Angustiante, aterrorizante e sufocante foram as palavras que definiram o filme de origem lançado em 2018, retornando e reforçando à sequência Um Lugar Silencioso – Parte 2 (A Quiet Place 2), que está ainda melhor, explora mais as técnicas e regras aplicadas no primeiro filme, apresenta novos personagens, além de adicionar elementos que, antes, seriam ‘proibidos’ neste universo, com o intuito de aumentar as situações de risco que são o ponto alto e arrebatador do longa. Se você gostou do primeiro filme, acredite, o segundo é ainda melhor.
Dirigido por John Krasinski, Um Lugar Silencioso – Parte 2 parte dos eventos finais do primeiro filme em que vemos Evelyn e os filhos Regan e Marcus encontrando uma solução de como matar os alienígenas aterrorizantes que atacam ao detectar qualquer tipo de barulho: aplicar um ruído estrondoso através do rádio e das caixas de som com a ajuda do aparelho auditivo da garota, capaz de atacar a audição do monstro e paralisá-lo, dando a chance da pessoa em eliminá-lo seja com um tiro ou qualquer golpe direto na cabeça.
Mas antes, o filme faz questão de voltar ao passado e relatar como tudo começou mostrando a cidade pacata em que Evelyn, Lee e a família moravam, além de outros moradores que vão a um jogo de beisebol na qual os filhos participam. É neste momento – até citado no trailer – que vemos explosões acontecerem em várias regiões do país, inclusive nesta cidade, mostrando o momento em que estes monstros começam a atacar e dizimar boa parte da população. Esta sequência inicial não é só excelente como estabelece relações futuras e dá o ponta pé para as próximas cenas angustiantes que o público irá acompanhar. A participação de John Krasinski é curta, mas novamente, ele entrega uma ótima atuação.

Novamente, Um Lugar Silencioso – Parte 2 se encaixa no gênero terror pós-moderno, que aterrorizam sem recorrer ao excesso de recursos fáceis para assustar o público. Aliás, o filme reforça os elementos e as técnicas usados harmonicamente no anterior, ao mesmo tempo em que quebra as regras estabelecidas para tirar os personagens da zona de conforto e triplicar as situações de risco, uma vez que existe uma pequena chave para derrotar tais alienígenas. Ao ver o roteiro trabalhar o conflito da quebra de regras, tanto involuntária quanto proposital, a trama ganha um tom ainda mais aterrorizante, fazendo o público ficar mais angustiado durante 1h37 minutos, ou seja, é possível o espectador se assustar duas vezes mais nesta sequência comparado ao primeiro longa.
Para quem não se lembra, as regras são essas: Primeiro: não faça barulho; Segundo: nunca saia do caminho; Terceiro: vermelho significa ‘corra!’. Se no primeiro contato com este universo pós-apocalíptico, o silêncio é a regra mais clara, neste segundo, o silêncio será quebrado em várias ocasiões para os personagens evoluírem na trama e encontrarem um novo caminho para a sobrevivência, além de conhecer outras pessoas que também lutam neste novo mundo.

Enquanto o silêncio continua sendo a peça-chave para que a trama sustente a atmosfera de suspense, Um Lugar Silencioso – Parte 2 permite mais diálogos desta vez para apresentar os novos personagens, estabelecer boas conexões a fim de que compreenda como está o mundo lá fora, não reduzindo a apenas aos alienígenas, mas também a divisão entre pessoas boas e más. Quem já viu outras produções que se passam no mundo pós-apocalíptico, compreende que o instinto de sobrevivência pode despertar o melhor e pior lado do ser humano em nome de um bem maior. Na minha opinião, o filme não aprofunda tanto neste quesito, mas estabelece quem são essas pessoas, colocando os personagens principais em situações de perigo e salvação.
Diferente do primeiro filme, as situações de alívio são reduzidas, uma vez que o perigo se aproxima e o barulho se torna involuntário em algumas situações, enquanto em outras são provocadas por conta de decisões imprudentes. De exemplo, há duas sequências incríveis e muito angustiantes em que vemos os personagens principais divididos e colocados em grandes situações de risco, em que a câmera acompanha cada situação de forma paralela a fim de causar medo e sufoco no espectador diante do caos e se haverá uma solução positiva ou não.
Crítica – Invocação do Mal: A Ordem do Demônio
A trilha sonora continua excelente e a edição de som está impecável, tornando os jump scares ainda melhores e mais assustadores ao público, além de fazer o espectador ter a experiência de captar o silêncio da personagem Regan. Caso seja possível, recomendo que assista Um Lugar Silencioso – Parte 2 no cinema, justamente para a experiência com relação ao som ser melhor e ainda mais imersiva. Se não puder, sugiro que prepare a ambientação da casa, deixando o local mais escuro, um volume bom na TV (ou computador, celular) e com o maior silêncio possível para a experiência também ser positiva.
Elenco formidável

