Lento, progressivo, violento, trágico e muito empolgante. Essas são as minhas primeiras impressões de Marvel – O Justiceiro (The Punisher), nova série da Marvel com a Netflix. Se você gostou do personagem Frank Castle na série Demolidor, acredito que você mergulhará de cabeça e irá adorar a série solo. Mas afinal, do que se trata a história? Quem é o Justiceiro? Frank Castle (Jon Bernthal) é um fuzileiro veterano da Guerra do Vietnã e um homem de família. Após os últimos acontecimentos durante a guerra, ele decide voltar pra casa de vez. Frank é casado com Maria e tem dois filhos: Lisa e Francis. No entanto, após presenciar uma execução no parque, toda a família é assassinada em uma troca de tiros entre mafiosos e somente Frank sobrevive. Essa é a premissa principal que você precisa saber para compreender o que a série irá desenvolver em seus 13 episódios. Esse texto será focado apenas nos cinco primeiros.
O Justiceiro começa mostrando os últimos acontecimentos desenvolvidos na 2ª temporada de Demolidor em que Frank Castle é apresentado, a princípio, como um vilão, no entanto, é em sua série solo que vamos entender a verdadeira origem de sua vingança e ações serem tão objetivas e violentas. Após dar o fim nas últimas gangues da máfia envolvidas na morte de sua família, a série dá um salto de seis meses revelando Frank em uma nova fase na tentativa de ficar longe da sua verdadeira identidade para dar um rumo em sua vida, o que não é nada fácil, uma vez que a tragédia do passado o assombra constantemente.
Não vou negar: os primeiros cinco episódios apresentam uma narrativa mais lenta, em que a sequência de acontecimentos é apresentada a passos de tartaruga. Cheguei a pensar na possibilidade de todos os episódios serem assim, o que não seria algo muito positivo. No entanto, não se deixe enganar por isso: o intuito da narrativa é apresentar detalhadamente ao telespectador a real história de Frank Castle, quem ele era antes e as verdadeiras razões que o levaram a se tornar o Justiceiro. Mais do que isso, a série toma o cuidado de preparar todo o ambiente e situar cada personagem no enredo para que, assim, a história dê o ‘boom’ para os acontecimentos cruciais que darão aquela reviravolta revigorante e inesperada na série. Mesmo que você ache a série lenta, não desista dela fácil.
Mesmo assim, é possível compreender e aceitar essa lentidão na narrativa, uma vez que ela também se mostra progressiva e recompensadora. Como assim? Enquanto o telespectador acompanha o presente e os plots dos personagens secundários que incrementam a história, paralelamente somos apresentados ao passado do protagonista em pequenos trechos para que, aos poucos, a gente descubra o que de fato aconteceu para suceder tantos eventos nos dias atuais. Quando digo recompensadora é isso: mesmo com certa lentidão, aos poucos a série nos dá cenas reveladoras que prendem a nossa a atenção involuntariamente, fazendo a gente assistir ao próximo episódio o quanto antes. Entendem o que eu quero dizer? Não quero ficar explicando muito para não dar spoiler e estragar a surpresa.
O ritmo de O Justiceiro e a dinâmica dos personagens me fez lembrar da série Marvel’s – Luke Cage: um herói (neste caso, anti-herói) em busca da verdade sobre o seu passado e sua identidade; vilões bons, surpreendentes, dinâmicos e que colocam a mão na massa; e uma agente policial em direção ao ‘herói’ para buscar a mesma verdade e os responsáveis pelos crimes cometidos.
Marvel – O Justiceiro não tem filtro: a série é violenta e com cenas de ação repletas de muito sangue: socos, tiros, bombas e muita perseguição que até tira o nosso fôlego. Na minha opinião, as coreografias de luta e correria estão muito boas e bastante reais.
Personagens
Se você não sabe nada sobre Frank Castle, ou não entendeu muito bem o arco do personagem na série Demolidor, não se preocupe, pois O Justiceiro situa muito bem a trama do protagonista nesses primeiros episódios. Aliás, a escolha do ator Jon Bernthal para encarnar o anti-herói foi mais do que certa, foi perfeita. Bernthal encarna um homem amargurado, frio e extremamente triste, devastado e repleto de remorso pela morte de sua família. É possível sentir todo o peso do luto em suas costas. Sendo a vingança a principal ferramenta que o move, vemos também um Frankle Castle psicótico, rude e muito agressivo. Ou seja, primeiro ele soca para depois descobrir a informação que precisa. Frank é prático e objetivo nas suas ações, o que também pode ser um erro em determinados momentos. Os melhores momentos são quando ele surta durante alguma emboscada ou parte para cima do inimigo. O grito de ‘homem das cavernas’ que ele dá é sensacional.
