Nesta quinta-feira (26) estreia o segundo filme de Alice No País das Maravilhas, intitulado Alice Através do Espelho, uma adaptação do livro de Lewis Carroll. Antes de dar início a esta resenha, quero pontuar uma coisa: eu não li os livros, mas gosto da história. Quem estiver na mesma posição que eu, talvez goste do filme, mas quem for fã das histórias de Alice, achará muitos defeitos na trama de James Bobin, pelo fato do primeiro filme ter misturado os dois livros, enquanto que o segundo teve menos história para contar, segundo as leituras que fiz.
O segundo filme mostra o retorno de Alice (Mia Wasikowska) após longa viagem(de três anos) pelo mundo. Ao reencontrar a mãe, Alice descobre que terá que entregar o navio de seu falecido pai ao ex-noivo, Hamish, para não perder a casa. No mesmo momento, a garota é surpreendida por Absolem (Alan Rickman) que avisa que ela está há muito tempo distante do País das Maravilhas. Com isso, Alice atravessa o espelho e retorna para o mundo da fantasia onde reencontra antigos amigos e descobre que o Chapeleiro Maluco (Johnny Depp) corre risco de morte caso alguém não o ajude a encontrar a sua família. Para salvar o amigo, Alice pede ao Tempo (Sacha Baron Cohen) para voltar ao passado, em um evento traumático que mudou a vida do Chapeleiro. É durante esta aventura que Alice também descobre um trauma que separou as irmãs Rainha Branca (Anne Hathaway) e a Rainha Vermelha (Helena Bonham Carter).
Em termos de cenografia e efeitos especiais, Alice Através do Espelho não fica a desejar. Para dar o ar lúdico e de fantasia à trama, o filme utiliza-se de roupas e cores extravagantes o que, para mim, é bastante chamativo e positivo, pois é um exagero que faz jus ao retrato do País das Maravilhas. Este é um dos fatores que chama bastante a atenção, principalmente, no momento em que Alice viaja no tempo, já que este cenário é construído em uma espécie de viagem em alto mar, cujas “ilhas de água” retratam os eventos do passado. Falando assim até soa estranho, mas quando você assistir ao filme entenderá.
Do ponto de vista de uma pessoa que não leu os livros de Carroll, o roteiro é simples e redondo, que não surpreende o espectador, mas, tenha como objetivo atrair maior parte do público infantil. Aqui, a trama traz três pontos relevantes dos dias de hoje: o empoderamento da mulher, a importância da família e o respeito e a aceitação do tempo.
Como personagem principal, Alice se encarrega de mostrar que o casamento não é uma obrigação e que ela é livre para fazer suas escolhas. No caso, ela optou por ser capitã de um navio e viajar pelo mundo. Quando ela retorna ao País das Maravilhas, cabe a ela ser a grande heroína e salvar o Chapeleiro Maluco. Porém, quando a garota resolve mexer no tempo, os perigos começam a surgir. Pode ser que muitos se sintam incomodados com a atitude de Alice e, talvez, a vejam como uma garota teimosa. Mas, como o roteiro se encontra muito limitado, sem a atitude da personagem, talvez não tivesse história para contar.
Outro personagem que chama atenção é o Tempo, muito bem interpretado por Sacha Baron Cohen. No trailer, vemos o personagem como o vilão da trama, mas a verdade é que ele não é. O Tempo está ali para se encarregar de que as histórias não sejam alteradas e que o tempo de cada um seja respeitado. As atitudes que o personagem toma são totalmente compreensíveis, uma vez que Alice rouba a cronosfera para voltar ao passado. É legal ver como o filme transforma o abstrato em algo visível e palpável, como o Tempo em carne e osso e suas peças ajudantes que, separadas, são os segundos, mas juntas se transformam em minutos e a hora. Além disso, o Tempo faz parte de um pequeno alívio cômico do filme, já que os demais personagens o provocam com pequenas frases clichês, como “É verdade que o tempo cura tudo?”. Dá para dar boas risadinhas nesta cena.
Johnny Depp traz de volta o irreverente Chapeleiro Maluco, cuja interpretação está em perfeita forma. Não acho que as cenas do personagem, sozinho ou junto com a Alice, ficam a desejar e sua história é bem amarrada. É interessante acompanhar a jornada do personagem e descobrir as mudanças desde a sua infância até os dias atuais. O desejo de ter a família de volta é um ponto relevante, mas o que pode incomodar o público é o fato de ele estar doente por causa disso. A trama não explica como e porque o personagem entra em colapso. Seria porque ninguém acredita nele? Somente a Alice poderia ajudá-lo? Infelizmente, o roteiro erra neste ponto.
Helena Bonham Carter e Anne Hathaway trazem de volta as rainhas Vermelha e Branca e é interessante descobrir o ponto que deu início ao grande conflito entre as irmãs. Pra mim, as interpretações continuam as mesmas desde o primeiro filme: vemos uma Rainha Vermelha má, sanguinária por cabeças decapitadas, egoísta e que só sabe gritar; a Rainha Branca continua com os seus trejeitos caricatos, mas demonstra peso na consciência por algo do passado, que mudou o seu destino e o de sua irmã. É uma história interessante, mas que poderia ter sido melhor desenvolvida, em um aspecto mais sombrio, digamos assim. Talvez tivesse enriquecido mais a história.
Considerações finais
Alice Através do Espelho irá dividir o público. Como disso anteriormente, quem for fã dos livros de Lewis Carroll, talvez não vá gostar do filme. Mas quem apenas curtir a história, irá gostar filme, como eu. Porém, a trama apresenta alguns probleminhas no roteiro. Por ser um pouco limitado, ele não dá espaço para explicações mais plausíveis que nos levariam a entender melhor a doença do Chapeleiro Maluco. Além disso, não há também um desenvolvimento mais aprofundado na trama das rainhas, algo que gostaria de ter visto em um aspecto mais sombrio. Para mim, um dos grandes destaques do filme é o personagem Tempo. O final é bom, satisfatório e fofo, mas não é surpreendente.
Vale a pena assistir? Sim, mas cabe a cada um tirar as suas próprias conclusões sobre o filme. A minha é esta que você acabou de ler.
Ficha Técnica
Alice Através do Espelho
Direção: James Bobin
Elenco: Mia Wasikowska, Johnny Depp, Helena Bonham Carter, Anne Hathaway, Sacha Baron Cohen, Rhys Ifans, Matt Lucas, Ed Speleers, Stephen Fry, Toby Jones, Alan Rickman, Michael Sheen e Timothy Spall.
Duração: 1h50min
Nota: 7,5