Thunderbolts finaliza a fase 5 do MCU no cinema (ainda tem a série Ironheart do Disney+) e posso dizer que traz o respiro que tanto a Marvel precisava, depois uma temporada a trancos e barrancos da Saga do Multiverso. O longa faz o espectador se importar com os personagens, mergulhando em uma jornada de autoconhecimento, conflitos e sentimentos, construindo um novo grupo que tem tudo para fazer a diferença no futuro.
Aqui, a importância se dá para estes anti-heróis, uma vez que a missão ou obstáculos servem de degraus para torná-los em potências essenciais daqui para frente. Os desajustados da Marvel chegam para ajustar os trilhos deste multiverso, criando uma ponta de esperança para algo bom que está por vir na próxima fase.
******CONTÊM SPOILERS******
Com direção de Jake Schreier, Thunderbolts reúne personagens desajustados do MCU. Assim, se você acompanhou todas as produções, até agora, saberá quem é cada um. A trama se passa depois dos eventos de Capitão América: Admirável Mundo Novo, com a tentativa de impeachment de Valentina Allegra de Fontaine, que não só recruta figuras poderosas para uma equipe secreta, como também planeja criar uma versão melhorada de um herói. Para isso, seu laboratório faz testes com cobaias humanas até encontrar aquele apto para o cargo.
Até o momento, o grupo reúne Yelena Belova e John Walker, que se encontram também com Fantasma/Ava Star e Treinadora/Antonia Dreykov. Tal reunião não é coincidência e a missão que agrupa os quatro é justamente para eliminá-los, afinal, os recrutados de Valentina são a ponta solta de seu projeto que não pode ser descoberto.
Com as segundas intenções de Valentina reveladas, Guardião Vermelho/Alexei se junta à filha, enquanto Bucky Barnes acompanha este grupo com o objetivo de derrubá-los. Mas Bucky descobre que eles não são os errados da história, apenas uma peça usada neste jogo.

O maior acerto de Thunderbolts é colocar os personagens em primeiro lugar e fazer com que o espectador os conheça com mais profundidade, a razão para estarem naquela situação, o que os move e o que impede de seguir em frente. Por mais que exista uma missão, uma jornada a ser seguida, isto é colocado como pano de fundo, enquanto os conflitos internos dos protagonistas comandam a história. Tal fórmula do roteiro é o que fez Guardiões da Galáxia ser um sucesso e Thunderbolts segue pelo mesmo caminho.
Crítica – Capitão América: Admirável Mundo Novo
Cada personagem tem uma motivação fundamental para estar na posição que se encontra e, assim, eliminar os resquícios do passado e recomeçar de alguma forma, o que não é nada fácil.
A atriz Florence Pugh retorna ao MCU como Yelena Belova, apresentada em Viúva Negra e com participação em Gavião Arqueiro. A sua motivação para ingressar neste grupo secreto se dá em não se moldar totalmente pelo que se submeteu na Sala Vermelha, o que a tornou em uma viúva negra. Yelena é a líder e protagonista principal de Thunderbolts, a quem carrega o maior peso sentimental do filme, tornando-se o fio condutor da história. Particularmente, aprecio esta personagem desde o início, um grande acerto na escalação da Marvel.
David Harbour volta como Guardião Vermelho e, apesar do tom cômico de seu personagem, Alexei nutre o fracasso como herói e pai, o que faz ser esquecido, até este momento.
É bom também ver o retorno de Wyatt Russell como John Walker/Agente Americano, especialmente ao lidar com as consequências de seus atos vistos em Falcão e o Soldado Invernal e tentativa falha de ser o Capitão América antes de Sam tomar posse do escudo oficialmente. Para John, fazer parte deste grupo secreto é a chance de retomar o que começou, com a liberdade de usar métodos brutais, fugindo de restrições éticas.

Pode ser que alguns não curtam, mas Thunderbolts acerta ao trazer de volta Ava/Fantasma, interpretada por Hannah-John Kamen, muito mais bem aproveitada neste filme do que em Homem-Formiga e a Vespa, na minha opinião. Ela aceita a proposta de Valentina com a chance de ter sua vida normal de volta, mas o que era para ser um recomeço se torna uma armadilha tanto para ela quanto aos demais, cabendo a se juntar a este grupo para resolver tal situação.
De todos, o único que apresenta a cabeça mais centrada na história é Bucky Barnes (Sebastian Stan), uma vez que a terapia feita lá na série ajudou bastante este personagem. Mas isso não significa que ele esteja 100% bem. Após os eventos traumáticos do estalo de Thanos, seu passado sombrio e a oficialização do novo Capitão América, Barnes ingressa a política como forma de contribuir através da lei. E é por este meio que ele descobre os segredos e as intenções de Valentina, se aproximando ao grupo secreto, uma vez que todos têm um objetivo em comum.

