O que aconteceria se as pessoas não conseguissem mais dormir? O que teria causado a eterna insônia? Esta é a premissa de Awake, nova produção da Netflix que apresenta uma proposta instigante sobre o início de um mundo pós-apocalíptico, mas decepciona com um desenvolvimento superficial e sem graça.
Com direção de Mark Raso, Awake acompanha Jill, uma ex-soldada que trabalha como segurança em uma universidade de tecnologia e ciência e batalha, dia após dia, para tratar o vício em remédios e, assim, recuperar a guarda dos dois filhos que está sob os cuidados da avó.
Em um determinado momento, Jill e os filhos sofrem um acidente de carro quando um incidente global acontece, provocando medo e caos na cidade, uma vez que ninguém sabe exatamente o que está acontecendo. Após o acidente e descobrir que os filhos estão bem, Jill e toda a população percebem que não conseguem mais dormir, passando mais de 72 horas em claro. Mas há um pequeno detalhe: sua filha mais nova Matilda é a única pessoa que consegue dormir, tornando-se a chave para desvendar o mistério que assola a Terra e, consequentemente, encontrar uma possível cura. Mas é preciso tomar medidas drásticas. Jill será capaz de entregar sua própria filha para as autoridades em troca da salvação da humanidade? O que pode acontecer com a menina se for colocada dentro deste estudo científico inicial?
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A proposta de Awake é muito interessante e logo desperta a curiosidade do espectador, no entanto, quando se trata de um mundo pós apocalíptico, é preciso estruturá-lo para uma compreensão maior: ou introduz este universo com mais detalhes para saber a razão deste cenário surgir; ou entrega uma explicação a respeito de um mundo pós apocalíptico já instaurado em que veremos os personagens em busca de sobrevivência nesta nova era, além de uma possível solução, certo?

Infelizmente, Awake começa do jeito errado e inicia sem explicar exatamente a ambientação em que os personagens estão. Uma queda de energia mundial ocorre, um acidente acontece e, instantaneamente, as pessoas já não conseguem mais dormir, o que faz a mente entrar em colapso e consequências brutais acontecer. Mas o que, de fato, fez a energia do mundo acabar? O que exatamente está provocando uma insônia agressiva em todas as pessoas? O que está atingindo o organismo e o cérebro do ser humano ao ponto de não conseguir mais fechar os olhos?
O filme erra feio ao não entregar explicações plausíveis não só para conquistar o público, mas também para criar uma credibilidade maior de sua proposta a fim de que o espectador compre e mergulhe na trama. A sensação que nos dá é que o roteiro foi cortado e esqueceram da parte inicial da história.
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Com relação ao funcionamento do cérebro após horas sem o sono REM, o filme entrega uma explicação breve e até contundente quando o amigo (Finn Jones) de Jill tenta convencê-la a levar a filha para um local seguro a fim de que médicos e cientistas possam encontrar uma solução. Isso faz o espectador entender superficialmente as ações agressivas e alucinações sofridas, despertando o pior lado das pessoas que tendem a ter um final trágico. No entanto, como as coisas acontecem de forma tão corriqueira, é difícil sentir complacência por aqueles que não resistem a este mal instaurado, o que faz o público não se importar tanto com alguns personagens e nomes bons no elenco como Barry Pepper e Frances Fisher, que são mal aproveitados no filme.

Sem uma boa introdução, o filme se desenvolve em uma espécie de road trip de fuga, em que Jill luta para sobreviver e proteger o filho Noah, enquanto ensina lições e truques para a filha Matilda, caso a protagonista não resista mais à falta de sono. Nesta viagem, vemos as tentativas de sobrevivência, o medo de falhar e a insegurança diante de outras pessoas em estado crítico, desde prisioneiros agressivos até sobreviventes aleatórios perdidos estrada a fora. Neste caminho, Jill se depara com o ex-presidiário Dodge (Shamier Anderson), uma boa adição ao núcleo da protagonista, mas um personagem mal aproveitado em que o espectador pouco sabe a seu respeito.
A atriz Gina Rodriguez faz o melhor que pode e se esforça em seu papel ao entregar uma personagem desesperada em proteger os filhos, enquanto luta contra a insônia e alucinação e decide o que fará caso chegue ao posto principal em que as autoridades buscam por uma cura. No entanto, o roteiro também esquece de desenvolver melhor o background da protagonista, que poderia lhe ajudar neste mundo pós-apocalíptico.
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Na trama, Jill é amiga e parceira de trabalho da psicóloga interpretada por Jennifer Jason Leigh, cuja personagem teria grande importância para explicar o que está acontecendo com as pessoas, se o filme tivesse a desenvolvido melhor, mesmo já sob os efeitos da falta de sono, algo que não acontece.

Já os filhos Noah (Lucius Hoyos) e Matilda (Ariana Greenblatt) conseguem carregar a trama ao lado da protagonista que, a trancos e barrancos, entrega um 3º ato satisfatório e revelador, uma vez que a menina desvenda o que realmente está acontecendo com todos e a possibilidade de salvar aqueles que ainda resistem à insônia. Tal plot poderia ter sido melhor explicado ou, até mesmo, servido como uma ótima reviravolta no filme, mas se reduz apenas a um desfecho de uma trama mal executada.
Considerações finais
Awake apresenta a ideia genial de um mundo pós-apocalíptico em que as pessoas não conseguem mais dormir e suas consequências, mas entrega uma trama mal executada em que não há explicação para a origem deste mal e a razão para afetar o sono das pessoas. Além disso, o filme não desenvolve os personagens, muito menos cria boas conexões entre eles e entrega reviravoltas que poderiam ter sido exploradas antes, mas se tornam apenas em um desfecho que aguça a curiosidade por mais respostas nas quais não existirão. Awake é um filme cuja proposta é boa, mas é totalmente desperdiçada.
Ficha Técnica
Awake
Direção: Mark Raso
Elenco: Gina Rodriguez, Ariana Greenblatt, Lucius Hoyos, Shamier Anderson, Frances Fisher, Jennifer Jason Leigh, Finn Jones e Barry Pepper.
Duração: 1h37min
Nota: 4,9