O Expresso do Amanhã (Snowpiercer) é um filme sul-coreano do diretor Joon-Ho Bong. Em sua estreia com um filme totalmente em inglês, baseado na graphic novel francesa intitulada Le Transperceneige, de Jean-Marc Rochette e Jacques Loeb, o filme se passa 17 anos no futuro, num mundo congelado por completo devido à tentativa falha de cientistas em salvá-lo do aquecimento global utilizando uma substância dita como ”CW7”. Os últimos sobreviventes da Terra estão reclusos num trem auto-suficiente e que nunca para.
O filme tem uma aura de George Orwell e seu livro 1984: é repleto de analogias sociais, seja de poder, manipulação e dominação através do medo ou entretenimento, tudo isso exteriorizado no trem e no jeito de filmar do diretor, seja em movimentos de câmera ou em ângulos escolhidos.
Todas as diferentes classes sociais da trama apresentam um significado para estar ali e suas representações são concisas. Na cauda do veículo estão as pessoas miseráveis, dominadas por outras mais a frente do mesmo e, além das ideologias e objetivos, a fotografia do longa muda para mostrá-las como são absurdamente diferentes. Já na pobreza extrema, temos uma fotografia escurecida, acinzentada e praticamente suja. À medida que vamos à frente do trem, ela se torna lúcida e vivaz.
Diante de tudo isso, o filme propõe uma leve filosofia e debate, não sendo apenas mais uma previsível película de um futuro distópico apocalíptico dentre tantos existentes, mas se diferenciando por não apresentar a clássica e, de certa forma, batida luta entre o bem e o mal. O enredo, embora não complexo, é cheio de reviravoltas no sentido de que podemos entender as ações e motivações de ambos os grupos, sejam os reprimidos ou os repressores. Aliás, de um modo muito criativo, o diretor consegue fazer com que o trem não seja apenas um objeto na história, mas praticamente um ser com vida e isso é provado na forma como a câmera está disposta nas cenas. É como se víssemos do ”ponto de vista da locomotiva”.
E isso não é tudo. Embora a premissa seja simples, no decorrer dos atos, os personagens ganham camadas e faz o telespectador questionar tudo até então apresentado, isso sem contar com a violência. As cenas de ação são muito bem elaboradas e dirigidas, nos dando uma sensação de claustrofobia e nos permitindo acompanhar todos os detalhes com direito a câmera lenta (que pode parecer clichê, mas é usada com propósito) e ”apagões de tela”, que traz a mesma sensação dos personagens ao passar por um túnel que escurece todo o Snowpiercer.
Com atuações contidas, como as de Jamie Bell e John Hurt, e outras nem tanto, como as de Chris Evans e Tilda Swinton, na atuação mais caricata e propositalmente exagerada, o Expresso do Amanhã é uma experiência que proporciona de tudo um pouco, sem ficar confuso demais, seja nas idéias e pensamentos apresentados ou na ação de uma câmera não tremida. Mesmo que o filme seja um pouco mais longo do que o necessário, isso não faz dele algo penoso de assistir. São duas horas de uma história que tenta ser diferente, e do seu jeito consegue, com um diretor que está com trabalhos atuais tão bons quanto este apresentado.
Ficha Técnica
Expresso do Amanhã
Diretor: Joon-Ho Bong
Elenco: Chris Evans, Tilda Swinton, Jamie Bell, Ed Harris, John Hurt, Octavia Spencer, Ewen Bremner e Kang-ho Song
Duração: 2h6min
Nota: 7,0