Girlboss é a nova série que chegou sorrateira e com um trailer ali e imagens aqui ganhou dimensão entre os aficionados em séries. Mas do que se trata afinal? Quem já conhece o livro Girlboss – publicado em 2014 – sabe que é uma biografia de Sophia Amoruso que, aos 22 anos, depois de pular em vários empregos, criou a Nasty Gal, uma loja virtual de roupas garimpadas em lojas de brechó e que recebem um toque mais moderno e jovial. Com um crescimento repentino, Sophia virou a queridinha e a mais odiada no eBay. Para se afastar das inimigas, ela lançou o site oficial da marca que, após oito anos, foi avaliada em 100 milhões de dólares.
Com um mix de biografia e empreendedorismo, Sophia dá várias dicas aos leitores do que fazer para abrir o seu próprio negócio e como agir diante de situações de risco. Além de ser uma leitura agradável e muito inspiradora, Sophia nos conquista com seu jeito autêntico e espontâneo em cada palavra registrada. Talvez os fãs de Amoruso se sintam surpresos ao assistir a série, cuja história é extremamente descontraída e caminha totalmente para o lado oposto do livro.
Criada por Kay Cannon, Girlboss ganha um roteiro que tem como base a essência do livro, mas o seu desenvolvimento é totalmente livre, inclusive, em vários episódios vemos o seguinte aviso: “A seguir, uma releitura livre de eventos verdadeiros. Muito livre”. Isso quer dizer que, de fato, aquilo aconteceu, mas não exatamente daquele jeito. A série nos apresenta Sophia Marlowe, uma garota de 22 anos, exagerada, bocuda, audaciosa, espontânea, politicamente incorreta, egoísta e imatura. Todas essas características interpretadas pela atriz Britt Robertson fogem do conceito de ser uma #Girlboss apresentadas no livro e, talvez, isso incomode os fãs que viram a história ser completamente modificada, menos empreendedora, mais dramática e muito, mas muito exagerada. Calma! A série tem alguns pontos negativos, mas também tem coisas muito legais que valem a sua atenção.
Britt Robertson encarna uma Sophia bem exagerada e com energia de sobra. De personalidade forte, a garota briga, discute, fala o que pensa na lata, não tem medo de apontar o dedo na cara das pessoas, debocha e tem atitudes muito inusitadas que vão desde comer um sanduíche achado na lata de lixo até roubar um livro e um tapete. Pode até ser inusitado, mas alguns eventos são aceitáveis, afinal, é uma série em que tudo pode acontecer. Porém, o roteiro erra a mão ao tentar justificar tais atitudes da protagonista. Algo que pode incomodar são o rancor e a raiva que ela tem do seu pai, interpretado por Dean Norris. Segundo a personagem, seu pai não dá um voto de confiança. Mas será que ela fez por merecer? Ela prova ser adulta e madura? Qualquer coisa que o pai fala ou faz é o suficiente para ela atacar. Outro ponto negativo da personagem é que ela não aceita críticas e ajudas externas e vemos isso em quase todos os episódios. Às vezes esse comportamento dá raiva no telespectador, pois é nítido o quanto ela precisa de ajuda e desdenha das pessoas a sua volta, como ela faz com sua melhor amiga Annie (Ellie Reed) e o seu namorado Shane (Johnny Simmons). Se bem que depois do que ele faz com a Sophia, as patadas são bem merecidas.
Será que o roteiro não foi proposital?
Após assistir a série fiquei pensando: “será que o propósito da série não é mostrar exatamente o que uma girlboss não pode fazer ou ser?” “será que a ideia da série não é mostrar o que as pessoas realmente têm vontade de fazer, mas o bom senso nos alerta de que isso possa ser um grande erro?” Algumas pessoas podem dizer que Girlboss não soube explorar o empoderamento feminino, a luta da mulher para alcançar os seus objetivos e ter sucesso. Mas quem disse que esse empoderamento só é feito de flores e conquistas? Ela também tem o seu lado feio e é exatamente isso que Girlboss mostra. Enquanto o livro nos dá o lado positivo do que fazer, a série revela o lado negativo de se tornar adulta, independente e dona do próprio negócio. E há vários exemplos disso. Sophia é extremamente egoísta, não sabe aceitar críticas, debocha em alguns momentos e não aceita seus erros e fracassos. Quantas vezes não fomos egoístas na vida? Quantas vezes não soubemos aceitar uma crítica achando que era uma ofensa? Quantas vezes não aceitamos o fracasso? Girlboss mostra que tudo isso é natural e que, pelo menos, uma vez isso vai acontecer na vida de cada um, basta saber aceitar e encontrar um novo jeito de acertar o caminho. É OK fracassar e é muito legal ver isso na série. Mas também é preciso correr atrás e não abraçar o fracasso achando que o socorro vai cair do céu. Depois vou fazer um post falando melhor sobre os ensinamentos que a série nos dá.
