Uma mulher. Uma espada. Um laço da verdade. Um escudo. Uma missão. Esses são os elementos essenciais que contam a história de origem de uma das heroínas mais fortes que os quadrinhos já inventaram. Uma mulher que me fez sentir orgulho de assistir a sua história no cinema, representando as mulheres-maravilha que lutam todos os dias com as armas que tem, sejam poucas ou muitas, para sobreviver e buscar a sua felicidade. Para alguns é só mais um filme de super-herói; para mim, é uma prova de que o cinema pode e é capaz de fazer uma história arrebatadora de uma mulher no papel principal. Sem preconceitos, vulgaridade ou desdéns. A história é leve, forte e segue um ritmo natural que muitas garotas vão se identificar.
Criada nos quadrinhos por William Moulton Marston e Harry G. Peter, Mulher-Maravilha chega aos cinemas pelas mãos de Patty Jenkins que une mitologia, guerra e leveza para contar a lenda de Diana, princesa de Themyscira, filha de Hipólita (Connie Nielsen), rainha das amazonas. Desde pequena, Diana foi treinada para se tornar uma guerreira invencível, porém ela nunca soube quem era de verdade. Quando o piloto Steve Trevor (Chris Pine) se acidenta e cai na isolada ilha paradisíaca, Diana se depara com o mundo real e descobre que uma guerra está se espalhando, o que a faz largar a família e o lar para acabar com todas essas lutas, vencer o vilão e restaurar a paz e o amor mundial. No entanto, é nesse embate que Diana descobre que ela é mais que uma amazona, uma mulher com poderes indestrutíveis e uma missão a se realizar na Terra.
Origem da Mulher-Maravilha
Patty Jenkins consegue colocar na tela a história de origem da Mulher-Maravilha de forma dinâmica, prática e detalhada, mas sem enrolar. As primeiras cenas mostram como foi o nascimento e a infância de Diana, o árduo treinamento da amazona até o instante de sua partida da ilha. Mesmo no presente, o filme resgata alguns flashbacks para dar um melhor entendimento sobre a origem da heroína. Por ser um filme sobre a mulher-maravilha, é imprescindível contar a sua origem que não cansa o público e ainda dá um gostinho de “quero mais”. As cenas das amazonas são poucas, mas são suficientes para encher os olhos do espectador a ponto de fazê-lo sair da sala com vontade de lutar.
Sem dúvida, o roteiro é equilibrado ao abraçar vários elementos como drama, romance, guerra, mitologia, alívio cômico e representatividade, de forma natural e progressiva sem um ofuscar o outro. O filme consegue balancear muito bem as piadas, que são jogadas nos momentos certos, sem quebrar o ritmo do drama ou de algum momento crucial do filme. Acredito que esse tenha sido um dos grandes medos dos espectadores, afinal, os filmes Batman vs Superman e Esquadrão Suicida apresentam falhas nesses quesitos. No entanto, a DC aprendeu com os erros e mostrou do que é capaz de fazer.
Há muitas cenas em slow motion durante as lutas, o que aumenta a euforia do público e impacta quando a ação explode na tela. É lindo ver Diana entrar no meio da guerra e lutar pela primeira vez contra os inimigos. A ação demora um pouco para acontecer, mas quando vem à tona, não tem como segurar o orgulho de estar presenciando esse momento no cinema.
Outro ponto positivo do filme são os cenários. A ilha de Themyscira ganha uma fotografia estonteante e uma paleta de cores vivas e fortes com azul, branco e verde. O ambiente se contrasta com uma Londres fria e sombria (preto, cinza e branco) que carrega nas costas o peso da guerra.
