Me Chame Pelo Seu Nome (Call Me By Your Name) não pode ser reduzido apenas a um romance homossexual. O filme de Luca Guadagnino surpreende de forma doce em uma rotina em que duas pessoas se conhecem e, juntas, desabrocham um amadurecimento em tela e mostram o nascimento de uma relação amorosa, seja ela temporária ou não. É um filme que vai fazer você se identificar com algo ou alguém em um dado momento. Mas afinal, qual é a história? A trama se passa em 1983 e relata os acontecimentos das férias de verão de Elio (Timothée Chalamet), em uma casa de campo no interior da Itália ao lado de sua família com ascendência italiana e francesa. Especialista em cultura greco-romana, o pai, Sr. Pearlman, recebe o acadêmico Oliver (Armie Hammer), de 24 anos, para ajudá-lo em um processo de pesquisa. A partir daí, tudo começa a mudar e aos poucos, Elio e Oliver se aproximam e uma paixão doce, crescente e desejada nasce entre eles.
Baseado no homônimo escrito por André Aciman, o filme é muito mais do que um drama gay. Aliás, como disse anteriormente, minimizar a obra somente a esse termo é ignorar toda a essência da autodescoberta, do amor, da família e da dor que o filme explora. O roteiro não só traz um desenvolvimento detalhado desse amadurecimento, como também cria uma linha narrativa em que afasta o casal de uma abordagem mais dramática, preconceituosa e sofredora, e foca em uma história de amor convencional, na construção de um relacionamento, os primeiros passos da autodescoberta e a exploração da sexualidade.
A história se estende um pouco mais do que o necessário para mostrar o processo gradual desse amor entre Elio e Oliver e a construção de sentimentos que vão se moldando aos personagens. Até a metade do segundo ato, o público é mergulhado na rotina dos protagonistas, que ganha um cenário italiano muito simples, nada surpreendente, mas que é agradável e extremamente contemplativo. Tanto as cenas das refeições quanto as cenas na água faz o espectador se sentir confortável, como se estivesse aproveitando o verão leve e gostoso ao lado dos personagens. Outro ponto favorável e que ajuda na construção desse clima rotineiro é a trilha sonora, que apresenta um ritmo quebrado quando as cenas mudam repentinamente, e ganha embalo com músicas românticas e suaves.
De todas, há três cenas memoráveis em Me Chame Pelo Seu Nome. A primeira é a famosa cena do pêssego, que traz um ar erótico e cru. A segunda cena, e a mais bonita e densa de todas, é o monólogo do Sr. Pearlman, pai de Elio. Aqui, Michael Stulbarg entrega o melhor da sua performance ao trazer uma figura paternal otimista, que ajuda e apoia o filho nessa fase de autodescoberta. A terceira cena é a de Elio encarando a lareira, enquanto a câmera foca em seus olhos lagrimejados e os créditos finais sobem na tela. É neste exato momento que o espectador compreende perfeitamente todo amor e a dor do jovem e diz: “eu entendo o que você está sentindo”.
Personagens
Assim como eu, acredito que a identificação do público será maior com Elio. Na pele do garoto de 17 anos, Timonthée Chalamet transmite nitidamente toda a afloração desse sentimento no corpo e no olhar, dispensando qualquer diálogo. Na adolescência, quem nunca ficou ansioso ao esperar um telefonema, uma mensagem ou apenas ouvir a voz de quem gosta? Quantas vezes olhamos o relógio para saber se o tempo está passando mais rápido para poder encontrar aquela pessoa que te encanta? Elio demonstra toda essa inquietude e paixão, especialmente quando ele se “joga” nos braços de Oliver desejando ansiosamente encostar os seus lábios no dele.
Enquanto Elio transborda todo esse sentimento carnal e puro, o papel de Armie Hammer implanta certa barreira no início, mesmo demonstrando interesse no garoto. Oliver cria certo afastamento no público com os famosos e chatinhos jogos de sedução, uma tática já bastante tradicional no início de uma relação, mas que nem todos têm muita paciência de jogar. No entanto, assim que ambos se entregam à paixão, Oliver se torna mais transparente e vulnerável ao perceber os sentimentos fortes que tem pelo adolescente.
Considerações finais
Me Chame Pelo Seu Nome não é um drama que aborda o sofrimento e o preconceito sobre ser homossexual. Ao fugir dessa abordagem, o filme se torna contemplativo, que te ensina a enxergar melhor um relacionamento e o amor convencional com suas dores. Não é um filme para surpreender e, sim, para sentir e se identificar, se for possível.
Ficha Técnica
Me Chame Pelo Seu Nome
Direção: Luca Guadagnino
Elenco: Timothée Chalamet, Armie Hammer, Michal Stuhlbarg, Amira Casar e Esther Garrel.
Duração: 2h11min
Nota: 8,5