E o que torna Thunderbolts tão interessante de acompanhar? Mais do que uma missão a ser realizada ou um mal a ser contido, a história é desenhada por meio da complexidade de seus personagens, que apresentam sentimentos e dores em comum.
O passado sombrio levou a dores e perdas que fizeram com que cada um enfrentasse o maior medo do ser humano: a solidão. Tal estado é o resultado do medo e fracasso em ignorar uma dor, ao invés de encará-lo para seguir em frente. E o filme consegue transpor muito bem estas condições psicológicas tanto pelas palavras, expressões e atitudes, quanto ao levar o público para dentro de uma memória dolorosa destes personagens, como de Yelena, John Walker e Valentina.
Elemento surpresa

Outro acerto de Thunderbolts é introduzir o personagem Bob, um elemento surpresa grato de se ver na tela. Lewis Pullman é Robert Reynolds, uma das cobaias do experimento arquitetado por Valentina, uma surpresa a todos ao se tornar o único sucesso desta experiência.
Bob é introduzido de forma boba e cômica, não sendo levado a sério boa parte do tempo, colocando-o na posição de fardo. No entanto, é com Yelena que a conexão se forma, especialmente por ambos compartilharem da mesma solidão que sentem.
Enquanto os demais tentam correr do passado, são as dores, o isolamento, a falta de afeto e o fracasso inflado alimentam o vazio profundo de Bob, que o torna em um ser poderoso, mas também de alta periculosidade. Bob é Sentinela, cujo lado sombrio em sua personalidade é conhecido como O Vácuo, capaz de atos de maldade.
Sentinela é altamente poderoso, o que faz os demais personagens ficarem no chinelo em uma sequência de luta no prédio dos Vingadores deliciosa e um pouco assustadora de assistir, afinal, Sentinela nem precisa se mexer muito para derrubar qualquer um que esteja a sua frente.

É neste momento que Thunderbolts sai de um filme de herói para uma grande ‘sessão de terapia’, o que soa uma brincadeira, mas não é e ainda é positivo de assistir. A história deixa claro que o maior inimigo que todos têm contra eles mesmos é a solidão e a dor alimentados dentro si, muito bem retratado pelo O Vácuo. A sequência do grupo imersos dentro do Vácuo de Bob é metafórico e excelente, fazendo o público compreender de vez a proposta do filme.
Aliás, outro momento que cutuca nosso lado nostálgico é ver os Thunderbolts reunidos no centro de Nova York, relembrando os velhos e bons tempos do primeiro grupo Vingadores.
Claro que não posso deixar de falar de Julia Louis-Dreyfus como Valentina, a grande responsável por criar tanto o grupo quanto o grato elemento surpresa. A atriz dá um ar sarcástico e debochado à sua personagem, que não tem medo algum dos próximos passos que vai dar. Ela é inteligente, esperta e perspicaz, sempre a dois passos a frente para impedir que alguém a alcance. Não dá para negar que ela é genial nos momentos cruciais, especialmente no final.
Considerações finais

A reta final de Thunderbolts culmina no ótimo ápice com Nova York como cenário principal, em que vemos o grupo salvar os cidadãos, enquanto enfrentam os próprios sentimentos, assim como Bob e sua personalidade sombria complexa.
O desfecho é bom, pois em uma ótima jogada política para fugir da prisão e do impeachment, Valentina apresenta para mídia o novo grupo de heróis. É por isso que o título Thunderbolts recebe um ‘asterisco’, já que, ao final, os personagens são introduzidos como os novos Vingadores que irá ocupar o tradicional prédio em NY, em fase de reconstrução.
Thunderbolts encerra bem a fase 5 capenga do MCU no cinema, com uma história que te prende pela complexidade sentimental, fazendo o público se importar com personagens desajustados que encontram o seu lugar. Tanto a Marvel quanto os fãs ganham um alívio com uma produção boa, pé no chão e sem tantos exageros nos efeitos especiais.
Cenas pós-créditos

Thunderbolts contêm duas cenas pós-créditos, sendo a segunda mais importante e instigante. A primeira cena é apenas uma piada, com Guardião Vermelho abordando uma moça no supermercado e induzindo ela a comprar o cereal dos novos Vingadores.
Já a segunda cena revela que 14 meses se passaram desde que o grupo fora apresentado como os novos Vingadores. Sam Wilson/Capitão América não aceitou tal decisão, formando o seu próprio grupo de Vingadores. E isso faz com que Sam e Bucky se distanciem após tal discussão acirrada.
No entanto, o grupo recebe o alerta de um objeto identificado que adentrou em seu universo. E trata-se da nave do Quarteto Fantástico, fazendo ligação ao filme que estreia em julho e abrirá a fase 6 do MCU no cinema.
Mas, o que esta cena da nave do quarteto pode ser? Se for o momento em que eles ‘esticam os limites do espaço’, como o próprio Reed fala, indo parar em outro universo ao ponto de transformá-los, é o gatilho certo para o que veremos no filme.
Mas se essa cena tiver outra intenção, como o quarteto já chegando no universo dos Vingadores, talvez tenha sido um grande spoiler. Se for isso, esta cena funcionaria melhor como cena pós-crédito de Quarteto Fantástico. Mas acredito que seja a primeira opção.
Ficha Técnica
Thunderbolts
Direção: Jake Schreier
Elenco: Florence Pugh, Sebastian Stan, David Harbour, Wyatt Russell, Olga Kurylenko, Hannah John-Kamen, Julia Louis-Dreyfus, Lewis Pullman, Geraldine Viswanathan, Violet McGraw, Wendell Pierce e Joshua Mikel.
Duração: 2h06min
Nota: 3,8/4,0