Após 22 anos, um grande sucesso da era de ouro da Disney ganha uma sequência. As expectativas estavam baixas e o receio era existente, no entanto, Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda (Freakier Friday) surpreende positivamente em vários quesitos, desde uma história bem desenvolvida até a nostalgia e os personagens bem aproveitados.
O filme homenageia o original, trazendo mãe e filha novamente para uma confusão ainda maior, que diverte e honra ao que já vimos. É um filme 100% perfeito? Não, tenho uma pequena ressalva, mas isso não tira o mérito. Vale a pena assistir e vou te dizer o porquê.
Com direção de Nisha Ganatra, Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda se passa anos depois do primeiro filme e acompanha Anna e Tess em uma jornada adulta e mais avançada, com novos desafios de acordo com suas respectivas rotinas. De um lado, vemos o dia a dia de Anna no trabalho como produtora musical e com a filha Harper, cuja relação segue a mesma que tinha com Tess. A diferença de gerações afeta a comunicação, o que leva a vários desentendimentos e a incompreensão.
Já Tess continua com o seu casamento sólido com Ryan e a todo o vapor no trabalho, desde o podcast na área de psicologia até o lançamento do seu mais novo livro. A relação com Anna elevou o nível, uma vez que Tess não hesita em ajudar a neta e coloca o seu lado avó em ação, o que muitas vezes, deixa Anna fora do controle como mãe.

Mas a maior novidade é que Anna vai se casar com Eric, um renomado chef de cozinha, cuja sintonia é verdadeira e o amor foi à primeira vista. Mas a complicação começa quando Harper e Lily (filha de Eric) não se dão bem a e fusão dessas famílias deixa a relação ainda pior.
E quando as relações entre mães e filhas, neta e avó, madrasta e enteada chegam ao ápice da crise, esta família passa pela maldição da troca de corpos novamente, só que desta vez, o raio atinge mais que duas pessoas.
Agora, Anna é Harper e Tess é Lily, enquanto as adolescentes são incorporadas pelas adultas da casa. Mais do que uma troca de corpos e idade, o quarteto vai ter que lidar com o conflito geracional para compreender como é estar na pele da outra e, assim, acabar com a maldição e, consequentemente, trazer o final feliz para esta nova família que vai se formar.
Os materiais de divulgação de Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda entregaram apenas o miolo da situação que já se espera acontecer, o que é positivo, pois ao assistir ao filme, a surpresa se encontra em uma narrativa bem conectada ao filme original, mas também com um desenvolvimento redondo e plenamente satisfatório.

E é claro que o primeiro ponto positivo do filme se encontra na ótima contextualização desta sequência, que não começa a história com o caminho meio andado, muito menos entrega um desenvolvimento corrido. O início faz questão de mostrar o status das protagonistas, seja no relacionamento quanto no trabalho, além do fato de pontuar a decisão de Anna em se tornar mãe, um ponto muito válido.
Outro ponto que vale ser mencionado é o relacionamento de Anna e Eric que, a princípio, imagina-se que o público vai conhecê-los em um relacionamento já firmado, no entanto, acompanhamos desde o início até o momento crucial do enlace matrimonial, revelando cuidado ao entregar uma trama sólida e nada corriqueira. Junto a isso, também compreendemos desde já a rixa entre Harper e Lily e o desejo de que a fusão entre as famílias não aconteça, já que isso trará grandes mudanças.
E quando a grande crise se forma com a junção do conflito de cada uma, é o momento crucial para a maldição cair novamente sobre suas cabeças, iniciando a confusão deliciosa a ser discorrida.
Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda poderia facilmente cair na galhofa e no caricato, mas fico feliz em dizer que isso não acontece. Mesmo com elevados toques de comédia, o filme desenrola as problemáticas entre as quatro personagens, misturando o conflito geracional, a comunicação falha, sonhos reprimidos, sacrifícios em nome do amor, dores guardadas e o medo da mudança.

Entre uma risada e outra, o filme gera pequenas discussões sobre as dificuldades que cada uma está lidando de acordo com o seu próprio mundo e como a resistência ao novo dificulta o entendimento. Claro que a troca de corpos dificulta a situação, mas também proporciona a chance de uma se colocar no lugar da outra e fazer descobertas que jamais passaram pela cabeça, como é o caso de Anna e Harper.
E é no meio desta confusão que percebemos o quanto Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda aproveita bem os seus personagens em tela, algo que poderia ter se perdido facilmente também. E a grata surpresa está justamente no aproveito de Harper e Lily como si mesmas e incorporadas por Anna e Tess. A dinâmica das personagens é divertida e ingênua, justamente por vemos duas adultas sentir novamente a leveza que a adolescência proporciona, desde andar de patinete, comer besteiras e apenas lidar com os dilemas escolares e amorosos. As atrizes Julia Butters e Sophia Hammons entregam carisma e química e fico feliz em ver o quanto elas foram bem desfrutadas. Aliás, Tess incorporada no corpo da Lily é incrivelmente divertido de assistir.
Lindsay Lohan e Jamie Lee Curtis redobram o carisma e brilho nesta sequência, concedendo momentos hilários e emocionantes ao mesmo tempo. Lindsay entrega uma Anna focada no trabalho, uma futura esposa preocupada com o seu casamento à vista, uma mãe dedicada, mesmo que isso custe sua paciência que, muitas vezes, se descontrola quando a sua autoridade é diminuída por Tess diante da neta, o que não é por mal.