Representatividade sem forçar a barra
Como disse no começo do texto, o que vai chamar a atenção do público é a representatividade. Depois de tanto tempo, temos um filme solo de uma heroína e isso prova que o cinema é capaz de elaborar uma boa história em que o protagonista é uma mulher. A direção de Jenkins torna esse empoderamento leve e natural, sem forçar a barra ou desqualificar qualquer outro personagem. Por mais que Diana tenha o seu lado inocente, ela sabe revidar nas palavras, tem poderes e uma força surreal. Aceite esse fato e siga em frente. É maravilhoso vê-la lutar por amor, assim como também é lindo ver a construção da amazonas, com personalidades fortes. Elas são verdadeiras guerreiras e provam logo no primeiro embate. As cenas de luta são muito boas e o destaque vai para Robin Wright no papel de Antíope, treinadora das amazonas e irmã de Hipólita. Connie Nielsen não fica para trás e se mostra firme nas suas decisões como rainha de Themyscira. Lucy Davis, intérprete de Etta, secretária de Steve, tem poucas aparições, mas são suficientes para se destacar e ainda fazer o público rir.
Personagens
Sem dúvida, Gal Gadot é a escolha certa para interpretar a Mulher-Maravilha. Além da beleza natural, Gadot transmite a inocência de Diana sem diminuir a sua força e ainda traz um ritmo leve e cômico quando se trata de conhecer os homens e a essência humana que domina a guerra. Não veja a inocência da heroína como algo negativo, pois não é. A Mulher-Maravilha é assim, repleta de amor e que deseja restaurar o bem nos lugares contaminados pela maldade do homem que, um dia, foi espalhado por Ares, o Deus da Guerra, que faz parte do contexto mitológico da personagem.
Diferente dos heróis de outros filmes, que não aceitam a sua jornada logo de cara, Diana quer ser um heroína desde o começo e deseja realizar a sua missão. Além disso, a personagem representa muito bem o enaltecimento da mulher salvando um homem, algo que é tão difícil de ver já que os filmes sempre retratam o contrário.
Mesmo com uma heroína de grande peso ao seu lado, Chris Pine não fica ofuscado e ganha prestígio e valor na pele de Steve Trevor. O personagem aceita a força e o poder de Diana e usa isso a favor, colocando a heroína de frente para a sua missão e ajudando a estabelecer a paz. A química de Gadot e Pine é ótima e funciona o filme todo. Outro ponto positivo é o romance, que cresce naturalmente sem forçar a barra e, muito menos, sem se tornar o arco principal da trama.
Como sempre, todo herói precisa de um vilão e aqui, Diana enfrenta o general inimigo Ludendorff (Danny Huston) e a Dra. Maru (Elena Anaya), mais conhecida como a Dra. Veneno. Eles querem que a guerra continue, elaborando planos ambiciosos e armas tóxicas para eliminar todos de uma só vez. Além deles, claro que Diana precisa enfrentar o temido Ares, o inimigo que deu origem a todo esse mal. Mas não vou falar sobre ele para não dar spoilers. Assista e descubra.
Considerações finais
O terceiro ato traz o famoso embate final que todo filme de super-herói costuma ter, com lutas grandiosas e explosões que dominam a tela. É aqui que o plot twist acontece, mas para mim, não surpreende tanto. O que acontece é aceitável, mas não é aquela surpresa que vai deixar muitos de queixo caído. Há outras cenas que emocionam e farão os mais sensíveis chorar.
Depois de tanto tempo, Mulher-Maravilha chega para provar que o cinema é capaz de contar uma boa história cujo protagonista é uma mulher, carregada de mitologia, leveza, drama, romance e comédia, tudo na medida certa. Patty Jenkins fez um excelente trabalho, assim como todo o elenco. Posso dizer que depois de tanto tempo, a DC ganhou força e mostrou para o que veio. Espero que continue assim nos próximos filmes.
E aí, o que acharam do filme? Deixem nos comentários!
Ficha Técnica
Mulher-Maravilha
Direção: Patty Jenkins
Elenco: Gal Gadot, Chris Pine, Robin Wright, Connie Nielsen, Danny Huston, David Thewlis, Elena Anaya, Lucy Davis, Ewen Bremner e Said Taghmaoui.
Duração: 2h21min
Nota: 10
