And Just Like That é a nova série da HBO Max e continuação de Sex And The City, sucesso que marcou a televisão nos anos 90 ao retratar a vida e os amores de quatro amigas na cidade de Nova York, quebrando o tabu ao falar sobre relacionamentos e sexo. Após 17 anos do fim da série e mais dois filmes no cinema, as protagonistas estão de volta nesta trama que pode ser definida com a palavra ‘adaptação’, afinal, a progressão e evolução retratados em uma cidade diversa, modificada e contemporânea é a marca registrada da estreia deste revival.
Mas não se deixe enganar, pois And Just Like That começa muito bem, mas não prepara o público para uma decisão chocante que dilacera os corações dos fãs de Sex And The City. Aguardem muitos acontecimentos nos próximos episódios, pois o início é excelente e muito emocionante.
And Just Like That será exibido semanalmente na HBO Max, mas já chegou com os dois primeiros episódios com 40 minutos de duração. Talvez a série siga com este tempo ou retorne com uma duração menor equivalente aos 30 minutos que os episódios de Sex And The City exibiam. Mas sinceramente, o espectador não sente o tempo passar e, na minha opinião, o episódio poderia ter até 50 minutos que não reclamaria de tão boa que é.

Assim, a trama insere o espectador novamente na conhecida Nova York, mas desta vez, com uma ambientação mais clara e clean que continua cheia, mas menos aglomerada como costumava ver quando os personagens caminhavam entre o amontoado de pessoas pelas ruas da cidade. Além disso, vale ressaltar que a história se passa na pós-pandemia na qual as personagens comentam sobre certos cuidados, passam álcool nas mãos e até usam luvas (no caso, a Carrie).
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Pelas primeiras impressões é possível dizer que ‘adaptação’ é a palavra chave que será destrinchada na narrativa de And Just Like That, na qual a degustação já é feita nestes dois primeiros episódios, seja no cenário quanto na evolução das personagens em que suas personalidades e seus gostos se encaixam em dias atuais que prometem explorar o sexo e os relacionamentos em meio a diversidade, novas culturas e novos gêneros. Além disso, é nítido enxergar as personagens que foram apresentadas e mergulhadas nos anos 90 se encaixando em 2021 em meio a tecnologia e as novas gerações, como vemos Carrie adepta ao Instagram enquanto Miranda ainda é presa aos livros e avessa a podcasts.
Nossas protagonistas

É logo no primeiro episódio que vemos toda essa adaptação se destrinchar enquanto o público toma conhecimento sobre o status das vidas das protagonistas desde o último filme Sex And The City 2.
Sarah Jessica Parker retorna com uma Carrie Bradshaw mais madura e adepta à nova geração em que ela se vê em um certo impasse de descontruir alguns costumes. Isso é visto na cena em que ela participa do podcast sobre sexo comandando por Che Diaz, uma comediante queer não-binária mexicana-irlandesa que traz o lado oposto ao falar sobre relacionamentos e sexo de forma explícita e sem papas na língua. É uma personagem diferentona e que bate de frente com a personalidade da Carrie, afinal, a protagonista é conhecida por escrever sobre sexo em uma coluna para um jornal, o que a tornou famosa nesta área. Mas será que Carrie está preparada para falar sobre o assunto abertamente e sem tanto pudor? Esta aí uma interação entre personagens que estou curiosa para acompanhar. Aliás, Sara Ramirez entrega uma interpretação forte à primeira vista que promete tirar a protagonista da zona de conforto mais de uma vez.
Junto a carreira profissional que segue muito bem, Carrie também está feliz em seu casamento longínquo com Mr. Big (Chris Noth), em que o casal segue estabilizado e muito feliz, na qual podemos ver nas sequências do jantar e da cama revelando os costumes, as manias e a intimidade própria de dois personagens que viveram uma montanha-russa em Sex And The City até alcançar a linha de chegada. Mesmo os altos e baixos da relação no passado, não tem como negar a química formidável de Carrie e Mr. Big (vale lembrar que o nome dele é John) que ultrapassa a tela.
A atriz Cynthia Nixon retorna como a maravilhosa Miranda Hobbs, cuja personalidade continua ferrenha e incrível, mas menos endurecida para algumas ocasiões quando o assunto é adaptação. Isso é retratado no momento em que ela retorna para a sala de aula para iniciar um mestrado, uma vez que ela deixou a advocacia corporativa para trás. O primeiro dia de aula é estranho em meio aos tropeços nas palavras quando ela conhece Nya (Karen Pittman), a jovem professora do mestrado que faz Miranda reavaliar os seus conceitos e suas impressões imediatamente. A cena é engraçada, ao mesmo tempo que mostra o quanto a personagem tende a evoluir até o final da série. Acredito que uma amizade vai crescer entre elas, prometendo uma nova visão do mundo atual para Miranda.
No quesito coração, Miranda segue firme e forte no casamento com Steve (David Eingerberg), enquanto o filho Brady (Niall Cunningham) já tem 17 anos e está com os hormônios a flor da pele ao lado da namorada. Quando vocês assistirem vão entender o que estou falando. Mas acredito que Brady dará um pouco de trabalho para Miranda que vai bater de frente com certas atitudes do garoto.
Já atriz Kristin Davis retorna na pele de Charlotte, que também segue com o seu casamento com Harry (Evan Handler) – o advogado que realizou o divórcio do primeiro casamento da personagem – na qual eles têm duas filhas que também estão crescidas: a jovem Lily (Cathy Ang), que se mostra uma pianista promissora com um jeito similar ao da mãe; e Rose (Alexa Swinton) que é completamente despojada, apaixonada por skate e avessa à vaidade que tanto Charlotte preza. As cenas iniciais mostram que Rose possui uma ligação mais forte com o pai do que a mãe.

