Após três anos de espera, Stranger Things está de volta em sua 5ª e última temporada. A parte 1 – com quatro episódios – já está disponível na Netflix e apresenta um promissor início do fim, cuja dinâmica dos personagens está amadurecida, uma evolução se encaminha sem espaço para amadorismo. A série não demora para entregar respostas que os fãs anseiam desde o final da 4ª temporada, além de engrossar o mistério em torno do vilão e reviravoltas que podem deixar o espectador de queixo caído.
Com episódios longos (até 1h30min de duração), a 5ª temporada de Stranger Things se passa em dezembro de 1987, 18 meses após os eventos da 4ª temporada. Hawkins se encontra em estado de emergência sob o comando militar, que ocupam a parte afetada pelo Mundo Invertido, em que eles têm acesso a um dos portais, que fica visível para qualquer um ver.

Já as rachaduras que o terremoto provocou na cidade – com a abertura dos quatro portais – foram pavimentadas, tornando-se até brincadeira para as crianças. Logo, o espectador descobre que foi construído uma grande base militar no Mundo Invertido, sob o comando da Dra. Kay (Linda Hamilton), cujo objetivo é explorar e entender as criaturas, mas também capturar Eleven a qualquer custo.
Do outro lado temos os nossos personagens cuja dinâmica está 100% conectada, amadurecida e treinada, não é à toa que já realizaram várias missões para encontrar Vecna, até agora. No entanto, em meio a tanta tensão, foco e racionalidade, há fraturas emocionais expostas em expressões, diálogos e, até mesmo, novas parcerias em ascensão.
Conexões e reencontros marcam 4ª temporada de Stranger Things
Stranger Things dá uma pausa na atmosfera nostálgica e diminui a inocência em torno dos personagens, uma vez que a história ganha molduras mais sombrias e um tom mais adulto, afinal, nossos protagonistas já não são mais crianças, mas, ainda assim, precisam encarar precocemente medos e perigos que ainda não cabem para a idade deles e, ainda assim, lidam com sabedoria. Junto a isso, vemos alguns finalmente se libertarem de aprisionamentos internos, iniciando uma evolução até então desconhecida, mas esperançosa.
Strangers estão de volta!

Mais uma vez, Stranger Things divide o elenco em núcleos para abranger cada subtrama, como sempre fez, o que é positivo novamente. Mas esses grupos se misturam e se subdividem em momentos cruciais para cobrir cada parte do plano.
Em meio a missão, acompanhamos feridas ainda não cicatrizadas, como o luto de Dustin pela morte de Eddie, e sua revolta tanto para pegar o Vecna, quanto para rebater aqueles que ainda abominam o clube Hellfire, como os amigos de Jason. Isso gera brigas, mas também mostra que o grupo não abaixará mais a cabeça para o bullying.
Nancy, Jonathan e Steve formam certo triângulo amoroso em que os meninos criam uma disputa pela atenção de Nancy. É algo embutido, mas não tira o foco da trama principal, mas deixa claro que o relacionamento de Nancy e Jonathan ainda está mexido.
A dinâmica de Steve e Dustin continua com humor e sarcasmo, mas nota-se que as dores de Dustin dão uma leve chacoalhada nessa amizade. Senti falta de um apoio maior do Steve, mas acredito que o público verá Steve ajudar Dustin emocionalmente.

Mike, Lucas, Will, Joyce e Robin seguem como outro grupo que acompanhamos na série, criando novas parcerias que conquistam o público. Lucas nunca saiu do lado da Max, que se encontra em coma, provando a amizade e o amor que ele tem por ela.
Mike está mais maduro e continua sendo o elo forte de Eleven quanto o motor para Will. E ele, junto com Nancy, encara um momento chocante e doloroso quando um demogorgon sequestra a irmã mais nova, Holly, e deixa os pais extremamente feridos no hospital, uma sequência que deixa o espectador angustiado.
Mike e Nancy se questionam se poderiam protegido mais a família, uma vez que Nancy já sabia deste destino revelado por Vecna. No entanto, os irmãos conseguem descobrir pela mãe quem está por trás do desaparecimento de Holly.

