O que você faria diante de um assassinato não solucionado que afetou pessoas muito próximas, inclusive você? Essa foi a pergunta que me fiz ao sair do cinema depois de assistir Olhos da Justiça (Secret In Their Eyes), do diretor e roteirista Billy Ray, conhecido por seus roteiros de sucesso como Jogos Vorazes e Capitão Phillips. A trama retrata o cotidiano dos investigadores do FBI, Ray (Chiwetel Ejiofor), Jess (Julia Roberts) e da procuradora e elegante Claire (Nicole Kidman). A vida deles é abalada após o assassinato brutal da filha de Jess, principalmente quando o caso não é totalmente solucionado. Com a necessidade e o dever de preencher essa lacuna vazia que o seguiu por tanto tempo, Ray retorna ao FBI 13 anos depois, disposto a reencontrar o assassino para, finalmente, fazer justiça.
Olhos da Justiça é uma remake do sucesso argentino O Segredo dos Seus Olhos, do diretor Juan José Campanella, que ganhou o Oscar (2010) de melhor filme estrangeiro. Gostaria de deixar claro que não assisti a esse filme, por isso, farei pequenas comparações entre as duas tramas.
A narrativa de Olhos da Justiça é dividida entre o passado e o presente em um intervalo de 13 anos. Aqui, o espectador acompanha o que aconteceu com cada personagem e entende com perfeição os fatos que levaram ao momento atual. Enquanto o filme de Juan José Campanella se passa na ditadura argentina, Billy Ray dá como pano de fundo a preocupação e o medo dos ataques terroristas após a tragédia ocorrida no dia 11 de setembro de 2001. Em nenhum momento os diálogos enfraquecem e a narrativa se torna cansativa. Muito pelo contrário. Ao acompanhar os dois tempos em que se passa o filme, a atenção do público se prende com as tensões para saber, de fato, o que aconteceu e o que ainda está prestes a acontecer.
O principal suspeito dessa tragédia é Marzin (Joe Cole), um informante da mesquita que ajuda o FBI a encontrar potenciais casos de terrorismo. Ray fica de mãos atadas, pois quer ajudar a amiga a capturar o assassino, mas é impedido pelo chefe Martin Morales (Alfred Molina) que acredita que o caso poderá atrapalhar a operação antiterrorismo. Esse vazio percorre Ray por longos 13 anos e o traz de volta quando ele acredita ter reencontrado Marzin.
O desenrolar da trama é uma espécie de quebra-cabeça e os diálogos ajudam a conectar as peças do passado e presente. Aqui, a atuação de cada ator teve grande destaque para deixar a história ainda mais instigante.
Os personagens
Julia Roberts, sem dúvida, está formidável. Sem se preocupar com a vaidade de sua personagem, a atriz retrata uma agente extremamente capacitada que vê sua vida mudar radicalmente após a morte da filha. Suas expressões faciais e seu olhar perdido e vazio retratam uma mãe desolada e sofrida, em que os anos deixaram cicatrizes profundas e bastante visíveis. As melhores cenas (como Jess abraçando a filha dentro da caçamba) e o desfecho surpreendente ficaram sob a responsabilidade da atriz, que realizou impecavelmente.
Chiwetel Ejiofor também não fica para trás. Os momentos de tensão, perseguição e uma pitada de humor no filme ficam por conta dele e de seu companheiro Bumpy (Dean Norris). Porém, duas coisas me incomodaram. A primeira é que gostaria de ter visto um pouco mais de sofrimento e angústia do personagem, assim como vi em Jess. Afinal, procurar um assassino durante 13 anos é uma tarefa árdua, complicada, que abriu feridas antigas. A segunda coisa foi o clima de romance entre ele e Claire. Em alguns momentos, as cenas de flerte se encaixaram perfeitamente na trama, mas em outras, achei desnecessário. Entendo que esses momentos ajudaram a aliviar a tensão que estava sendo desenrolada, mas quando se está muito envolvido no conflito, essa quebra pode prejudicar um pouco (pelo menos pra mim).
Dos três, a personagem de Nicole Kidman mostra que seguiu com sua vida nesse intervalo de tempo. Ela cresceu profissionalmente e, aparentemente, tem uma vida pessoal estável, mas que se desconstrói ao se envolver novamente com Ray. No começo, a personagem me irritou um pouco por não querer se envolver muito no assassinato, mas minha opinião mudou da água para o vinho, na cena em que ela interroga Marzin, no instante em que ela o pega olhando para os seus seios. A forma como ela usa as palavras para rebaixá-lo, deixa clara a sua posição em relação ao suspeito. Sem dúvida, Nicole Kidman protagonizou uma das melhores cenas do filme.
Por fim, não poderia deixar de lado o personagem de Joe Cole. No papel de assassino, Cole transborda frieza, ironia, desdém e deboche. Marzin tem a incrível capacidade de despertar raiva e irritação no espectador (pelo menos em mim foi assim), a ponto de até torcer por sua morte.
E a justiça?
O terceiro ato traz uma reviravolta que, no primeiro momento, deixa o espectador um pouco desmotivado e se perguntando: então é isso? Porém, a cena final surpreende a todos e questiona: você faria a mesma coisa? Qual o significado de justiça pra você?
Olhos da Justiça é um remake com pequenas mudanças que o diferencia de O Segredo dos Seus Olhos. É um thriller que apresenta uma narrativa não cronológica bem estruturada e desenvolvida que não dificulta no seu entendimento e prende a atenção de quem está assistindo. As cenas de tensões são bem interpretadas e a conexão dos personagens não fica a desejar, de um modo geral, mas pode incomodar em alguns momentos (como disse anteriormente).
Olhos da Justiça estreia hoje nos cinemas e é uma boa opção para o seu final de semana.
PS: Com certeza irei assistir O Segredo dos Seus Olhos. Pelo que eu li, o filme é três vezes melhor!
Ficha Técnica
Olhos da Justiça
Direção: Billy Ray
Elenco: Julia Roberts, Nicole Kidman, Chiwetel Ejiofor, Joe Cole, Alfred Molina, Dean Norris, Lyndon Smith, Don Harvey e Zoe Graham.
Duração: 1h51min
Nota: 7,9