Ao mesmo tempo, descobrimos que o amor pela música foi nutrido de outra forma – trabalhando como produtora musical e cuidando de outros artistas – enquanto que o seu próprio sonho ficou em segundo plano, para dar prioridade às outras escolhas.
Se Jamie Lee Curtis arrasou no primeiro filme, nesta sequência ela rouba a cena com maestria. Tess e Ryan seguem firmes no casamento, enquanto ela se prepara para o lançamento do novo livro, expande o trabalho com o podcast e ajuda Anna na rotina. Mas a verdade é que Tess teme pelas mudanças na família, mesmo feliz com o casamento da filha, o que alimenta o conflito deste quarteto.
Jamie se destaca tanto na parte cômica quanto no emocional. Incorporada pela Lily, Tess passa por aquela transformação no visual novamente, já que a jovem se recusa a encarar a terceira idade, proporcionando momentos hilários. A cena em que Tess vai tirar foto para o seu livro é simplesmente sensacional, além de ser um entre os outros momentos divertidos.
Aliás, é com a Lily no corpo de Tess que o público passa a enxergar a adolescente além de uma garota mimada e chata. É aqui que compreendemos, de fato, o medo da mudança afetar Lily e a razão para ela rejeitar o casamento do pai com Anna. A cena da Lily (no corpo da Tess) conversando com o Eric é linda e, particularmente, foi o momento que me fez emocionar real com o filme.

Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda traz a participação especial de Chad Michael Murray como Jake, que agora é dono de uma loja de discos e faz parcerias de trabalho com Anna. O filme explica o atual status entre ele e Anna, mas sem dar muitos detalhes.
A forma como o personagem é reintroduzido na história é satisfatória, mas ao mesmo tempo, descontrói um pouco de sua trama lá no filme original. Enquanto que no primeiro filme, Jake se apaixona por Anna pela sua essência, esta sequência simplesmente apaga este detalhe ao fazer brincadeiras pela paixonite que ele teve por Tess. São cenas divertidas, mas ao mesmo tempo tira este encanto construído em torno de Jake e Anna. Acredito que Jake poderia ter retornado à história de outra forma, mas ainda assim é possível passar pano e relevar, pois o entrosamento entre ele, Anna e Tess é ótima.
No elenco também temos a participação da Maitreyi Ramakrishnan como a cantora pop Ella, de quem Anna cuida da parte artística, cujas cenas são prazerosas de assistir; Mark Harmon como Ryan e o seu entrosamento divertido com Tess com o corpo trocado; o Harry (Ryan Malgarini), irmão da Anna, faz uma participação especial; Manny Jacinto e o seu charme sensível e encantador como Eric; Pei Pei (Rosalind Chao) e a vovó Chiang (Lucille Soong) que, agora, são amigas de Anna e Tess desde a confusão de anos atrás; Madame Jen (Vanessa Bayer), nova responsável pelo retorno da maldição da troca de corpos; e Peg (Hayley Hudson) e Maddie (Christina Vidal), amigas da Anna integrantes da banda Pink Slip. Até o professor (Stephen Tobolowsky) que pegava no pé da Anna na escola está de volta.
Considerações finais

A reta final é o supra sumo da confusão, trazendo momentos marcantes que emocionam na medida certa, e um desfecho plenamente satisfatório ao som de ‘Take Me Away’ elevando a essência nostálgica. O filme ainda conta com cenas de erros de gravação nos pós-créditos, típico dos filmes dos anos 2000, o que é uma delícia de assistir e perceber o quanto o elenco se divertiu nas filmagens.
Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda acerta em uma história bem contextualizada, desenvolvida e nada corriqueira, com bom aproveito dos personagens e o destaque elevado ao quarteto de protagonistas. Uma sequência boa que homenageia o seu filme original e te deixa com o coração quentinho.
Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda é aquele filme que, junto com o primeiro, você vai assistir várias vezes.
Ficha Técnica
Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda
Direção: Nisha Ganatra
Elenco: Lindsay Lohan, Jamie Lee Curtis, Julia Butters, Sophia Hammons, Chad Michael Murray, Mark Harmon, Manny Jacinto, Maitreyi Ramakrishnan, Christina Vidal, Haley Hudson, Rosalind Chao, Lucille Soong, X Mayo, Vanessa Bayer, June Diane Raphael, Jordan E. Cooper e Stephen Tobolowsky.
Duração: 1h51min
Nota: 4,0/5,0