A fase 6 do MCU é iniciada com a apresentação da família de sucesso da Marvel em Quarteto Fantástico: Primeiros Passos, um filme que foge dos padrões clássicos dos filmes de herói, mesmo que a ação esteja presente. O longa acerta em uma trama simples cujo foco é o drama familiar, bem orquestrado pelo bom elenco e seus antagonistas que não ficam a desejar.
Os complementos reforçam a base estrutural da história, desde estética, efeitos até trilha sonora. No entanto, o filme não foge de problemas e apresenta ressalvas no que poderia ter sido mais desenvolvido ou sólido. Ainda assim, o novo Quarteto Fantástico tem um saldo positivo e o espectador sai pleno pelo o que viu e ainda encaminhado para o que o futuro reserva no MCU.
Com direção de Matt Shakman, Quarteto Fantástico: Primeiros Passos não se apoia em contar novamente a história de origem desta família, ciente de que o público já tenha conhecimento sobre isso, uma vez que esta não é a primeira adaptação. No entanto, o filme relembra brevemente a missão malsucedida que fez Reed Richard, Sue Storm, Johnny Storm e Ben Grimm serem atingidos por raios cósmicos e terem seus DNA alterados para sempre, levando-os a adquirir habilidades extraordinárias: elasticidade, invisibilidade, controle do fogo e força sobre-humana.
E com isso, Quarteto Fantástico se torna no símbolo de família e heroísmo para cidade, intitulados como protetores da Terra, até que a chegada da Surfista Prateada e o anúncio do fim do planeta, a ser devorado por Galactus, coloca o status dos heróis na berlinda, especialmente quando tal ameaça atinge o mais íntimo desta família.

Assim, o primeiro ponto positivo é que o filme não ‘perde tempo’ em contar como tudo começou novamente e já coloca o espectador diretamente no centro da ação, com o Quarteto Fantástico já consolidado como heróis. A engrenagem começa com o anúncio da gravidez de Sue e como a chegada do bebê altera drasticamente a estrutura familiar e a rotina heroica de cada integrante, cujo fio condutor deste ponto é Reed e Sue, que se preparam para serem pais, enquanto Reed demonstra mais preocupação entre os deveres como herói e pai.
E sim, a gravidez e a chegada de Franklin não é algo aleatório ou apenas um complemento, pelo contrário, o pequeno personagem é o motor que movimenta a história, conectando heróis e antagonistas para o centro do conflito. Franklin é fundamental não só para o desenvolvimento deste filme, como também é o gatilho para o futuro que vem aí.
Ao ver que o foco de Quarteto Fantástico: Primeiros Passos é o drama familiar e a ficção científica, o filme foge da fórmula tradicional dos filmes de heróis ao desenvolver a problemática em torno do significado de família – que é a alma da trama – entre os protagonistas e a Terra, que o Quarteto Fantástico sempre irá proteger.
Por um lado, isso traz um diferencial positivo ao filme, que se inclina mais no drama, nas explicações científicas e no conflito interno entre família e heroísmo, do que somente na ação constante. Para quem gosta e está acostumado com os demais filmes da Marvel, talvez esta nova vertente divida opiniões, mas sinceramente, é algo a se gostar.
Outro ponto interessante, mas que ao mesmo tempo fica a desejar, é o desenvolvimento conflitual, cujo status dos heróis entra em declínio quando a ameaça os faz ficar divididos entre defender sua família e a Terra, uma vez que o que está em jogo é vulnerável demais aos heróis.

Neste momento, o filme poderia ter ousado mais ao inflar o ódio e a decepção das pessoas com os heróis, enquanto que a imagem do quarteto é colocada à prova. Infelizmente, o filme apresenta resoluções rápidas a fim de que a narrativa continue seguindo, mas poderia ter criado um impasse mais forte justamente para deixar o espectador apreensivo diante da próxima decisão que os personagens vão tomar.
No geral, Quarteto Fantástico: Primeiros Passos apresenta boas ideias e engrenagens para o próximo acontecimento, mas não se aprofunda em momentos que mereciam mais ousadia que geram aquela conexão forte com o espectador. No fim, a história é boa, mas fica em uma camada levemente superficial que não fora aproveitado. Mas isso não significa que o filme seja ruim, porque não é.
Em compensação, Quarteto Fantástico acerta nos complementos técnicos que moldam a história e ajudam a prender a atenção do espectador como a estética retrô futurista de Nova York, inspirado nos anos 1960, mesmo que o filme não estipule a época em que se passa; o CGI bem feito, seja nas sequências de ação e lutas, os momentos em que usam seus poderes ou em torno da Surfista Prateada e do Galactus; e a trilha sonora que faz o espectador mergulhar de vez neste universo. Prepare-se para ficar com a música ‘Fantastic Four’ grudado na cabeça, porque você vai sair do cinema cantando.
E claro que o filme faz uma grande homenagem à Jack Kirby, co-criador desta equipe e deste universo, ao lado de Stan Lee.
Família Fantástica

Não dá para falar de Quarteto Fantástico: Primeiros Passos sem falar do elenco, que traz atuações ótimas e vertentes diferentes de seus personagens, comparados aos outros filmes lançados.
A maior ansiedade era ver Pedro Pascal como Reed Richard/Sr. Fantástico e ele entrega um lado que não se espera tanto, mas faz jus com a proposta do filme. Aqui, vemos muito mais a versão Reed Richards cientista do que, de fato, a versão Sr. Fantástico em ação. Reed demonstra mais preocupação, inseguranças entre paternidade, líder e herói, enquanto o seu cérebro é a sua arma principal. A elasticidade é usada em momentos em que a ação exige do personagem, mas é a inteligência do personagem que arquiteta e move o plano para salvar a Terra e sua família.
Talvez nem todos irão curtir isso, assim como o foco no drama familiar, mas sinceramente eu gostei. Claro que, apesar de Pedro Pascal estar bem no papel, há outros que conseguem se destacar mais do que ele.

