Confesso que sou muito suspeito pra falar algo sobre este filme com um elenco desse, obrigado Paris Filmes. Mas serei franco…Como todo filme dotado de um roteiro bem estruturado e de fins realistas, tem que ter um trabalho muito bem feito com o protagonista e é o que conseguiram fazer. A personagem Elizabeth Sloane (Jessica Chastain), uma lobista. O que é uma lobista Dandy? É uma mulher que cuida de lobos? Tecnicamente, sim rs.
“Um(a) lobista é uma pessoa de alto estatuto e boas ligações que representa uma empresa e funciona como intermediário no governo. Um(a) lobista tenta usufruir da sua boa posição para, de alguma forma, levar o governo a beneficiar a empresa que representa, através de maiores investimentos e financiamentos, de alterações favoráveis dos regulamentos ou através de parcerias estratégicas com o objetivo de beneficiar o monopólio da empresa. Atualmente este sistema é ilegal no Brasil, pelo que estas negociações poderão ocorrer “às escondidas”, são necessários conhecimentos de Gestão e Direito e é necessária uma posição social alta.”
Sloane é bem reconhecida profissionalmente, focada, leitora labial amadora, ocupada, solteira, mas há um diferencial que não a faça ser uma sociopata: ela é calculista, mas não é fria. Como personagem principal, ela carrega o filme inteiro nas costas muito bem, passando por desafios e raciocínios de previsões de movimentos dos adversários.
A trama se inicia com Sloane em um tribunal onde ela é a réu e, junto, entra os flashbacks contando como ela foi parar aí. O flashback começa com Sloane trabalhando em uma empresa e indo para uma reunião com o cliente Bob Sanford (Chuck Shamata) e o CEO dessa empresa, George Dupont (Sam Waterson). O cliente quer que a lobista o ajude em uma proposta no Senado dos EUA, em que eles podem legalizar o uso de armas de fogo até os dentes de cada cidadão americano, até mesmo as mães desesperadas pela segurança de seus filhos. Sloane não concorda com a proposta e recusa descaradamente dando uma gargalhada icônica e dizendo que vai analisar o caso. Ela deixa bem claro que não compactua com a ideia de pessoas armadas, pois é contra a violência e armas de fogo. Após ter recusado a proposta, Sloane é pressionada por Dupont a aceitar ou ele terá que demiti-la, pois Sanford é um cliente importante.
Sabendo da recusa de Sloane à proposta de Sanford, o CEO Rodolfo Schmidt (Mark Strong) faz uma proposta de emprego para Sloane, oferecendo um salário de zero dólares, ou seja, ela terá que arrecadar dinheiro por doações contra a causa que a empresa onde trabalhava aceitou defender. Ela aceita e leva quase toda a sua equipe, menos sua secretária Jane Molloy (Alisson Pill) que recusou a oferta da troca de emprego insinuando que ela era quase uma escrava nas mãos de Sloane.
Uma direção muito interessante, a fotografia simples e um elenco agradável de ver trabalhando, o filme tem vários pontos de “quase recaída” da nossa heroína Sloane. Algumas cenas e diálogos clichês, porém necessários para a trama, deram um ar de um filme sério qualquer. Os beats mais interessantes e inéditos são calculadamente bem extraídos da protagonista. Algumas mini tramas me fizeram (de alguma forma) lembrar de Legalmente Loira 2, How To Get Away With Murder e Spotlight – Segredos Revelados. Três extremos, eu sei.
Com a equipe trabalhando duro durante três meses, com o apoio de matérias pré-elaboradas na mídia/impressa, a contra causa com Sloane no comando consegue arrecadar 15 milhões de dólares em 90 dias, um recorde. Infelizmente foi necessário sacrificar uma história do passado de uma especialista em armas de fogo da sua equipe: Esme Manucharian (Gugu Mbatha-Raw), que quando era adolescente ficou trancada em um armário escolar assistindo seus colegas de escola morrendo a tiros por um aluno psicopata armado. Depois que a história de Esme veio à tona, pela boca da própria Sloane em rede nacional, elas se entendem no camarim.
