Sei que todos estavam aflitos e inseguros sobre o destino de tal obra literária nas mãos dos profissionais da Netflix, mas calma galera! Eles não arruinaram a série! UHUL! Acho que eu peguei mais um pouco da ironia do Lemony Snicket. rs
Desde quando a Netflix anunciou que as gravações de Desventuras em Série começaram a serem executados (porque o roteiro adaptado já estava pronto e eles já tinham comprado os direitos), os fãs da saga dos irmãos Baudelaire contra o maléfico Conde Olaf surtaram! Isso mesmo, e eu surtei junto. Eu tenho amigos, fãs exagerados de How I Met Your Mother que quase pariram focas quando souberam que o Conde Olaf seria interpretado por Neil Patrick Harris.
Um breve currículo sobre Desventuras em Série: Daniel Harmon publicou o primeiro livro da saga em 1999 e, em 2006, publicou o décimo terceiro e último livro da saga. Depois disso, houve peças de teatro e um filme contando as estórias dos primeiros livros. Até que no dia 13 de janeiro de 2017, o ano teve a sua primeira estreia de série mais aguardada.
Vou tentar não comparar a série com os livros, vou fingir que tudo o que é preciso saber está na série, afinal, se algo estiver infiel aos livros a culpa não é minha.
[SPOILER ALERT]
Como deveria ser e foi…
Cada livro foi dividido em dois episódios, contendo parte um e parte dois. Como a primeira temporada tem oito episódios, são quatro dos treze livros existentes da saga, já podemos ter uma breve certeza de que existirão apenas três temporadas ao todo, se alguma contiver dez episódios. Isso se minha matemática estiver certa, pois sou completamente de humanas, me ajudem ai! rs
Logo na primeira cena Deus disse: “Haja Lemony Snicket!” É isso mesmo galera, temos o Lemony Snicket (Patrick Warburton) o narrador (lindo, tesão, bonito e gostosão com sua voz de galã das radionovelas e seu rosto quase que Walt Disney, mas sem o bigode) nos alertando que se queremos uma história com final feliz, com crianças que brincam e bagunçam (iguais as das propagandas de sabão em pó, que nunca são injustiçadas) é melhor ir assistir Fuller House.
Com uma fotografia bem peculiar (maravilhosa) e uma direção nada distraída, somo apresentados às crianças Baudelaires: Klaus (Louis Hynes) o menino prodígio, devorador de livros de todos os tipos, irmão do meio com doze anos e atencioso; Violet (Malina Weissman) a menina engenheira, irmã mais velha com quatorze anos e charmosa quando se concentra depois de prender seu cabelo com uma fita; e a Sunny (Presley Smith) uma bebezinha que adora devorar as coisas com seus dentes e balbuciar pequenas frases de efeito com direito a legendas.
Infelizmente começamos com os irmãos passeando pela praia e recebendo a triste notícia de que eles ficaram órfãos por conta de um incêndio em casa. Notícia entregue pelo Sr. Arthur Poe (K. Todd Freeman) um banqueiro pra lá de chato, negligente e pouco crítico, que fica com a missão de cuidar das crianças para que fique com um tutor estipulado pelo testamento de seus falecidos pais. Infelizmente os Baudelaires vão parar sob a tutela do maléfico Conde Olaf (Neil Patrick Harris), um vilão, ator teatral de meia tigela, muito feio e ganancioso que só quer saber da gorda herança das crianças. Ele mora em uma casa horrenda, suja, onde obriga as crianças a limparem e recebe a ajuda de sua trupe de cinco carrascos atores de teatro: as gêmeas de faces pálidas (Joyce Robbins e Jacqueline Robbins), o homem com mãos de ganchos (Usman Ally), o jovem mongo e confiável de gênero indeterminado (Matty Cardarople) e o homem careca, alto e forte (John DeSantis). Olaf até tenta forjar um real casamento com Violet, fingindo estarem em uma peça teatral. Mas graças a Juíza Strauss (Joan Cusack), vizinha da frente de Conde Olaf e amiga das crianças Baudelaires, o casamento é impedido logo após o vilão contar a toda a plateia sobre seu plano que acabou não dando certo.
