Em algum momento você já se perguntou se existe vida após a morte? Se a famosa “luz branca” aparece no fim da linha? Dirigido por Niels Arden Oplev, Além da Morte (Flatliners) apresenta essa premissa e nos traz uma história que prende a atenção, mesmo com alguns problemas no seu desenvolvimento. Na trama, estudantes de medicina têm a esperança de realizar grandes descobertas a fim de decolar na carreira. Assim, cinco alunos iniciam um perigoso experimento com o objetivo de saber se há vida após a morte. Ao pararem os seus corações por curtos períodos de tempo, cada um vivencia uma experiência de quase morte, o que os dá acesso em primeira mão a um vislumbre do pós-vida. À medida que eles avançam no experimento, este se torna mais perigoso levando cada um a ter visões, como se fossem pesadelos. Eles são afetados fisicamente por essas visões, enquanto tentam achar uma cura para reverter esse quadro.
No geral, pode se dizer que o tema central de Além da Morte é a redenção, uma vez que as visões dos personagens são momentos de um passado nada agradável para eles. Vocês só vão saber o que aconteceu e o que eles fizeram se assistirem. Não se preocupem, não darei spoilers. No entanto, mesmo tendo um bom elenco e uma premissa muito interessante, o filme sofre com uma execução problemática, diminuindo o encanto da trama. As experiências de quase morte realizadas pelos estudantes de medicina são legais e o método de ressuscitação é angustiante, afinal você acredita que o pior pode acontecer a qualquer momento. Mas, sabe quando você sente que falta algo a ser explorado ou colocado na história? O timing entre uma experiência e outra é rápido demais, o que torna a nossa experiência de acompanhar esse processo mal aproveitado. As visões também são interessantes, uma vez que o filme te introduz ao passado de cada um e faz você entender como o personagem traçou o seu destino até aquele momento. Mas ainda assim, essas cenas não são tão empolgantes como eu esperava que fossem.
Quando a experiência toma proporções mais avassaladoras, os estudantes passam a ter um surto de inteligência e audácia que chega a ser divertido, mas que se inclina para flashbacks assustadores e cheios de suspense, o que para mim é um ponto positivo. Porém, certas visões poderiam ser mais subjetivas para aumentar as suas suspeitas, criando uma desconfiança e um questionamento por parte do espectador.
Infelizmente, o que mais incomoda no filme são os cortes bruscos entre uma cena e outra. A transição não é nada natural, o que torna algumas ações um tanto quanto questionadoras e até absurdas. Por exemplo, o filme mostra quando o personagem “morre” e logo corta para uma cena em que ele está bem e feliz, como se nada tivesse acontecido. Há outro momento em que um personagem está desesperado por causa de suas visões e, repentinamente, ele está bem e junto com os seus amigos. Os cortes são tão secos que quebram completamente o clima de tensão que o espectador está sentido, diminuindo o prazer de apreciar uma boa cena de suspense. Ah, e não espere por muitas explicações científicas sobre o que acontece com o corpo e a mente quando a pessoa morre e volta, pois o filme nem faz muita questão de aprofundar nesse assunto.
Com relação aos personagens, a química do grupo funciona bem e os arcos de cada um são legais. Interpretada por Ellen Page, Courtney é quem tem a ideia da experiência a fim de revolucionar a medicina e crescer na profissão; Nina Dobrev é Marlo, uma estudante competitiva e que quer mostra o quão longe ela pode ir. Diego Luna é Ray, um interno do hospital competente, inteligente e determinado, que compete na medida certa e sabe que está no caminho correto; James Norton é Jamie, o típico garanhão que faz sucesso com as mulheres e sonha em ser médico das celebridades. Por fim, Sophia, papel de Kiersey Clemons, é uma estudante que sofre com a pressão de sua mãe para tirar notas altas e ser sempre a melhor de todas. Errar está fora de cogitação. Essas descrições são para contextualizar cada personagem, pois o filme conecta bem essas características com os seus respectivos passados, o que faz o público compreender o que tanto assusta cada um e como seus caminhos foram traçados até aquele instante. Outro ponto positivo é que nem todos passam pela experiência de quase morte e o filme ainda arrisca em traçar um caminho mais trágico em um determinado momento da história.
Considerações finais
Mesmo com um final previsível e não tão surpreendente, Além da Morte é um filme que prende a atenção do começo ao fim, tem um bom elenco, boas cenas de susto e uma ótima premissa, mas que sofre problemas em sua execução, como cortes bruscos e a sensação de que está sempre faltando algo para energizar a trama. Mesmo com essas ressalvas, o longa é um entretenimento que satisfaz.
Ficha Técnica
Além da Morte
Direção: Niels Arden Oplev
Elenco: Ellen Page, Nina Dobrev, Diego Luna, James Norton, Kiersey Clemons, Kiefer Sutherland, Beau Mirchoff, Tyler Hynes e Steve Byers.
Duração: 1h49min
Nota: 6,2