A Netflix, sem dúvida alguma, segue sendo uma das maiores produtoras exclusivas e distribuidoras de filmes e séries atualmente, seu ‘selo’ de qualidade e a confiança que os fãs agora dispõem em seus produtos são em níveis que estremecem a própria HBO, esta que, até então, vivia comandando o pódio do dito assunto.
Criada por Chris Brancato (roteirista de alguns episódios de Hannibal) e Eric Newman (roteirista de Hemlock Grove), o seriado conta a história do narcotráfico explodindo, principalmente na Colômbia, em meados de 1984, por diversos traficantes, sendo o mais poderoso, rico e procurado mundialmente, Pablo Escobar, do qual a série foca.
Baseada, e talvez isto seja óbvio para alguns leitores, em fatos reais, o seriado também conta com a presença de, nada mais nada menos, que ‘nosso’ José Padilha (Ônibus 174, Tropa de Elite), na direção dos dois primeiros episódios (e na série como produtor executivo), e também Fernando Coimbra, que comanda episódios mais a frente, diretor do premiadíssimo O Lobo Atrás Da Porta, filme vencedor do Prêmio de Cinema Brasileiro, tendo doze indicações e levando sete. Voltando ao assunto, tudo isto é para dizer que a obra vêm da mente e criatividade de vários diretores e equipes de diferentes regiões, sendo elas, na maioria das vezes, Colômbia e Brasil, e essa mistura faz com que ela seja única.
Sendo Wagner Moura um dos atores principais, em seus dois primeiros episódios (como dito, de Padilha), Narcos já mostra para o que veio: é nítida a direção de um filme brasileiro, e as características do nosso documentarista diretor se expõe na visceralidade e no jeito cru de filmar, patriotismo à parte, são os dois melhores episódios dos dez disponíveis.
Isso porque, em sua criação, há uma apresentação imediata sobre os personagens e o contexto apresentado. Já nos primeiros minutos, frases de efeitos surgem, estas que resumem a situação, e não apenas estão ali para apelar a um clímax forçado.
Diante de uma narração em “off” (na qual o personagem fala ao fundo, mas não está presente na cena), nos deparamos com Steve Murphy, um policial da DEA (força anti drogas), que relata os fatos e é muito bem executado por Boyd Holbrook que, junto com seu parceiro policial Javier Pena, também com uma atuação super digna de Pedro Pascal (Game of Thrones), caça Pablo Escobar e tenta liquidar as drogas e seus traficantes.
A série é uma soma de um documentário mais ficção, os fatos são reais, certas cenas não, pois há de se ter uma história a ser criada também, e esta soma está presente diante de imagens e vídeos reais ‘jogados’ entre os episódios, recurso que, claramente, é uma característica de Padilha. Esse tom, certa hora nos choca, questiona e nos coloca quase que literalmente ao momento retratado.Narcos, além de tudo, até aqui apresentado, também é um documentário histórico.
Aos medíocres que, da noite para o dia, se tornaram poliglotas, mas não sabem nem ganhar o prêmio do ‘Soletrando’ no programa do Luciano Huck, Wagner Moura consegue sustentar toda a responsabilidade imposta por ele e, sobre sua entrega ao personagem, teve o imenso esforço e trabalho de engordar mais de 10kg, vida dura desse fanfarrão, que esta soberbo, mas não digo o melhor, não porque não merece ser dito como, mas porque todas as atuações, sejam elas de alternância de protagonistas ou interpretações secundárias, estão suficientemente boas, faltando a Wagner, talvez, somente um momento em que as emoções de seu personagem mudem, pois diante de tudo, ele está sempre com a mesma personalidade calma, apesar de seu olhar ameaçador.
Diante da fotografia do filme, a composição das cenas é muito bem construída e dialoga com a iluminação para, em momentos mais tensos, escurecer o ambiente, por exemplo. Não há enrolação, nem movimentos de câmera exagerados. Há planos gerais (imagem aberta) e movimentos ‘comuns’ para, assim, entregar minutos concisos, alcançando o que têm a oferecer.
Da sequência de episódios, de quarenta e cinco minutos cada, totalizando oito horas e quarenta minutos de uma fácil maratona à verdadeiros cinéfilos, a obra evolui as camadas de seus personagens, embora até certo limite (para alguns personagens este ‘limite’ chegando muito cedo), mostra diferentes pontos de vista sobre acontecimentos e constrói seu clímax e pontos de virada (aquele momento que nos surpreende) muito bem.
Sua trilha sonora também não deixa a desejar, mesmo sendo um pouco esquecível, a abertura é de nosso compositor brasileiro Rodrigo Amarante, que nos entrega uma faixa que combina totalmente com a ideia da série.
Resumindo, Narcos é um seriado esteticamente perfeito quase em sua totalidade. Todos os diretores conseguem manusear sua própria identidade, criando assim, uma forma única à série, com todos os seus aspectos supridos e todas as características acima da média.
Diante de pequenas ressalvas como a narração em demasia, deixando de lado o próprio julgamento do telespectador, e o limite, às vezes, pequeno da evolução dos personagens como dito, Narcos ainda chega com tudo e, com permissão de uma analogia, é extremamente viciante.
Ficha Técnica
Narcos
Criadores: Chris Bancarato e Eric Newman
Elenco: Wagner Moura, Pedro Pascal, Boyd Holbrook, Juan Pablo Raba, André Mattos, Manolo Cardona, Diego Catano, Stephanie Sigman, Ana de la Reguera, Roberto Urbina, Gabriela de la Garza, Adriana Barraza e Paulina Gaitan.
Nota: 9,5