E quem se destaca merecidamente é a atriz Vanessa Kirby como Sue Storm, uma grata surpresa de se ver na tela. Sue é heroína para sua cidade, mas também para sua família. E quando se trata em proteger o seu filho, a personagem sai da zona de conforto e desafia limites que a coloca em risco, o que é formidável de assistir. Sue é a coragem do filme, o que tira a história do superficial. A sequência do parto na nave e sem gravidade e a cena final da briga com Galactus são os auges da personagem.
Quem também rouba a cena e surpreende é Johnny Storm, interpretado por Joseph Quinn, que apresenta um personagem mais equilibrado, se comparado com o personagem interpretado por Chris Evans, que é mais provocante. Neste novo Quarteto Fantástico, Johnny é conhecido por ser mulherengo e conquistador, além de sempre ressaltar seu lado sarcástico, piadista e provocador.
No entanto, o fator surpresa está na sua inteligência e no seu altruísmo, seja para desvendar o mistério em torno da Surfista Prateada ou nos sacrifícios que ele faria para proteger sua família. Além disso, o lado cômico fica por conta dele, ao lado de Sue e Ben.

Já o Ben Grimm de Ebon Moss-Bachrach é um personagem carismático, tem boa química com os demais integrantes, entrega boas cenas de ação, além do lado cômico provocado por Johnny. Mas o filme perde a oportunidade de se aprofundar mais no lado dramático do Ben, deixando o desenvolvimento superficial e o personagem em segundo plano. O possível arco amoroso com a Rachel (Natasha Lyonne) e a demonstração de seus sentimentos em como lida com a total transformação após o acidente são apontados, mas não explorados, deixando a sensação do ‘vem aí’, mas não vem. Ainda assim, o personagem consegue conquistar pelo carisma, fofura e o heroísmo.
No antagonismo, a boa surpresa é a Surfista Prateada (Julia Garner), que é introduzida de forma enigmática, tem uma presença que sabe amedrontar na medida certa e surpreende quando o seu passado é revelado, explicando como e por que ela se tornou servidora de Galactus. Há duas sequências da surfista que são repletas de ação, criando uma boa atmosfera de suspense e aflição.
Crítica: Jurassic World – Recomeço
Já Galactus (Ralph Ineson) é uma presença levemente assustadora, cujos efeitos especiais ajudam a criar uma atmosfera de periculosidade satisfatória em torno do personagem. Ele não só ameaça, como também age e faz os heróis trabalharem para salvar o mundo.
Considerações finais

A reta final de Quarteto Fantástico: Primeiros Passos traz o auge do embate entre os heróis e o vilão, criando suspense e medo do que pode vir acontecer, além da emoção que sabe abraçar o público. Além disso, há duas cenas pós-créditos, sendo a primeira o gatilho perfeito para o futuro do MCU. É sensacional.
Quarteto Fantástico: Primeiros Passos não é perfeito, mas é bom. Acerta no drama familiar simples, elenco e personagens, efeitos especiais, estética e trilha sonora. Consegue abraçar o público com satisfação. Ainda assim, apresenta algumas ressalvas como a falta de um desenvolvimento melhor de certos personagens e um aprofundamento mais conciso que deixa a trama mais conectada.
No fim das contas, Quarteto Fantástico: Primeiros Passos inicia a fase 6 do MCU com o pé direito e promete um futuro bem interessante para este universo, especialmente com o filme Vingadores: Doomsday.
Cenas pós-créditos (com spoilers)
Quarteto Fantástico: Primeiros Passos tem duas cenas pós-créditos e a primeira deixa o público eufórico. Na cena, vemos que se passaram quatro anos e Franklin está maiorzinho, enquanto Sue lhe conta uma história. Enquanto ela pede outro livro para o Herbie e deixa o menino sozinho por segundos, ela sente uma presença estranha por perto. E ao retornar, nos deparamos com o Doutor Destino perto de Franklin, mas seu rosto não é revelado. No entanto, já notamos que ele também terá interesse em Franklin, assim como Galactus teve.
Temos a introdução do novo vilão do MCU, que será interpretado por Robert Downey Jr, que veremos em Vingadores: Doomsday, que estreia em 2026 nos cinemas, e Vingadores: Guerras Secretas, que estreia em 2027. A cena é finalizada afirmando que o Quarteto Fantástico retornará novo filme Vingadores.
A segunda cena pós-créditos é mais simples, com a abertura estilo retrô da animação Quarteto Fantástico, que lembra a série de 1967, fazendo uma homenagem. A cena mostra os heróis lutando com diversos vilões.
Ficha Técnica
Quarteto Fantástico: Primeiros Passos
Direção: Matt Shakman
Elenco: Pedro Pascal, Vanessa Kirby, Joseph Quinn, Ebon Moss-Bachrach, Julia Garner, Ralph Ineson, Natasha Lyonne, Paul Walter Hauser, Mark Gatiss, Sarah Niles, Matthew Wood e Ada Scott.
Duração: 1h55min
Nota: 3,5/5,0