Três mulheres negras enfrentam o preconceito e a desigualdade e mostram que são tão iguais quanto os outros. Estrelas Além do Tempo (Hidden Figures) é um filme que incomoda com o racismo explícito na década de 60 e extremamente inspirador ao apresentar três figuras que ganham espaço, prestígio e valor por meio do talento, da inteligência, da dedicação e do esforço para ocupar o seu devido lugar e reivindicar os seus direitos por igual. Você vai sair da sala do cinema satisfeito e inspirado por essas três grandes mulheres.
Dirigido por Theodore Melfi (Um Santo Vizinho), Estrelas Além do Tempo é baseado em uma história real que se passa em 1961, em plena Guerra Fria, época em que os Estados Unidos e a União Soviética disputavam a supremacia na corrida espacial, ao mesmo tempo em que a sociedade norte-americana lida com uma profunda cisão racial entre brancos e negros. Tal situação é refletida também na NASA, onde um grupo de funcionárias negras é obrigado a trabalhar em um prédio isolado. Lá estão Katherine Johnson (Taraji P. Henson), Dorothy Vaughn (Octavia Spencer) e Mary Jackson (Janelle Monaé), grandes amigas que, além de provar sua competência dia após dia, precisam lidar com o preconceito para que consigam ascender na hierarquia da NASA.
O filme começa mostrando que, desde pequena, Katherine é ótima com números e, anos depois, torna-se especialista em Geometria Analítica na NASA. Dorothy comanda o setor das matemáticas reservada para “pessoas de cor”, expressão usada no filme. Seu objetivo não é só se tornar supervisora da ala Oeste da NASA, mas também ganhar o nome e o salário referente ao cargo, uma vez que ela já executa esse trabalho. Mary Jackson é uma aspirante a engenheira que tem a oportunidade de se candidatar ao cargo de engenharia da NASA. Mas, para isso, ela precisa ter aulas especializadas em uma universidade que só ensina homens brancos.
O roteiro caminha pela época da Guerra Fria retratada a partir de propagandas e símbolos. Além disso, vemos a chegada do soviético Yuri Gargarin ao espaço e a corrida dos norte-americanos para serem os próximos a mandar o homem para a órbita da Terra.
Mas, afinal, o que essas três mulheres fizeram de tão importante? Elas simplesmente foram as responsáveis por colocar o primeiro norte-americano, John Glenn (Glen Powell) no espaço. A parte inspiradora é que o roteiro dá espaço para vários momentos #GirlPower na trama. Em meio a tanto preconceito, Katherine, Dorothy e Mary não deixam a peteca cair e se esforçam ao máximo para conseguirem o que querem. O filme se divide em momentos de leveza e descontração com as três personagens dançando, comendo e se divertindo com a família e com os amigos. Mas também há momentos em que o filme testa nossos nervos ao enfatizar o preconceito que exalava naquela época e atingia até dentro da NASA. Cenas como a do banheiro separado para pessoas brancas e pessoas de cor, um prédio isolado somente para mulheres negras trabalharem, a impossibilidade de estudar e de se especializar em uma boa faculdade por causa da cor da pele e o desdém do trabalho e da inteligência das mulheres negras são momentos que mexem com o público por mostrar que, naquela época, o preconceito era forte e que, hoje, podemos não ter banheiros separados, mas ainda existem muitas pessoas preconceituosas que se acham superiores a tudo e a todos somente pela cor da pele.
Mesmo sendo uma história bastante envolvente, que prende a sua atenção do começo ao fim, é notável que há um desequilíbrio ao contar a história dessas três mulheres. O filme coloca Katherine como a personagem principal, dando muito mais espaço à sua história quando comparada com a de Dorothy e Mary. Isso não prejudica a trama, mas gostaria de ter conhecido um pouco mais sobre a história das outras personagens.
Personagens
Como disse, Katherine é a personagem principal e a performance de Taraji P. Henson está excelente. A inteligência, a dedicação ao trabalho e o amor aos números inspira o público e até dá vontade de gostar de matemática (no meu caso, é só vontade mesmo rs). Porém, é ela quem mais sofre na pele o preconceito e passa por situações constrangedoras em que é obrigada a engolir. No entanto, há uma cena fantástica de Taraji que traz um alívio ao público, do tipo “Isso aí, você não pode aceitar tudo isso e continuar quieta”. A evolução de Katherine no filme é bastante visível, mas, mesmo assim, o reconhecimento pelo seu trabalho demora a acontecer.
Octavia Spencer também está excelente no papel de Dorothy. A personagem nos conquista pela força e pelo tom da ironia que usa em certos momentos, além de bater de frente com outros superiores para mostrar que também tem os seus direitos e quer que eles sejam iguais aos demais. Tanto dentro quanto fora do trabalho, Dorothy sofre preconceito que é exemplificado na cena da biblioteca, quando ela quer pegar um livro emprestado. Quer saber o que acontece? Assista ao filme.
A cantora Janelle Monaé mostra todos os seus dotes de atriz no filme, executando muito bem o papel de Mary Jackson. Ela, sem dúvida, representa o que é força e dedicação, tendo que dividir o seu tempo no trabalho, com os filhos, o marido e a casa e ainda batalhando para conquistar o direito de estudar na faculdade especializada em engenharia. Ela também tem os seus momentos de #GirlPower e as cenas são satisfatórias e bem executadas.
Kevin Costner é Al Harrison, chefe da NASA e responsável por contratar Katherine para trabalhar no seu grupo. Apesar de ter uma postura dura, radical e muito exigente, é ele quem dá início à quebra do preconceito dentro do trabalho, justamente por começar a enxergar o esforço e a dedicação dessas mulheres, que chegam a ser muito maiores que a dos demais trabalhadores.
Outra surpresa no elenco é o ator Jim Parsons (The Big Bang Theory) no papel de Paul Stafford. Além de ser um dos responsáveis para encontrar o cálculo certo para colocar o homem na órbita, ele precisa dividir essa tarefa com Katherine. No entanto, o preconceito (e a inveja também) faz Paul atrapalhar e atrasar mais o trabalho, tanto o dele quanto o de Katherine, ao invés de encontrar a solução de forma conjunta. É um personagem que vai te irritar em vários momentos.
Considerações finais
A cena final traz momentos felizes a todos, principalmente para as três personagens principais, dando um pontapé ao começo do fim do racismo. Mesmo assim, o reconhecimento pelo que elas fizeram demora a acontecer. Estrelas Além do Tempo é um filme que exagera ao apresentar o preconceito racial, mas tal exagero é proposital para mostrar como aquela época era difícil para as pessoas de cor. As interpretações estão ótimas e não tenho do que reclamar. O tema abordado tem o propósito não só de atingir o público alvo do filme, mas também fazer as pessoas pensarem a respeito desse assunto, já que, nos dias atuais ainda precisamos lidar com tanta gente preconceituosa.
E aí, o que acharam do texto? Deixem nos comentários!
Ficha Técnica
Estrelas Além do Tempo (Hidden Figures)
Direção: Theodore Melfi
Elenco: Taraji P. Henson, Octavia Spencer, Janelle Monaé, Kevin Costner, Jim Parsons, Kirsten Dunst, Mahershala Ali, Aldis Hodge, Glen Powell e Kimberly Quinn.
Duração: 2h07min
Nota: 8,5