Em um mundo pós-apocalíptico, onde o mal é capaz de matá-lo se apenas olhar, você seria capaz se passar o resto da sua vida com os olhos vendados? Essa é a premissa de Bird Box, dirigido por Susanne Bier. Baseado na obra Caixa de Pássaros do autor Josh Malerman, o novo filme da Netflix tem bons acertos tanto na estrutura narrativa que hipnotiza o telespectador quanto na atmosfera angustiante e a jornada da protagonista. No entanto, há algumas ressalvas que podem ser consideradas, ou não, mas até ai, vai depender de quem assistiu, como interpretou e, é claro, quem fez a leitura da obra original.
Na trama, o mundo é acometido por uma força misteriosa que dizima a população mundial gradativamente. Aqui, só existe uma única certeza: se você abrir os olhos e a vê, você tira sua própria vida. Diante do desconhecido, Malorie (Sandra Bullock) encontra amor, esperança e um novo começo em meio ao caos eterno. Mas agora, ela deve fugir com os seus dois filhos por um rio traiçoeiro e ficar à mercê do mal até chegar ao único refúgio que ainda oferece segurança e proteção. Mas para sobreviver, eles terão que fazer a perigosa jornada de dois dias com os olhos vendados.
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Bird Box é um filme que divide opiniões, tanto por entregar vários questionamentos, dúvidas e trabalhos de personagens, quanto uma narrativa bem feita, na minha opinião, criando uma história angustiante e instigante, afinal, o telespectador descobre o que e como vai acontecer e torcer para que tudo termine bem, pelo menos.
Um dos pontos positivos do longa é a estrutura narrativa, em que o telespectador acompanha a história dividida entre passado e presente. No início já vemos Malorie e seus dois filhos se preparando para a jornada no rio e, enquanto essa viagem perigosa acontece, a trama dá mergulhos no passado para tomar conhecimento de como esse pós-apocalipse começou, de onde veio e para onde foi, quem são os personagens e como eles se conhecem e se unem para enfrentar o mal. A forma como a trama é desenhada é boa, pois enquanto o presente te dá pequenas pistas do que já aconteceu e o que está prestes a acontecer, o passado detalha e costura os fatos para entendermos o que vimos na outra linha temporal. Tudo isso é moldado sob um cenário de suspense em que os personagens precisam confiar em desconhecidos e no que está em sua volta sem poder checar a verdade.
Outro ponto que pode agradar ou desagradar é o desenvolvimento sensorial dos personagens, a química entre eles e a dificuldade e coragem em ter que aprender a criar confiança e audácia para enfrentar tudo isso. O cenário principal é a casa onde Malorie, Tom (Trevante Rhodes), Douglas (John Malkovich) Olympia (Danielle Macdonald), Charlie (Lil Rel Howery), Cheryl (Jacki Weaver), Lucy (Rosa Salazar) e Felix (Machine Gun Kelly) se juntam, se conhecem e dividem suas vidas a partir de agora. No geral, é legal acompanhá-los, mas em determinados momentos há falta de um desenvolvimento mais aprofundado deles, algo que pudesse instigar o caráter de cada um e colocar à prova a confiança estabelecida, elemento principal que faz o grupo funcionar. Dentro da casa há duas sequências boas, tensas e intensas que criam uma angústia, medo e decepção ao mesmo tempo. Pode ser que alguns façam a comparação com o livro automaticamente, enquanto outros (que não leram) simplesmente apreciem a intensidade dessas consequências.
O que há lá fora?
Talvez, o grande mal que se alastra pelo mundo seja o calcanhar de Aquiles de Bird Box, uma vez que o filme não revela o tipo de criatura ou entidade, muito menos entrega explicações consistentes, detalhadas e bem justificadas para entendermos melhor o que há lá fora. Acredito que isso possa frustrar alguns e, mesmo que você cogite de que a resposta esteja no livro, ela não estará, pois a ideia não é entregar de bandeja o que é e, sim, o que isso faz e, principalmente, como os personagens precisam lidar com a nova e temível realidade.
Para não dizer que o filme não revela absolutamente nada, o roteiro entrega breves explicações tanto visuais quanto verbais. Sabe-se que ao olhar para esse mal em formato de sombra, podem acontecer duas coisas: automaticamente a pessoa enxerga a coisa mais horrível que já viu na vida, ou o seu pior pesadelo e se suicida; segundo, a tal sombra pode enganar com vozes e imagens de quem a pessoa gosta, com o objetivo de levá-la para o caminho mais curto: a morte. Em um olhar de relance, os olhos da vítima mudam instantaneamente, dando a sensação de que o globo ocular “envidraça”, causando uma hipnose alucinante e mortal. Com relação ao seu formato, essa reposta não surgirá, porém, há uma cena que é possível ter alguma noção de como essa força pode ser ou, pelo menos, como ela aparece aos olhos de quem a vê.
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Por fim, o filme apresenta pessoas que andam desvendadas pelas ruas e têm um objetivo. Mas fica a grande questão: como e por qual motivo essas pessoas conseguem olhar e não morrer?
Personagens
No geral, o grupo funciona bem, mas todo o destaque vai para Sandra Bullock que entrega uma Malorie forte, que se abala, mas não recai, aprende a confiar e a desviar das pessoas erradas, até mesmo nas horas mais desesperadoras, faz as escolhas mais difíceis, além de aprender a lidar com a maternidade em meio ao caos. As cenas mais difíceis são quando Malorie é rígida com os seus filhos, mas tal dureza é compreensível, uma vez que é para protegê-los e mostrá-los que a única pessoa e voz que eles têm que confiar é a da mãe.
A química entre Bullock e Trevante Rhodes é natural, gradativa e funciona satisfatoriamente, pois o telespectador torce por eles e pela sobrevivência deles do começo ao fim. Mesmo não sabendo muita coisa sobre Tom, o rapaz demonstra coragem para enfrentar não só o mal lá fora, como qualquer um que mostrar desvio de caráter. John Malkovich e Tom Hollander também se destacam, inclusive um deles causa bastante raiva e instala o terror no ambiente.
Considerações finais
O final traz o início de uma possível esperança, no entanto, pode ser que alguns ainda fiquem receosos com o desfecho, afinal, esse “final feliz” pode ser apenas temporário.
Bird Box é um filme bom, apresenta uma narrativa elaborada e instigante que vai prender a atenção do começo ao fim. A atmosfera de angústia e medo entrega boas cenas, além de uma protagonista forte. O mal em si assusta, mas vai levantar vários questionamentos que podem frustrar alguns, levando a um final de alívio, mas morno e pouco surpreendente.
PS: Há uma explicação para o termo “caixa de pássaros”, tá?
Ficha Técnica
Bird Box
Direção: Susanne Bier
Adaptação: Caixa de Pássaros, de Josh Malerman
Elenco: Sandra Bullock, Trevante Rhodes, Sarah Paulson, John Malkovich, Danielle Macdonald, Jacki Weaver, Rosa Salazar, Lil Rey Howery, Tom Hollander, Colson Baker, B.D Wong e Machine Gun Kelly.
Duração: 1h57min
Nota: 7,0