Acredito que And Just Like That tem a oportunidade perfeita para desconstruir o lado tradicional de Charlotte que, pelo visto, ainda segue com certos conceitos e pensamentos um pouco quadrados, como se vê na cena em que ela comenta sobre a cor do cabelo de Miranda. É possível que a personagem seja mais explorada nos próximos episódios e torço para que isso aconteça.
Do elenco original também retornam os personagens Anthony (Mario Cantone) e Stanford – melhor amigo de Carrie – que seguem como um maravilhoso casal que, atualmente, estão em uma relação entre tapas e beijos que, ainda assim, é engraçado de ver. Vamos esperar os próximos episódios e ver qual será o destino deles, uma vez que o ator Willie Garson faleceu recentemente em decorrência de um câncer. Ele chegou a gravar alguns episódios, não se sabe quantos, o que faz o público aguardar para saber como o seu personagem será retratado na série e qual destino ganhará.
Ausência de Samantha

Sex And The City é protagonizado por um quarteto, porém And Just Like That segue com a ausência da personagem Samantha, uma vez que a intérprete Kim Cattrall brigou com Sarah Jessica Parker e afirmou que não voltaria mais ao papel. Com isso, muitos fãs questionaram como seria retratada a falta desta personagem tão icônica da história original.
Eis que a resposta vem de imediato nos minutos iniciais do primeiro episódio para acalmar os corações dos fãs. A série optou em não matar a personagem, o que muitos devem ter imaginado, mas entrega uma justificativa plausível, aceitável e triste para quem ama a amizade destas quatro mulheres. Descobrimos que Samantha brigou com Carrie depois que a escritora demitiu a amiga do cargo de agente literária, o que feriu os sentimentos e o orgulho da publicista. Com isso, Samantha aceitou um trabalho em Londres e se mudou para o outro lado do oceano, cortando os laços com Carrie, Miranda e Charlotte, sem espaços para trocar mensagens de texto ou ligações.
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And Just Like That tomou uma decisão satisfatória com relação à personagem, revelando o status atual do seu trabalho e da relação com as amigas. Ao mesmo tempo, dá uma pequena esperança de portas abertas para que a Samantha retorne. Eu sei que as chances disso acontecer são minúsculas, já que a atriz não quer. Mas é bom saber que Samantha e Kim sempre terão um espaço garantido na história atual, assim como tem na série original.
Reviravolta chocante

