há muito que explorar na relação dos irmãos.
Jude Law é a escolha certa para ser o jovem Alvo Dumbledore e ele está muito bem aqui. Além de cativante, sua relação com Newt é sensacional, gerando uma química boa entre os dois. Há poucas cenas do personagem, uma vez que há algo que o impede de se envolver no confronto com Grindewald. Seu passado também é vasculhado, o que torna a história mais nostálgica e ainda o transforma em peça chave da grande reviravolta.
Quem fica a desejar
Se no primeiro filme Tina, Jacob e Queenie são os destaques, infelizmente em Animais Fantásticos 2, eles ficam bem apagados. Katherine Waterston está menos carismática e entrega cenas entediantes e uma personalidade fraca à personagem. Já Queenie (Alison Sudol) sofre um enfraquecimento, mas há um motivo para isso, o que lhe rende em um bom e inesperado desfecho. No entanto, a sua relação com Jacob (Dan Fogley) é pouco aproveitada, deixando o personagem perdido na trama, com ações inúteis e não muito bem contextualizadas.
Considerações finais
Com uma boa sequência de reviravoltas, o final torna-se estrondoso, enigmático e chocante, o que vai gerar uma série de questionamentos e teorias. Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindewald tem um bom fan service, um roteiro satisfatório e crescente, entrega uma história sombria, apresenta um vilão forte, persuasivo e odioso e mergulha novamente em um mundo fantástico com criaturas fabulosas e efeitos especiais encantadores. Parte dos personagens vão te conquistar em um estalar de dedos, enquanto outros irão decepcionar um pouco. É um filme que vale a pena assistir mais de uma vez para prestar atenção nos detalhes, referências e nomes, especialmente se você é fã do mundo mágico de J.K Rowling.
Ficha Técnica
Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindewald
Direção: David Yates
Elenco: Eddie Redmayne, Jude Law, Johnny Depp, Katherine Waterston, Alison Sudol, Dan Fogley, Ezra Miller, Zoe Kravitz, Callum Turner, Claudia Kim, Brontis Jodorowsky, Joshua Shea, William Nadylam, Kevin Guthrie, Carmen Ejogo, Wolf Roth, David Sakurai, Jamie Campbell Bower, Toby Regbo, Fiona Glascott, Victoria Yeates, Derek Ridell, Ingvar Eggert Sigurosson e Poppy Corby-Tuech.
Duração: 2h14min
Nota: 8,5