Outra parceria que carrega boa parte do desenvolvimento desta primeira parte da última temporada é Hopper e Eleven, que vai desde o treinamento assíduo da garota, até a passagem para o Mundo Invertido e a infiltração na base militar, o que gera angústia e uma revelação que muitos fãs ansiavam por uma resposta há um bom tempo.
Quem novamente se destaca em Stranger Things é Erica, que faz o excelente trabalho de se infiltrar na casa da ex-melhor amiga Tina e dopar a família para proteger Derek das ameaças do Mundo Invertido. Quem achou que Erica Sinclair sofreria bullying nesta temporada, se enganou. E até agora, nem o Vecna se arrisca a pegá-la, já repararam nisso? rs
Stranger Things: 4ª temporada tem desfecho dilacerante
Já Murray (Brett Gelman) retorna como o fornecedor oficial de suplementos e armas para o grupo, além de ajudá-los em casos de fuga. É o personagem ‘pau para toda obra’.
Novos personagens

Dois novos personagens são apresentados nesta 5ª temporada de Stranger Things, conquistando o público gradativamente e com bons plots. A primeira é Holly Wheeler (Nell Fisher), irmã mais nova de Mike e Nancy que, agora, está maior e ganha um espaço crucial na trama.
Ela se torna na mais nova vítima de Vecna, sendo levada para o Mundo Invertido, depois de ter visões com o misterioso Sr. Fulano que, na verdade, é Henry/001 (falaremos sobre ele logo mais). Holly mostra que não quer ser só mais uma garotinha assustada e, assim como os seus irmãos, ela encara o desconhecido para saber o que está acontecendo. É uma personagem promissora e promete render em um plot pra lá de interessante.

Outro personagem que se destaca especialmente pelo seu vocabulário sujo é Derek Turnbow (Jake Connelly), que começa como o garoto que faz bullying na escola, tornando-se em uma vítima do Vecna a ser protegido, ficando a favor do grupo e se infiltrando na base militar, quando as crianças da cidade são levadas para lá.
Derek é boca suja e teimoso, mas quando fica frente a frente ao perigo, ele faz a escolha certa ao lutar junto. A cena dele conduzindo as crianças par fugir pelo banheiro é sensacional.
E a Max?

A 5ª temporada de Stranger Things não demora e já entrega a primeira grande resposta sobre o que aconteceu com a Max? Na temporada anterior, vimos que Eleven não conseguiu encontrá-la em sua mente, o que fez o público criar teorias de que a garota estivesse em algum tipo de aprisionamento mental.
E a verdade é concretizada, pois Max está presa nas memórias de Vecna, assim como Holly. O encontro das personagens gera esperança e conforto ao saber que ambas estão vivas, com possibilidades de voltar, mas também com chances de algo dar muito errado, colocando seus corpos físicos em risco.
Pode ser que alguns sintam certa estranheza ao ver esta dupla em um cenário colorido, pacífico e reluzente, desde a casa Creel, até a floresta radiante e a caverna, cuja vista é linda. Mas as aparências enganam e tal local nada mais é que uma junção de memórias do Vecna, que aprisiona suas vítimas.
O público também descobre o que aconteceu com Max, logo após Eleven ressuscitá-la, levando a garota a passear tanto pelas memórias de Henry, quanto pelas suas próprias e dolorosas memórias dos últimos acontecimentos. Ela fica presa em uma espécie de labirinto, em que seu único guia é a música de Kate Bush, que Lucas sempre coloca para ela escutar. O portal para retornar à vida é aberto, mas quando a música para, o portal se fecha. Seria a música a grande salvação para Max? Ou pode ser uma pegadinha do Vecna e ter feito a música parar de propósito?
Outro ponto interessante é saber que a caverna é o refúgio que protege Max de Vecna/Henry, pois traz uma das piores lembranças ao vilão. E qual seria esta memória? Aliás, quem aí também sentiu uma vibe de ‘Alice no País das Maravilhas’ neste plot?
Agora que Holly também está lá, a esperança de Max retorna e ambas irão encontrar um jeito não só de sair, mas também de ajudar as outras vítimas aprisionadas, pois vimos que outras crianças foram pegas por Vecna.
Will e Robin

A 5ª temporada de Stranger Things acerta ao entregar uma nova parceria que conquista o espectador: Will e Robin. Esta dupla surge justamente para tirar Will da bolha de proteção que Joyce criou por conta dos traumas sofridos com o filho, e não há como culpá-la por fazer isso.
Will passa a ver Robin como a pessoa que ele também quer ser, enquanto Robin enxerga não só a potência que o garoto carrega dentro de si, como ela é o guia para Will finalmente se soltar das amarras emocionais e abraçar quem ele é de verdade.
Robin entende que as visões de Will o torna em uma antena que capta a mente colmeia do Mundo Invertido, fazendo ele ter visões do ponto de vista da vítima, do demogorgon e, é claro, do Vecna. Sim, Will não só sente, como enxerga como o Vecna, como se ele fosse o vilão.
Isso é comprovado quando Holly é sequestrada, mas principalmente quando Joyce fica frente a frente ao demogorgon, e o monstro recua. Isso faz Mike levantar a hipótese de que Will tenha chances de ter o mesmo poder de controlar, ‘puxar as cordinhas da marionete’, da mesma forma que Vecna.
E é exatamente isso que acontece quando os demogorgons invadem a base militar, enquanto o grupo tenta resgatar as crianças. Encurralados, Will consegue se libertar a partir de uma memória de infância sobre a amizade dele com Mike, controlando e matando os demogorgons, da mesma forma que Vecna mata as suas vítimas, ao canalizar os poderes do vilão.
A segunda maior revelação acontece aqui, abrindo a grande possibilidade de que Will possa ser uma ‘arma perfeita’ para derrotar Vecna, fazendo o vilão provar do veneno que criou, ao desdenhar sobre a fraqueza de Will.
Mais do que uma memória, a amizade de Will e Mike não só o fortalece, como mostra seus verdadeiros sentimentos sobre si mesmo, e sim, também sobre sua sexualidade. Não é sobre gostar do Mike, mas é sobre Will gostar dele mesmo e se aceitar. E finalmente isso acontece graças à Robin, que lhe tira da bolha.
Qual é o objetivo do Vecna?

