A convite da Fox Filmes, o Pipoca na Madrugada conferiu O Lar das Crianças Peculiares, dirigido por Tim Burton e baseado na obra O Orfanato da Srta. Peregrine Para Crianças Peculiares, de Ransom Riggs. Mas, do que se trata? O filme conta a história de Jake (Asa Butterfield), um garoto de 16 anos e solitário que cresceu ouvindo histórias peculiares contadas por seu avô sobre um orfanato onde abrigava crianças com poderes sobrenaturais. Traumatizado com a morte repentina e misteriosa do avô, Jake ouve os conselhos de sua psicóloga Dra. Golan (Allison Janney) e decide ir a uma ilha isolada no País de Gales com seu pai, lugar onde se encontra o misterioso orfanato. Ao chegar lá, ele conhece a Srta. Alma Peregrine (Eva Green), a responsável pelas crianças, cujo poder é controlar o tempo e se transformar em pássaro. Além dela, o garoto conhece as crianças cujas peculiaridades são como avô sempre falou. Mas a chegada de Jake não é apenas uma visita. Ele tem um propósito: como ele é o único que pode enxergar os monstros, o menino precisa impedir que o vilão Mr. Barron (Samuel L. Jackson) e os etéreos se alimentem dessas crianças especiais. Por quê? Só assistindo para saber.
Eu não li o livro, mas sei de algumas coisas a respeito da obra. Em primeiro lugar, assim que o filme começa, este explica que é apenas baseado no livro, ou seja, quem for assistir a trama irá se deparar com algumas diferenças, afinal, quando um filme é apenas “baseado”, significa que ele não tenta de forma alguma ser fiel a obra original. Apenas a base do roteiro faz referência à obra, tendo o direito de fazer qualquer mudança. É exatamente isso que acontece em O Lar das Crianças Peculiares.
Mesmo sem ler o livro, no geral, o filme agrada, mas esperava um pouco mais de obscuridade e ação. O filme serve apenas de introdução para ajudar o espectador a entender quem são os personagens, como funcionam essas peculiaridades e a finalidade da existência desse orfanato. Os efeitos especiais não são exagerados e funcionam muito ao retratar o lado sobrenatural e fantástico da obra. Porém, a estética de Tim Burton não é muito vista aqui, uma vez que o diretor é conhecido por criar um universo mais obscuro, tragicômico, com humor negro e ácido. Por se tratar de personagens excêntricos, Burton poderia ter aplicado muito mais da sua estética particular nesta obra. Não ficou ruim, mas comparado aos demais filmes do diretor (O Estranho Mundo de Jack, Alice No País das Maravilhas, Edward Mãos de Tesoura), o público poderia ver mais das particularidades de Burton, um dos melhores diretores do cinema, na minha opinião.
Além disso, outra coisa que me incomodou foi o espaço desequilibrado dado para cada personagem. A obra fala sobre crianças peculiares, certo? Nada mais justo do que mostrar o que essas crianças são capazes de fazer! Isso acontece, mas para alguns acontece tardiamente. Um exemplo são os irmãos gêmeos cujo poder é sensacional (assiste para saber qual é), porém é pouco utilizado quando, na verdade, eles poderiam até roubar a cena do protagonista. Entendem o que eu quero dizer?
Personagens peculiares
Sinceramente, eu esperava mais da interpretação de Asa Butterfield. No começo da trama, o ator nos mostra um Jake muito travado, mas que, aos poucos, vai se soltando e tomando suas atitudes sem pensar no que os outros, especialmente seu pai, poderiam pensar. Por ele guiar praticamente o filme inteiro, suas ações deveriam ser mais dinâmicas, afinal, o personagem tem boas ideias e toma decisões instantâneas, sem fazer o público esperar tanto.
Eva Green está excelente como Alma Peregrine e, como o próprio nome dela já diz, ela é a alma da história. Ela é capaz de virar um pássaro e controlar o tempo. Olha o quão fantástico isso é. Seu lado carismático e doce é bom, mas impede dela tomar atitudes mais agressivas, deixando que o problema caísse nas costas de Jake. Queria ter visto mais sobre a história de Peregrine e mais ação de uma personagem tão forte como ela é.
Quando vi que Samuel L. Jackson interpretaria o vilão Mr. Barron, minhas expectativas foram lá no alto, pois acho o ator fantástico. Sua caracterização está perfeita e horrenda e, sim, ele assusta! Porém, achei que o personagem tivesse uma personalidade mais macabra, sombria, no entanto, em vários momentos, ele usa muito do deboche e sarcasmo. É engraçado? É sim. Eu ri com ele. Porém, também queria me assustar com suas ações e vê-lo em um combate mais ousado com os poderes peculiares dessas crianças.
Das crianças, quem se destaca é Emma (Ella Purnell), pelo seu jeito doce e determinado, além da sua peculiaridade ser fantástica: ela tem o poder do ar e de voar. É sensacional. Só que acompanhamos mais o entrosamento dela com Jake do que vemos o que ela capaz de fazer. Apenas duas cenas em que ela usa seu poder são muito boas.
As demais crianças são fofas e maravilhosas, como Oliver, Enoch, Bronwyn, Dylan, os irmãos gêmeos, entre outros. Como disse, o momento de mostrar o quão poderosos eles podem ser foi tardio. E mesmo tardio, a cena em que eles lutam contra os vilões é muito boa.
Considerações finais
O final é satisfatório e aberto, o que significa que o filme poderá ter uma continuação, afinal, a obra de Ransom Riggs é uma trilogia. Ou seja, talvez haverá filmes baseados na obra Cidades dos Etéreos e Biblioteca das Almas. No geral, O Lar das Crianças Peculiares é um filme bom que pode agradar não só adultos como também as crianças. Quem leu o livro, talvez se incomode com as diferenças que o filme apresenta. E mesmo quem não leu, também pode se incomodar por não ver mais dessas crianças peculiares, da própria Srta. Peregrine e a estética mais sombria de Tim Burton. O filme estreia hoje nos cinemas.
Ficha Técnica
O Lar das Crianças Peculiares
Direção: Tim Burton
Elenco: Asa Butterfield, Eva Green, Samuel L. Jackson, Ella Purnell, Judi Dench, Terrence Stamp, Allison Janney, Rupert Everett, Kim Dickens, Chris O’Dowd, Milo Parker, Pixie Davies, Shaun Thomas e Ella Wahlestedt.
Duração: 2h07min
Nota: 6,9