Além do roteiro, das técnicas e dos elementos, o filme se engrandece com o seu elenco formidável e as atuações evolutivas. Emily Blunt continua excelente como Evelyn que reforça ainda mais o papel de mãe e protetora, agora com o obstáculo de proteger não só Regan e Marcus, mas também o recém-nascido (já que vimos sua gravidez no primeiro filme e o grande perigo que ela correu). Mesmo que o medo ainda fale mais alto, a personagem está mais confiante e corajosa em nome do amor aos filhos.
O ator Cillian Murphy é uma ótima adição ao filme e faz uma espécie de substituição do personagem Lee, interpretado por Krasinski. O personagem Emmett tem grandes traumas do passado e, por conta disso, não espera por nada lá fora, além de perigo e medo dos alienígenas e das pessoas. Ele mostra receio em querer ajudar Evelyn e os filhos, mas é a conexão com a Regan que o faz crescer na trama e a criar coragem para tomar decisões que, antes, jamais seriam tomadas por ele.

Desta vez, quem rouba as cenas em Um Lugar Silencioso – Parte 2 são os filhos, especialmente Regan. A atriz Millicent Simmonds entrega uma ótima atuação em que vemos Regan evoluir na trama, passando de garota revoltada e rebelde para uma garota corajosa, ousada e altruísta para proteger a família e honrar tudo o que pai fez por eles até a sua morte. Aliás, a figura paterna é um ponto sensível e importante para mover Regan e a parceria com Emmett reforça positivamente as ações da garota.
O ator Noah Jupe não fica para trás e entrega uma boa performance também, reforçando seu personagem ainda aterrorizado por tudo o que viu e viveu e com o medo de aprender as técnicas de sobrevivência. No entanto, Marcus surpreende ao enfrentar tais obstáculos, mesmo colocando ele e os demais personagens em grandes situações de risco por conta de decisões imprudentes, mas que, no final das contas, o garoto se sobressai e entrega cenas surpreendentes e heroicas.
O ator Djimon Houson faz uma pequena e pontual participação no filme, acrescentando um plot em um momento específico da trama.
Os monstros alienígenas continuam assustadores e medonhos, enfatizando seus pontos fortes enquanto os fracos são explorados pelos personagens. Eles continuam com o formato de uma aranha ao caminhar, com patas enormes e afiadas. Possuem uma cabeça grande que, ao abrir, revela-se a forma de uma flor com dentes afiados. Como disse na crítica do primeiro filme, tais monstros lembram muito o Demagorgon da série Stranger Things.
Considerações finais
Novamente temos um final aberto, criando alívio e esperança tanto para os personagens quanto para o público, além da possibilidade de termos uma nova sequência para, de fato, entregar um desfecho para a família Abbott e uma luz no fim do túnel a este universo pós-apocalíptico.
Um Lugar Silencioso – Parte 2 entrega uma sequência de qualidade cuja trama coloca os personagens em situações de perigo muito maiores, explora os jumps scares com eficiência, entrega uma edição de som formidável e quebra as regras com maestria para que a história flua e cresça positivamente diante dos conflitos provocados. A atmosfera de suspense permanece e faz o público ficar, mais uma vez, angustiado e impactado com a trama.
Se você gostou do primeiro filme, com certeza o segundo filme irá agradar muito.
Ficha Técnica
Um Lugar Silencioso – Parte 2
Direção: John Krasinski
Elenco: Emily Blunt, John Krasinski, Millicent Simmonds, Noah Jupe, Cillian Murphy, Djimon Houson, Okieriete Onaodowan, Zachary Golinger, Scoot McNairy
Duração: 1h37 min
Nota: 9,5