Interpretado por Ebon Moss-Bachrach, David Lieberman se torna o novo parceiro de Frank Castle e até uma espécie de mentor ao Justiceiro. Assim como Frank, David também carrega um fardo em suas costas e, para proteger a sua família, ele precisa da ajuda de Frank, uma vez que ambos têm os mesmos alvos e objetivos. David consegue amenizar a raiva e equilibrar a violência e a vingança inseridas em Frank, mostrando caminhos alternativos e mais claros para se chegar aonde quer. É com a ajuda de David que Frank coloca a mão em sua consciência e passa a ver que nem todos os envolvidos merecem uma bala na cabeça; às vezes, determinada pessoa só está ali porque precisa fazer o seu trabalho. A série exemplifica muito bem essa reflexão do protagonista. Outro ponto positivo é que a química de David e Frank funciona muito bem, pois de um lado você tem uma pequena dose cômica misturada à agressividade e dureza. A junção dessas características rende cenas divertidas, boas tiradas e leveza na medida e no timing certo, sem perder o foco dos personagens e, muito menos, o brilho sombrio da série. Aliás, a série trabalha bem ao apresentar Frank e David, pois a narrativa cria situações para que os personagens trabalhem o laço da confiança que um precisa ter no outro, algo que para Frank é bastante difícil. No entanto, pode ser que alguns se sintam incomodados com isso, pois a série acaba gastando um tempo além do necessário para mostrar isso.
Amber Rose Revah é Dinah Madani, agente policial que quer desvendar a morte do seu antigo parceiro de trabalho. Madani é uma personagem determinada, surpreendente e competente no que faz. No entanto, ela dá umas escorregadas quando o assunto é confiança. Infelizmente ela confia nas pessoas erradas, o que dá um gás ainda maior na série. Além disso, é possível sentir certo preconceito e desdém com o fato dela ser mulher e ocupar um cargo alto dentro do FBI. Mas tanto ela quanto as circunstâncias provam o contrário, expondo a competência da personagem e colocando à prova o seu caráter e sua vulnerabilidade diante de decisões difíceis.
Ben Barnes é Billy Russo, fundador da Anvil, uma empresa que recruta ex-soldados para trabalhar em missões designadas pelo FBI e por outros departamentos governamentais. Bem aos poucos também conhecemos Russo e suas intenções e, acredite, ele vai surpreender bastante. Assistam e descubram.
Considerações finais
Marvel – O Justiceiro começa de forma lenta, progressiva e recompensadora, apresentando pouco a pouco cenas do passado que nos ajudam a entender a narrativa que se passa no presente. Os primeiros cinco episódios ambientam bem a história e apresenta com detalhes cada personagem, especialmente o protagonista. A química entre eles funciona bem e o telespectador é conquistado rapidamente. As cenas são bem violentas e reais com direito a perseguições, lutas, tiros e bombas. Vale a pena assistir? Com certeza! Esse é só o começo. A série O Justiceiro vai te surpreender até o último episódio. Dê uma chance e não irá se arrepender.
OBS: Em breve, trarei um post sobre a segunda parte da série e o veredito.
Ficha Técnica
Marvel – O Justiceiro
Criação/Showrunner: Steve Lightfoot
Produção executiva: Jeph Loeb, Jim Chory e Steve Lightfoot
Direção: Andy Goddard, Dearbhla Walsh, Kevin Hooks e Stephen Surjik.
Elenco: Jon Bernthal, Ebon Moss-Bachrach, Ben Barnes, Amber Rose Revah, Paul Schulze, Deborah Ann Woll, Jason R. Moore, Jaime Ray Newman, Michael Nathanson, Daniel Webber, Shohreh Aghdashloo, Aidan Pierce Brennan, Andrew Polk, Delaney Williams, Jason Hite, Kobi Frumer, Mary Elizabeth Mastrantonio, Nicolette Pierini, Ripley Sobo, Shez Sardar e Lucca De Oliveira.
Duração: 1ª temporada – 13 episódios (50min a 60min aprox.)
Nota: 8,0 (cinco primeiros episódios)