Olaf fugiu e as crianças foram levadas ao seu real tutor indicado pelos falecidos pais: Tio Monty/Dr. Montgomery (Aasif Mandvi), um herpetologista que mora numa casa particularmente muito foda, onde tem até uma sala dos répteis. As crianças começaram a se adaptar, até que Conde Olaf aparece disfarçado procurando emprego como assistente do Dr. Montgomery, já que ele tinha matado o anterior, Gustav (Luke Camilleri), até que ele consegue o emprego, mata o Tio Monty com veneno de cobra e as crianças são obrigadas a irem ao próximo tutor da lista que, na verdade, é tutora Josephine (Alfre Woodard), uma tia que tem medo de fogões, campainhas e corretores imobiliários, mas ela mora tranquilamente em uma casa sem segurança contra furacões e num penhasco de frente para o mar. Tia Josephine também é uma tarada em gramática. Não vou mentir: sempre me identifiquei com ela, apesar de eu não respeitar muito a gramática rs.
Conde Olaf aparece mais uma vez disfarçado como Capitão Fraude, com perna de pau e tudo, como o próprio nome já diz, e as crianças Baudelaires percebem logo de cara, mas ninguém, pra variar, acredita nelas. Olaf joga Josephine no lago para ser devorada por sanguessugas e ela, infelizmente, morre de verdade. Quando o Sr. Poe está prestes a deixar os Baudelaires com o até então Cap. Fraude, Sunny roe a perna de pau que Olaf usava em sua atuação e seu pé esquerdo fica a mostra onde a tatuagem em seu tornozelo (que sempre entrega seus disfarces) fica visível e, mais uma vez, Sr. Poe acredita nas crianças quando já é tarde demais.
Na casa da Tia Josephine, antes dela ser totalmente destruída por um raio e ventos fortes, Klaus Baudelaire encontrou dentro do cofre uma foto antiga que reunia uma galera sorrindo em frente a tal Serraria Alto-astral, incluindo seus pais, Tio Monty e Tia Josephine. Com base nessa foto, Klaus a compartilha com suas irmãs e eles avistam uma caminhonete com o logo da serraria, enquanto Sr. Poe, Conde Olaf e sua trupe discutem sobre “ser ou não ser, eis a questão”. As crianças pulam dentro da caminhonete e pegam carona até metade do caminho da serraria, seguem a pé e quando chegam, dão de cara com Charles (Rhys Darby) homem gentil, porém submisso, sócio e parceiro sexual do dono da serraria O Senhor (Don Johnson), um velho muito arrogante, bem enrustido que só pensa em dinheiro, que não está nem aí em pagar seus funcionários (escravos hipnotizados) com gomas de mascar e cartões de desconto, contanto que eles façam o trabalho pesado deles.
A pequena cidade onde a serraria pertence foi queimada antigamente e todos culpam os pais das crianças Baudelaires, mas a história não foi bem assim segundo o livro do Senhor. O Senhor fez um acordo com a optometrista malvada Dra. Georgina Orwell (Catherine O’Hara) (ex-crush do Conde Olaf) que se o Senhor dissesse que foram os Baudelaires os causadores do incêndio da cidade e não os heróis, ela cuidaria de fornecer funcionários para a serraria que não reclamam sobre trabalhar igual escravos. Até que as crianças Baudelaires aparecem, desvendam o mistério das hipnoses causadas pela Dra. Georgina Orwell e o Conde Olaf, desta vez, disfarçado de Shirley, a recepcionista da oftalmologista. Eu confesso que foi a transformação que eu mais dei risada do Conde Olaf, principalmente a cena em que Shirley conta a história de querer adotar três crianças, ri demais. E finalmente depois de desmascarar mais uma loucura do Conde Olaf (que fugiu mais uma vez), os Baudelaires são levados pelo Sr. Poe até uma instituição para órfãos, já que não há mais nenhum tutor querendo a guarda deles depois dos recentes assassinatos dos últimos tutores legais.