O que há de melhor em Girlboss
Girlboss pode até irritar (o que acho até normal), mas a série sabe como conquistar o público novamente. O primeiro ponto positivo é o figurino a lá anos 80. Não, a série não se passa nessa época, ela é de 2006, mas Sophia incorpora um estilo retrô e lindo de ver nos 13 episódios. O segundo ponto positivo é o cenário. A trama se passa em São Francisco, Califórnia, e acho que a série acertou em cheio ao escolher uma cidade cheia de curvas, cores e casas para ambientar a história. Deu até vontade de conhecer a cidade. Outro ponto que não fica para trás é a trilha sonora que inclui as faixas “Rebel Girl”, “Beautiful Trash” e “Nasty Gal”, de Betty Davis, que inspirou Sophia a encontrar o nome ideal para a sua loja. Vou fazer um post com as músicas tocadas na série. Não posso deixar de falar na melhor referência que Girlboss faz à série The OC, com direito ao episódio final da 3ª temporada da série e a música “Hallelujah”, de Jeff Buckley. Isso acontece no 4º episódio (Ladyshopper99). Assista porque vale a pena. O 10ª episódio também é legal, pois fala sobre o famoso fórum de roupas vintage do eBay que adora detonar Sophia. A forma como a série retrata esse fórum é bem criativa.
Mas sabe do que eu realmente gostei? Da amizade de Sophia e Annie. Aliás, eu adorei a interpretação da Ellie Reed que traz uma Annie amiga, leal, companheira, prestativa, alegre e fiel. Annie ajuda Sophia em quase tudo o que ela precisa e é aquela pessoa que você pode contar sempre. Por isso, em alguns momentos, fiquei bastante irritada com Sophia maltratando a amiga, pois era injusto. Annie chega a dar alguns puxões de orelha e até um gelo em Sophia, pois só assim para a garota se tocar nos erros que estava cometendo com a amiga.
Outros personagens que pouco aparecem, mas roubam a cena são Lionel (RuPaul), o vizinho de Sophia e uma espécie de subconsciente sincero da garota; o dono do brechó Mobias (Jim Rash), Nathan (Cole Escola) e sua mãe Teresa (Nicole Sullivan), a senhora do banco da praça (Louise Fletcher) pra quem Sophia desabafa, o namorado de Annie, Dax (Alphonso McAuley), o último chefe de Sophia (Norm McDonald) e a hater de Sophia, Gail (Melanie Lynskey).
Considerações finais
Girlboss chegou sorrateiramente e está dando o que falar com uma protagonista autêntica, audaciosa, politicamente incorreta, bocuda e egoísta. Mesmo fazendo a gente se irritar com ela, Sophia nos conquista com esse jeito descontraído e peculiar, mostrando que a vida adulta, o alcance da maturidade, independência e do sucesso têm o seu lado feio e que muitos já passaram (e ainda passam) por isso. Confesso: eu me identifiquei com alguns pontos em Sophia e soube rir e aprender com isso. Há alguns pontos fracos na série como disse anteriormente, mas ainda assim, Girlboss merece uma chance.
E aí, o que acharam da 1ª temporada de Girlboss? Deixem nos comentários!
Ficha Técnica
Girlboss
Criação: Kay Cannon
Produção: Charlize Theron, Beth Bono, Laverne McKinnon e Sophia Amoruso
Direção dos episódios: Christian Ditter, Steven Tsuchida, John Riggi, Amanda Brotchie e Jamie Babbit.
Elenco: Britt Robertson, Ellie Reed, Johnny Simmons, Dean Norris, RuPaul, Alphonso McAuley, Jim Rash, Cole Escola, Nicole Sulllivan, Melanie Lynskey, Norm McDonald e Louise Fletcher.
Duração: 13 episódios (até 30 minutos)
Nota: 8,0
Fotos: Netflix