Para quem estava esperando um início leve, saudosista e apenas adorável na estreia de And Just Like That, não se preocupe porque tudo isso acontece, no entanto, a série não prepara o espectador para a surpreendente reviravolta que choca, impacta e dilacera os corações dos fãs.
Infelizmente, ao final do primeiro episódio vemos Mr. Big sofrer um ataque cardíaco e morrer nos braços de Carrie. O mais interessante de tudo isso são os detalhes desta sequência que prepara o espectador para algo importante e possivelmente devastador, e se você é um seriemaníaco irá captar as pistas rapidamente.
Na cena, vemos Carrie com o sapato que usou no casamento, enquanto Big olha fixamente para apreciar a imagem da mulher amada pela última vez. Com isso, o público acompanha o derradeiro momento em que a câmera alterna entre as cenas da apresentação da filha de Charlotte tocando o piano, a trilha sonora aumentando cada vez mais, paralelamente ao instante em que Carrie mexe na aliança e o Big infarta durante a aula de spinning.
Com tal decisão chocante, a reviravolta se destrincha no segundo episódio que se passa no dia seguinte com a Carrie digerindo a situação, o seu estado de choque enquanto organiza os preparativos para o fatídico funeral. Aqui também vemos Charlotte se sentir culpada por ter pedido para Carrie ir à apresentação de sua filha quando ela poderia ter viajado com Big. Mas a culpa não é de ninguém e o acaso fatal acontece quando menos se espera, confirmando o que muitos já sabem, mas é algo difícil de digerir: a vida é um sopro.
Confesso que não esperava este plot twist tão forte e chocante, uma mudança que será radical na vida de Carrie e na dinâmica da série, afinal Big sempre foi um personagem importante e o grande amor da protagonista. Claro que Carrie irá superar tal perda aos poucos, mas a saudade é uma marca que ficará na série, afinal, em um dia, Carrie e Big estavam felizes e plenos e, no dia seguinte, Carrie encarou as cinzas do marido dentro de uma caixa nas longas 5 horas de uma noite interminável.
Teorias

Com a decisão de matar o Big, And Just Like That trará grandes mudanças na vida de Carrie, reforçando a ideia da adaptação ser a palavra-chave desta narrativa. Como descobrimos que a protagonista ainda mantém o antigo apartamento, é possível que Carrie venda o local atual para não sofrer em meio as memórias do marido, ou apenas resolva passar uma temporada no antigo apartamento para se recuperar do luto.
Pode ser que a Carrie passe a escrever sobre perdas e recomeços no relacionamento, além de tratar sobre o luto no podcast, afinal este será um processo na qual ela vai viver por um tempo. Ou, talvez a série tome a decisão de sofrer um salto temporal de meses ou um ano para encerrar a tristeza e, assim, acompanharmos a protagonista seguindo em frente ao lado dos demais personagens.
Com a morte do Big, é possível vermos Carrie e Aidan juntos, uma vez que o personagem foi confirmado em And Just Like That. No começo, achei que seria uma mera participação, justamente por saber que Carrie e Big estavam juntos e felizes. Um triângulo amoroso não seria tão legal de ver, mas com a partida do marido, há chances de Carrie engatar em uma nova relação com um antigo parceiro. O que acham?
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Por fim, é possível que o público também reveja antigos personagens em pequenas participações, como foi o caso de Susan Sharon que apareceu na 2ª temporada de Sex And The City. Lembram que ela era casada com um homem babaca que só sabia gritar? Na época, Carrie acidentalmente sugeriu que ela se separasse do marido e, de fato, ela faz isso, mas depois reata a relação. No funeral, a personagem reaparece dizendo que “perdoa” Carrie pelo que ela fez no passado, uma memória que ela mesma não se recorda.
E aí, o que acharam da estreia de And Just Like That?
Ficha Técnica
And Just Like That
Produção executiva: Michael Patrick King
Elenco: Sarah Jessica Parker, Cynthia Nixon, Kristin Davis, Sara Ramirez, Chris Noth, Nicole Ari Parker, Karen Pittman, Cathy Ang, Alexa Swinton, Niall Cunningham, Brenda Vaccaro, Mario Cantone, Willie Garson, Evan Handler, David Eigenberg, Molly Price, Cree Cicchino e Alexander Bello.
Duração: (1ª temporada)
Nota: 8,5 (2 primeiros episódios)