O plano de Vecna é se fortalecer daqueles considerados fracos e vulneráveis. É por isso que ao final do 4º episódio, ele captura mais crianças em Hawkins, incluindo Derek e os demais que haviam sido resgatados pelo grupo.
O espectador vê as outras crianças presas no Mundo Invertido, assim como Holly está. Mas será que Vecna não estaria contribuindo para a criação de uma arma perfeita para destruí-lo?
Will foi a sua primeira vítima e, agora, adquiriu habilidades similares a do vilão. E se as demais crianças também conseguirem tal façanha? É preciso levar em consideração que Holly e Max estão presas nas memórias de Vecna/Henry, podendo usar isso contra ele em algum momento, além de poder ajudar as outras vítimas.
Além de tudo isso, um grande questionamento fica no ar: Joyce e Henry, de fato, se conhecem? Quando Max revela a presença da jovem Joyce na memória de Henry Creel, em 1959, na escola, sabemos que ambos viveram na mesma época e até fizeram teatro, por conta do folheto que Joyce distribui.
É aí que podemos entender, talvez, o motivo para o demogorgon não ter atacado a Joyce. Vecna a reconheceu? E quando ele aparece em Hawkins, ele só a joga longe, mas não faz mais nada. Por quê? Será que a Joyce pode ser o novo alvo do Vecna, para atingir Will?
Eleven e Hopper

Outro plot que traz a outra grande revelação em Stranger Things é de Eleven e Hopper no Mundo Invertido. Agora que Dustin, Nancy, Steve e Jonathan também estão, há mais chances de se ajudarem, porém, a dupla decide arriscar ao entrar na base militar.
A relação de pai e filha ganha mais confiança diante do amadurecimento da dinâmica entre os dois. Há equilíbrio na hora de agir e Hopper deixa que Eleven entre em ação, usando seus poderes no timing certo.
Claro que os militares teriam a criptonita perfeita para impedir Eleven e, mesmo assim, tanto ela quanto Hopper conseguem passar pelos obstáculos, especialmente pela Dra. Kay.
Crítica: Truque de Mestre – O 3º Ato
Acreditando que os militares haviam pego Vecna, a grande surpresa é revelada: criptonita usada contra Eleven é Kali, a 008, a irmã de laboratório que conhecemos na 2ª temporada. Agora, resta saber quando, onde, e porquê Kali foi capturada, ou se ela está ajudando os militares por livre e espontânea vontade ou em troca de algo, não é mesmo? Mas só os próximos episódios irão responder.
Considerações finais

A parte 1 da 5ª temporada de Stranger Things deixa para trás a leveza e a inocência para mergulhar de vez na atmosfera sombria da história, colocando o Mundo Invertido como protagonista também.
As revelações chocam e são positivas à história até agora. Os núcleos continuam bons, apresentando novos personagens, parcerias improváveis feitas no timing certo, e fortalecendo a dinâmica entre grupos, enquanto feridas emocionais ora crescem, ora amenizam.
Mesmo com um leve toque de humor, não há espaço para pacificidade neste momento. Agora é tudo ou nada em Stranger Things, para que, assim, a paz possa retornar à Hawkins.
Ficha Técnica
Stranger Things 5 – Parte 1
Criação: Matt Duffer e Ross Duffer
Elenco: Millie Bobby Brown, Finn Wolfhard, Noah Schnapp, Caleb McLaughlin, Gaten Matarazzo, Winona Ryder, David Harbour, Jamie Campbell Bower, Sadie Sink, Natalia Dyer, Charlie Heaton, Joe Keery, Maya Hawke, Priah Ferguson, Brett Gelman, Cara Buono, Amybeth McNulty, Joe Chrest, Linda Hamilton, Jake Connelly, Nell Fisher, Sherman Augustus, Emanuel Borria, Linea Berthelsen e Randy Havens.
Duração: 1º a 4º episódios
Nota: 4,0/5,0




