Como nem todo maiô que a gente se caga é marrom, para a alegria dos inimigos profissionais de Sloane, um macho psicopata assistia a entrevista de Esme contando sua história e pedindo doações. Até que ele resolveu ir atrás de Esme e estourar seus miolos, porém ao puxar o gatilho, surge Frank McGill (Michael Cram) (que só queria devolver a Esme a caneta que ela deixou cair no chão) armado e já disparando alguns tiros contra o homem, matando-o e salvando a vida de Esme. Ou seja, o mundo dá voltas não é mesmo? E o roteiro de um filme bom também tem que dar voltas.
Os lobistas da empresa que apoiam o porte de armas amaram e já colocaram Frank em todos os programas sensacionalistas possíveis, para dizer que estar armado é estar seguro, em alguns ele é dado como o homem do momento, vira capa de revistas importantes e ganha prêmio da equipe de segurança distrital. Contudo, Sloane dá dicas de quem espera sempre o inimigo jogar suas cartas e, até mesmo, sua carta trunfo (metaforicamente) para finalmente ela jogar a sua carta na manga e vencer a partida. Os espiões ex-funcionários da NSA, Grande Sam (Joe Pingue) e o Pequeno Sam (Sergio Di Zio) que Sloane quer contratar (pois eles possuem umas baratas equipadas com microfone), não dá certo, pois Rodolfo a impede. Sua ex- secretária Jane, falsamente se virando contra Sloane que, na verdade, foi uma sacada meio fraca para o grande trunfo do final, porque pelo o que eu entendi ela só ajudou fazendo com que Sloane fosse julgada num tribunal. (Foi tudo planejado, mas como diria a Mônica: “ata”).
Cheio de críticas construtivas contra a política americana atual, contra a violência motivacional e também a gratuita, no fim, a cartada final de Sloane é sobre tudo isso e contra o Congressista/Senador Ron M. Sperling (John Lithgow), que aceitou propina de Dupont para aceitar o caso da Miss Sloane.
A vida pessoal de Sloane é pouco mostrada na trama, pois ela não possuía exatamente uma. Tirando as pílulas de manipulação que ela toma durante todo o filme para ficar acordada e trabalhar mais, no máximo quando ela voltava do trabalho para o hotel, contratava um serviço de acompanhante (michê) e transava totalmente sem compromisso. O homem que acaba defendendo Sloane no tribunal, dizendo que nunca teve relações sexuais com a mesma é Forde (Jake Lacy) que (como parte de seu trabalho com algumas clientes é apenas ouvi-las como um bom psicólogo) algumas vezes pega Sloane enfraquecida pela pressão do trabalho e tenta conversão, mas ela o dispensa antes mesmo de Forde fazer o servicinho.
O filme tem algumas piadas boas usando ações dos personagens comparando-as a personagens já conhecidos universalmente. No fim da trama, como um bom roteirista, Jonathan Perera não nos deixa pensativos com o futuro da protagonista. Provavelmente o final agradará a maioria. O roteiro faz com que Sloane seja definitivamente “humanizada”, especialmente quando uma frase é repetida pela protagonista em sua última fala da trama.
Armas na Mesa é um filme necessário, comovente e bem informativo. O filme estreia dia 02 de fevereiro. Vale muito a pena. Quando assisti-lo, deixe um comentário sobre o que achou ou deixou de achar.
Ficha Técnica
Armas na Mesa
Direção: John Madden
Roteiro: Jonathan Perera
Elenco: Jessica Chastain, Mark Strong, Gugu Rbatha-Raw, Alison Pill, John Lithgow, Jake Lacy, Sam Waterson e Michael Stuhlbarg.
Duração: 2h12min
Nota: 8,0