Estamos em março e, infelizmente, já temos o primeiro pior filme de 2018: 15h17 – Trem Para Paris, um longa que, no mínimo, poderia ser razoável, mas torna-se uma completa decepção até os pós-créditos. Dirigido por Clint Eastwood, o filme conta a história verídica de três homens cujo ato de bravura os tornou heróis durante uma viagem de trem de alta velocidade.
No início da noite de 21 de agosto de 2015, o mundo assistiu às notícias de um ataque terrorista frustrado no trem n° 9364 da Thalys a caminho de Paris – uma tentativa impedida por três corajosos jovens americanos que viajavam pela Europa. O filme acompanha a vida dos três amigos, das dificuldades da infância, passando pela descoberta de seu propósito na vida, até a série de eventos improváveis que culminaram com o ataque. Durante essa experiência angustiante, a amizade entre eles, que nunca se abala, tornou-se sua melhor arma, permitindo que eles salvassem a vida de mais de 500 passageiros a bordo.
A sinopse leva a crer que o espectador está diante de um filme instigante, com cenas que vão deixar muitos inquietos na cadeira. Engana-se quem pensar desse jeito. O roteiro de Trem Para Paris desenvolve a história em formato de ‘diário’ completamente sem graça (aliás, ler um diário é até mais divertido, pois tem todo aquele clima de perigo por estar lendo segredos alheios). O primeiro ato já entrega a cena em que o atirador está prestes a descarregar sua arma dentro do trem e, logo, o momento é cortado levando o público ao passado dos heróis. A partir daqui conhecemos a jornada de Anthony Sadler, Alek Skarlatos e Spencer Stone, amigos desde os tempos de escola, cuja infância foi marcada com tradicionais problemas. Enquanto Sadler vivia na diretoria por estar sempre peitando e respondendo os professores, Spencer e Alek tinham problemas de aprendizagem e não se interessavam em querer mudar esse quadro. A única coisa que fazia os olhos dos garotos brilharem era a possibilidade deles, um dia, serem soldados e poderem ter a chance de lutar em uma guerra. Esse primeiro ato é até interessante, pois molda as características dos personagens que iremos acompanhar até o final, revelando seus desejos, o que querem fazer da vida e a influência da família na construção do caráter dos meninos. Aliás, o filme faz questão de ressaltar a religiosidade das mães dos personagens que, a princípio, não aceitam que eles podem ter algum problema, indagando que somente Deus poderá ajudá-los.
Devido às circunstâncias da vida, os meninos se distanciam, mas a amizade permanece com o passar dos anos. A partir do final do primeiro ato e começo do segundo, o público acompanha a versão adulta de Alek, Spencer e Anthony, mas também é aqui que a história começa ir ribanceira abaixo. O ataque dentro do trem é completamente esquecido e, por quase 50 minutos, acompanhamos a rotina e as tomadas de decisão do trio, desde a determinação de Spencer em querer entrar para a Força Aérea e Alek para o exército até Anthony que simplesmente não faz nada no filme, a não ser falar com os rapazes via Skype ou assistir televisão.
O momento em que Trem Para Paris deveria prender a nossa atenção, o roteiro entrega as cenas mais dispensáveis que se poderia ter. A sensação que o filme dá é que estamos folheando um diário e lendo sobre o dia em que os amigos decidiram tirar férias e viajar pela Europa. O plot da viagem tem como objetivo em nos levar até o momento em que os três pegarão o trem, mas em nenhum momento o filme se preocupa em construir uma atmosfera mais forte para o que está prestes a acontecer. O que realmente se desenrola aqui são cenas bem clichês dos rapazes passeando pela Itália, Berlim, Amsterdã e Paris, andando de gôndola, conhecendo pessoas estranhas na rua, se divertindo na balada e tirando inúmeras fotos, até do buraco que está perto do Coliseu. Acredito que a tentativa era criar um clima mais leve de rotina, como o que acontece em nosso dia a dia. Mas a verdade é que nada disso funciona, o que torna uma verdadeira tortura para o público, sem falar nos diálogos chulos e nada atrativos.
Outro ponto que é importante saber é que os personagens são interpretados pelos próprios rapazes que salvaram as vítimas no trem e, mesmo sem a experiência na área de atuação, eles até tentam dar o melhor de si na tela. No entanto, o filme não faz questão de criar um laço mais forte entre os personagens e o público, fazendo o espectador não se importar nenhum pouco com eles.
Quando o momento crucial finalmente é retomado, é possível que você também não se importe tanto, afinal, além do filme não preparar o grande clímax, o ataque no trem acontece de forma rápida e sem tantas surpresas, como eu esperava que tivesse. Aliás, o ataque apresenta alguns momentos forçados que só quem assistir vai entender o que estou falando. A cena final apenas mostra o reconhecimento e a condecoração dos três rapazes por terem salvado mais de 500 pessoas a bordo no trem.
A verdade é 15H17 – Trem Para Paris é um filme que vende uma história instigante, mas entrega um roteiro vazio, chato e completamente sem graça. O filme tem um começo curioso, mas perde completamente a intensidade e o rumo da metade para o final. Os diálogos são bobos, há várias cenas dispensáveis e os personagens são mais memoráveis nas notícias reais que saíram nos jornais na época do atentado do que no filme em si. Aliás, Trem Para Paris é completamente esquecível e uma grande perda de tempo.
Ficha Técnica
15H17 – Trem Para Paris
Direção: Clint Eastwood
Elenco: Spencer Stone, Alek Skarlatos, Anthony Sadler, Judy Greer, Jenna Fischer, P.J Byrne, Thomas Lennon, Tony Hale, Ray Corasani, Bryce Gheisar, Paul-Mikel Williams, William Jennings, Steve Coulter, Robert Pralgo e Sinqua Walls.
Duração: 1h34min
Nota: 3,0