Agora, imaginem tudo isso acontecendo com Lemony Snicket aparecendo onde e quando vocês menos esperam, em várias cenas (uma delas ele aparece até de traje de banho dos anos 60, chama o bombeiro!!) como um detetive investigando o caso das crianças Baudelaires, tentando fazer a gente desistir de assistir a série, mas quanto mais ele insiste, mais queremos assistir…Agora, parem de imaginar e assistam, porque tudo isso acontece mesmo!
Subtrama filha da putinha
Mas Dandy, por que é uma subtrama filha da putinha? Calma, crianças, eu explico!
Bem…Tudo começa quando vemos dois pais presos em uma prisão no Peru, isso mesmo, no país dos mascotes de natal e dos dias de ações de graça. O pai (Will Arnett), manco, forte e corajoso e a mãe (Colbie Smulders) super inteligente, com habilidades de engenharia e também de artes marciais fogem da prisão no Peru, brigam em bares tematicamente latinos, conseguem informações sobre onde conseguir um avião para voltarem para os seus filhos que, misteriosamente, nós os espectadores não sabemos se são os Baudelaires ou não. A subtrama chega a nos deixar esperançosos com a hipótese desses pais serem os Baudelaires que injustamente as mortes foram forjadas para serem presos fora do país. Esses pais pegam um avião e vão em direção aos seus filhos e surpreendentemente (como Lemony disse, não existem muitos momentos felizes e muito menos final feliz nessa estória) os pais chegam em casa e reveem seus respectivos filhos, mas infelizmente um espião inimigo provoca um incêndio e os pais morrem deixando três filhos órfãos, que não são os Baudelaires.
Com isso, sabemos que existe uma organização de espiões super secretos onde os pais Baudelaires, Gustav, Jacquelyn (Sara Canning) (ex-secretária do Sr. Poe), Larry (Patrick Breen) (dono de um restaurante onde as crianças têm um Brunch com o Cap. Fraude e negligente Sr. Poe na cidade da tia viciada em gramática), Tio Monty e a Tia Josephine fazem parte, mas isso ainda é um ponto quase que não explorado para descobrirmos mais sobre. Só sabemos que os integrantes dessa organização possuem lunetas com o mesmo símbolo das janelas das moradias do Conde Olaf e da falecida Dra. Georgina Orwell. Tais lunetas ajudam a revelar códigos nas legendas no cinema e a visualizar imagens de muito longe.
É melhor não ver essa série!
Contudo, temos uma série peculiarmente maravilhosa, bem estruturada e com diálogos irônicos e cenas icônicas que nos levam a uma dimensão onde o clichê começa a fazer sentido e nos mostra nas linhas subliminares do roteiro: críticas sociais como o tratamento dos órfãos logo após as mortes dos pais, como eram demonstradas em obras literárias mais antigas, chamadas de paródias (tais como David Copperfield e Oliver Twist); a negligência e o trabalho feito de qualquer jeito pelos profissionais burocráticos; a hipocrisia dos medos superficiais de alguém, sendo que a pessoa mora no lugar mais perigoso do mundo; e o trabalho escravo e a manipulação dos burgueses nas cidades mais isoladas do planeta Terra.
Vocês serão introduzidos a isso e a muito mais emoções transmitidas pela estória dessas crianças maravilhosas que apenas não tiveram a oportunidade que precisavam ter nesse mundão de Deus. É triste, melancólico, criativo, manipulador e, por isso, é incrivelmente assistível! E as aberturas vão mudando conforme os novos tutores das crianças Baudelaires.
Ficha Técnica
Criador: Daniel Handler
Elenco: Neil Patrick Harris, Patrick Warburton, Malina Weissman, Louis Hynes, K. Todd Freeman, Presley Smith, Will Arnett, Cobie Smulders, Usman Ally, Jacqueline Robbins, Joyce Robbins, Tara Strong, Matty Cardarople, John DeSantis, Sara Canning, Cleo King, Daniel Handler, Don Johnson, Alfre Woodard, Joan Cusack, Aasif Mandvi, Catherine O’Hara, Rhys Darby e Patrick Breen.
Nota: 8,0 (1ª temporada)
Fotos: IMDB
